Bispo que negou Holocausto terá de deixar a Argentina

Considerado persona non grata, ele tem 10 dias para sair senão será expulso; Vaticano não fala

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Por Ariel Palacios e BUENOS AIRES
Atualização:

O governo da presidente Cristina Kirchner anunciou ontem que, se o bispo inglês Richard Williamson não abandonar o país em dez dias, ele será expulso categoricamente da Argentina. Williamson, que afirmou não acreditar na existência de câmara de gás e campos de concentração nazista, é pivô de polêmica desde que foi reabilitado pelo papa Bento XVI (mais informações nesta pág.). Conheça a polêmica e o movimento conservador do qual o bispo faz parte O Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e o Racismo (Inadi) declarou Williamson persona non grata. Atualmente, o bispo mora no município de Moreno, na zona oeste da Grande Buenos Aires. O ministro do Interior, Florencio Randazzo, indicou haver indícios de irregularidades na documentação de residência do bispo. "Ele forjou repetidamente o verdadeiro motivo de sua permanência no país, já que declara ser um empregado administrativo da Associação Civil La Tradición, quando, na realidade, sua verdadeira atividade era a de sacerdote e diretor do seminário lefebvrista que a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X possui em Moreno", disse o ministro. O Vaticano não quis comentar o caso. "Sem comentários", se limitou a dizer o porta-voz Federico Lombardi. No início deste mês, o bispo britânico foi substituído do cargo de diretor do seminário de La Reja, próximo a Buenos Aires, por causa de sua negação do Holocausto. Ele estava no cargo desde 2003. Segundo o comunicado do governo divulgado ontem, Williamson "agride com suas declarações a sociedade argentina, o povo judeu e toda a humanidade, pretendendo negar uma comprovada verdade histórica". Nas últimas semanas, Williamson reafirmou suas ideias em duas ocasiões - apesar de ter recebido uma reprimenda do papa Bento XVI e uma chance para se retratar "de forma pública e inequívoca". Em entrevista, ele disse que não se retrataria porque precisava estudar as provas históricas. Segundo o bispo, as câmaras de gás foram utilizadas para "remover os piolhos dos judeus", e não para assassiná-los. O bispo também descartava os números históricos de 6 milhões de judeus mortos pelo regime nazista, indicando que, "no máximo, morreram 200 mil". Representante na América do Sul da Fraternidade Sacerdotal S. Pio X (corrente tradicionalista da Igreja Católica fundada pelo arcebispo dissidente francês Marcel Lefebvre que defende os ritos pré-Concílio Vaticano II), Williamson mora desde 2003 na Argentina. No país, a comunidade lefebvrista teve grande apoio para instalar-se na época da ditadura (1976-83). "Williamson ofende não somente a comunidade judaica, mas todos os argentinos com essa ideia de que o Holocausto não ocorreu", afirmou Aldo Donzis, presidente da Delegação das Associações Israelitas Argentinas (DAIA). No país, o bispo, além de dedicar-se à realização de missas em latim, escrevia com frequência em seu blog, o Dinoscopus, no qual defendia suas ideias. Na internet, orgulha-se de seu pensamento à moda antiga e ostenta uma caricatura de si próprio na qual aparece como dinossauro com paramento de bispo. SAIBA MAIS Fraternidade: Em 1970, o bispo francês d. Marcel Lefebvre fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, de caráter tradicionalista Cisma: Em 1988, d. Lefebvre ordenou quatro bispos sem autorização do Vaticano - entre eles, o inglês Richard Williamson. O ato trouxe consigo a excomunhão automática, declarada pelo papa João Paulo II dois dias depois Perdão: Esforços de diálogo que começaram no pontificado de João Paulo II culminaram na revogação das excomunhões por Bento XVI, no mês passado, como primeiro passo para a reconciliação Polêmica: Dias antes do perdão, Williamson declarou não acreditar nas câmaras de gás e estimou entre 200 mil e 300 mil o número de judeus mortos sob o nazismo. Houve uma onda de protestos no mundo. Bento XVI e o superior-geral da fraternidade, Bernard Fellay, condenaram as declarações

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