Brasileiros consomem poucos nutrientes básicos, revela estudo

Pesquisa nacional mostra que 99% da população com mais de 40 anos ingere baixa quantidade de vitaminas essenciais

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Por Ricardo Westin
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O prato de comida dos brasileiros contém pouquíssimos nutrientes. Segundo uma pesquisa realizada em todo o País e divulgada ontem, 99% da população consome certas vitaminas essenciais em quantidade insuficiente. É o caso das vitaminas D e E, encontradas naturalmente nos alimentos. A ausência desses dois nutrientes provoca problemas graves, como osteoporose, doenças cardiovasculares, diabete e câncer. Gráficos e mais detalhes O cálcio, essencial para os ossos, não está presente nas quantidades necessárias na alimentação de 90% dos brasileiros. A lista dos nutrientes em falta continua com a vitamina K (81%), a vitamina C (80%), o magnésio (80%) e a vitamina A (50%). O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e envolveu 2.420 pessoas com mais de 40 anos de todas as regiões do País e todas as classes sociais. Elas tiveram de dizer o que haviam comido nas 24 horas anteriores. "Foi uma fotografia do prato do brasileiro", diz o médico reumatologista da Unifesp Marcelo Pinheiro, um dos líderes do estudo. A pesquisa foi patrocinada pelo laboratório farmacêutico Wyeth, que produz suplementos de vitaminas e remédios para osteoporose. Os pesquisadores fizeram questão de esclarecer que a multinacional não teve interferência na elaboração do estudo nem na execução. MICRONUTRIENTES O consumo de nutrientes no Brasil não chega nem perto do sugerido internacionalmente. Recomenda-se, por exemplo, que um adulto consuma 1,2 mil miligramas de cálcio por dia. No País, o índice médio não passa dos 400 miligramas. No caso da vitamina D, o recomendado são 10 microgramas diários. Na maior parte do País, o consumo não passa de 1,9 micrograma. A exceção é a população do Norte - que ingere 2,3 microgramas -, possivelmente porque o peixe e a castanha fazem parte do cardápio regional. Como é calculado em miligramas e microgramas, esse tipo de nutriente é conhecido como micronutriente. "É o que chamamos de fome oculta. O indivíduo tem uma carência de vitaminas, mas não percebe. Isso provoca um controle metabólico enorme", diz Andréa Ramalho, pesquisadora e professora de Nutrição na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e consultora do Ministério da Saúde. Embora o estudo da USP e da Unifesp não tenha elencado quais são os alimentos mais comuns no prato do brasileiro, um dos grandes problemas é a quase ausência de frutas, verduras e legumes, importantes fontes de micronutrientes. "Muitas vezes as pessoas têm consciência de que precisam mudar seus hábitos alimentares, mas não sabem como", afirma João César Castro, endocrinologista e nutrólogo da Unifesp, que não participou da pesquisa. "Quando comem salada, é uma salada de alface e tomate. Não dá para ficar só nisso. O prato precisa ser variado", acrescenta a nutricionista Patrícia Genaro, da USP, uma das pesquisadoras do estudo divulgado ontem. NOVOS COSTUMES A professora Vera Ferreira Martins, de 57 anos, fazia parte da maioria. Até pouco tempo atrás, seu café da manhã se resumia a um café e um pão francês com manteiga. Matava com biscoitos a fome que aparecia antes do almoço. "Eu sentia que não comia direito", lembra. Sem saber exatamente o que mudar, no final do ano passado decidiu procurar a ajuda de um endocrinologista. A primeira constatação do médico foi que ela tinha tendência à osteoporose. Orientação: acrescentar cálcio à dieta. Vera agora toma um iogurte, um copo de leite desnatado e come queijo no café da manhã. Além disso, passou a incluir cereais e frutas no cardápio matinal. O almoço e o jantar foram alterados. No lugar dos biscoitos, os lanches entre as refeições são invariavelmente frutas. "Agora me sinto mais leve. Emagreci uns 5 quilos", afirma ela. "Mas muito de vez em quando saio com a família para comer uma pizza. Ninguém é de ferro, não é verdade?" Dicas Frutas e verduras: É preciso comer, no mínimo, quatro porções diárias de frutas, verduras e legumes, com a maior variedade possível desses alimentos Leite e derivados: Para proteger os ossos, a necessidade diária de cálcio pode ser suprida com 6 copos de leite ou com misturas da bebida, de queijo e de iogurte equivalentes a essa quantidade. O leite não deve ser consumido durante o almoço e o jantar porque atrapalha a absorção de vitaminas e minerais pelo organismo Pães: Carboidratos complexos (que vêm de grãos integrais, como o pão de centeio, a aveia e a granola) devem ser consumidos antes de momentos de maior atividade no dia, para obtenção de energia Carboidratos: Antes de dormir e quando há menos atividades, não se devem consumir carboidratos, mas preferencialmente proteínas de vegetais, peixes e azeites Cálcio: 90% das pessoas entrevistadas na pesquisa da USP e da Unifesp consomem pouco desse micronutriente, presente no leite e em seus derivados. Sua falta pode levar a problemas nos ossos, como osteopenia (baixa densidade mineral dos ossos, precursora da osteoporose) e osteoporose Vitamina A: 50% dos entrevistados disseram consumir pouco dessa vitamina, encontrada no bife de fígado, no leite e em seus derivados, na gema de ovo, nos vegetais escuros, na cenoura, na manga e no mamão. A ausência da vitamina pode levar a problemas na visão e do sistema imunológico e à formação de tecido gorduroso no corpo Vitamina C: 80% consomem pouco, o que pode levar a problemas no sistema imunológico. Está presente nas frutas em geral, no tomate e na couve-flor Vitamina D: 99% consomem quantidades insuficientes, podendo sofrer de problemas nos ossos. A vitamina pode ser adquirida com o banho de sol e a ingestão de peixes, leite e derivados Vitamina E: 99% disseram ingerir pouco. Está presente em cereais, nozes e amêndoas e previne doenças cardiovasculares, diabete e câncer Magnésio: É pouco consumido por 80% dos entrevistados. Está em legumes, cereais integrais e grãos. Evita problemas cardiovasculares Vitamina K: É pouco consumida por 81%. Previne problemas na coagulação e nos ossos e é encontrada em vegetais folhosos

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