Busca de ETs impulsiona pesquisa

Criado há dez anos, projeto para procurar vida alienígena já contribui em estudos sobre clima e novos remédios

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Por Carlos Orsi e Alexandre Gonçalves
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O programa SETI@home, que permite que voluntários de todo o mundo doem tempo ocioso de seus computadores para tentar identificar sinais de inteligência alienígena nos dados captados pelo radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, completou dez anos no dia 17 de maio, depois de processar cerca de 200 mil gigabytes. Conheça outros projetos do Boinc Ainda não descobriu nada sobre vida inteligente fora da Terra, mas hoje, graças a esse programa pioneiro, mesmo quem não liga para ETs pode ceder o computador como "voluntário" para mais de 80 outros projetos científicos, que vão desde a criação de um modelo matemático do clima de nosso planeta até a busca por moléculas capazes de curar doenças, passando pelo desenho de um mapa tridimensional da Via-Láctea. "O projeto original foi o mais simples possível", explica David Anderson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, um dos criadores do sistema. "O design tinha limitações importantes", diz. "Por exemplo, para adotar uma nova versão, era preciso que todos os usuários baixassem e instalassem um novo programa." Para superar essas dificuldades, em 2002, Anderson criou o Boinc (Berkeley Open Infrastructure for Network Computing ou Infraestrutura Aberta de Berkeley para Computação em Rede), que além de sofisticar o SETI@home, permitiu também a adesão de outros projetos científicos. A tarefa de fazer essas contas é distribuída pelo Boinc entre os computadores dos voluntários, via internet. As máquinas trabalham para a ciência enquanto não estão sendo usadas em outras tarefas ou de acordo com um rol de prioridades que o usuário pode ajustar. Quando um lote de cálculos é completado, o resultado da tarefa é transmitido de volta. Das dezenas de projetos que usam o Boinc atualmente, Anderson menciona como seus favoritos o Climatepredication.net, que roda sucessivas simulações do clima terrestre, com o objetivo de aperfeiçoá-las e melhorar sua capacidade de previsão; o Gpugrid.net que recria simulações realistas da interação entre átomos e moléculas; e o Rosetta@home, que tenta determinar a forma tridimensional de proteínas. Os dois últimos são pesquisa biomédica. Na lista de trabalhos científicos publicados com base no Boinc, o Climatepredication.net conta com dez artigos, incluindo dois na revista Nature. Rosetta@home e Gpugrid.net têm seis e cinco publicações, respectivamente. O veterano SETI@home produziu apenas um trabalho publicado, mas ainda é o que mais reúne voluntários. A adesão ao programa flutuou bastante, chegando a acumular mais de 5 milhões de usuários registrados em mais de 200 países. Hoje, são 140 mil participantes. No Brasil, o maior time de voluntários - o SetiBr - reúne 1.800 pessoas. O gerente de tecnologia da informação Presciliano dos Santos Neto, fundador do grupo, conta que já recebeu ligações de madrugada de usuários que não conseguiam processar os pacotes. "Se o dia tivesse 36 horas, deixaria meus computadores ligados todo esse tempo", afirma o professor universitário Paulo Máximo. Mesmo sendo o pai da busca distribuída por inteligência extraterrestre, Anderson é sóbrio em sua avaliação das chances de o computador de um dos voluntários do programa descobrir o primeiro contato com ETs. "No céu, há muito ruído, muito espaço e nenhum incentivo para uma civilização destinar energia em um grande farol de rádio", aponta o pesquisador. "O SETI@home é como uma loteria: chances pequenas, mas um enorme prêmio."

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