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Anvisa permitirá medir a pressão na farmácia e resolução recebe críticas

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

A Sociedade Brasileira de Cardiologia reagiu indignada a uma proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que permite farmacêuticos medir a pressão arterial de seus clientes. A prática - atualmente proibida por lei - integra uma resolução da Anvisa, em fase de consulta pública, que regula o funcionamento de farmácias e drogarias. A resolução traz exigências para impedir uma série de abusos, como a venda de carvão ou ração animal no mesmo local onde são oferecidos remédios. Mas, ao mesmo tempo, permite que farmacêuticos se responsabilizem por alguns procedimentos, incluindo a medição da pressão arterial. Algo que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, é atribuição exclusiva de médicos. A Anvisa deve permitir, também, que farmacêuticos possam fazer testes rápidos de glicose, pequenos curativos, inalação e medir temperatura dos clientes. A mudança prevista segue a filosofia de que farmácia deve ser local de promoção à saúde, não apenas ponto de venda de medicamentos. Uma tese defendida pelo Conselho Federal de Farmacêuticos e pelo Ministério da Saúde. Mas, dentro da própria Anvisa, há quem considere que tais serviços não combinam com farmácia. O texto da resolução não foi aprovado por dois de seus quatro diretores. Seu formato foi mantido porque o diretor presidente da agência, Dirceu Raposo de Mello, tem poder de desempate. EMPURROTERAPIA O diretor Cláudio Maierovitch é contrário às novas atribuições para o farmacêutico. Por princípio, diz, o diagnóstico não pode ser feito no mesmo local onde o remédio é vendido. Para ele, o maior problema é a medição da pressão arterial. "Uma única medição não é suficiente para dizer se a pessoa é ou não hipertensa. "Se o cliente ouve do farmacêutico que sua pressão é alta, há risco de ele se declarar hipertenso e tomar remédios sem necessidade." Uma brecha, completa, para a prática da "empurroterapia", estratégia usada por maus profissionais para incentivar a compra de medicamentos que lhes rendam gratificações. O diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Washington Barbosa Araújo, tem opinião semelhante. Araújo afirma que a sociedade já prepara reação contrária à proposta, mas somente sobre pressão arterial. Os demais procedimentos poderiam ser realizados na farmácia, porque não são considerados ato médico. "A medição na farmácia é meio passo para uma prescrição indevida ou a mudança de comportamento do paciente", diz. Para o diretor substituto do departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, José Miguel do Nascimento Júnior, a medição da pressão arterial pode ser útil à população. "A resolução exige que o serviço na farmácia seja de qualidade", observa. A proximidade das farmácias, afirma, pode ser de grande ajuda a públicos específicos. Como idosos. "Eles mediriam a pressão nas farmácias e saberiam se remédios em uso estão adequados. Facilitaria o controle."

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