50% dos cadeirantes têm dores freqüentes

Dado indica necessidade de adaptar cadeiras de rodas aos usuários

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Por Fabiane Leite
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Depois do sofrimento e limitações causadas pela perda de movimentos, portadores de lesões medulares, como a paraplegia (perda da função motora das pernas), sofrem novamente: são dores freqüentes nas mãos, pulsos, cotovelos, decorrentes do uso de cadeiras de rodas inadequadas ou da falta de orientação para utilizarem o equipamento. O alerta foi realizado pela fisioterapeuta norte-americana Kendra Bertz durante o 2º Simpósio Brasileiro de Adequação Postural em Cadeira de Rodas, realizado na última semana de agosto em São Paulo e organizado pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e por uma fabricante de cadeira de rodas. "Cerca de metade dos que usam cadeira de rodas tem dores nos braços", destacou a fisioterapeuta, que citou dados compilados ao longo de nove anos por um painel de especialistas e entidades de usuários financiados pela organização Veteranos Paralisados da América, que nos EUA dá suporte a pessoas que tiveram lesões medulares ao lutar em guerras. O trabalho reuniu mais de cem estudos experimentais, de observação e revisões de literatura para organizar um guia de prevenção contra problemas nos membros superiores após as lesões medulares, disponível no site www.pva.org. Segundo Kendra, que trabalha para o governo norte-americano, o uso contínuo e inadequado do equipamento afeta a qualidade de vida, da respiração à independência para realizar tarefas, o que demonstra a necessidade de que os cadeirantes levem para casa a cadeira mais adequada às suas necessidades, ou seja: aquela que garante estabilidade do tronco e pélvis, com almofadas que balanceiem adequadamente a pressão do corpo para evitar feridas e que garantam movimentos suaves e não lesionem as articulações. "Imagine que a cadeira é algo que você tem de vestir, que tem de ser ajustado como uma roupa. Assim como não dá para usar uma calça que cai, não é possível uma cadeira em que você escorregue", exemplifica Linamara Battistella, responsável pela Divisão de Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas e secretária dos direitos da pessoa com deficiência do Estado de São Paulo. No Brasil, especialistas em reabilitação reivindicam, desde o fim do ano passado, que o Ministério da Saúde passe a financiar também a adequação das cadeiras às necessidades dos pacientes, o que não está previsto na tabela de procedimentos que remunera os serviços de reabilitação. Com recursos, seria possível bancar encostos de cabeça, cintos para garantir estabilidade, almofadas melhores, rodas adaptadas, exemplifica a secretária. Segundo Linamara, as dores muitas vezes são decorrentes do próprio processo de adaptação, mas também podem ser conseqüência de uma prescrição inadequada. "Todo mundo fala da necessidade da adaptação de móveis de escritório, para quem fica sentado o dia inteiro, e não se pensa em quem fica o maior tempo na cadeira de rodas", diz Battistella, que encaminhou ao ministério lista com onze itens necessários para a adaptação das cadeiras. O ministério informou que as orientações sobre o uso da cadeira são financiadas pelo SUS, com os recursos programados para a reabilitação, mas a adaptação das cadeiras está "em estudo". "O que não impede os gestores locais de remunerarem os serviços que façam as adaptações nas cadeiras", afirmou Érika Pisaneschi, coordenadora da Área Técnica Saúde da Pessoa com Deficiência do ministério. Segundo o promotor Júlio Botelho, do Grupo de Proteção à Pessoa Portadora de Deficiência do Ministério Público de São Paulo, as adaptações são necessárias mas ainda são também alvo de controvérsia, pois não há unanimidade sobre quantos itens devem ser fornecidos pelos SUS e há a pressão do alto custo dos orçamentos já realizados. "Depois de organizar as filas aqui na capital, agora isso está entre os próximos passos do nosso trabalho", destacou. NO BRASIL 24,5 milhões são portadores de deficiências no País (dados de 2000) 6,6 milhões têm deficiências motoras 26,4 mil são portadores de paraplegia, tetraplegia e hemiplegia 1 milhão esperam por prótese, órteses e meios auxiliares como a cadeira de rodas

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