4,5 mil pneus são retirados de rio

Material, que poderia chegar à Baía de Guanabara, foi encontrado durante obras do PAC

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Por Felipe Werneck
Atualização:

Em sete meses, operários que trabalham nas obras de saneamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Baixada Fluminense recolheram 4,5 mil pneus que poluíam rios da região, segundo a Secretaria Estadual do Ambiente. Na tarde de anteontem, quando o Estado visitou um dos canteiros de obras, 52 pneus - e muito lixo - foram retirados do Rio Sarapuí, em Belford Roxo, um dos sete municípios atendidos pelo Projeto de Controle de Inundações e Recuperação Ambiental. Os pneus, que eventualmente chegariam à Baía de Guanabara, agora seguem para reciclagem. Desde o início das obras, dragas e escavadeiras içaram cerca de 500 mil toneladas de lixo misturado com sedimentos. Sessenta quilômetros de três rios - Botas, Iguaçu e Sarapuí - estão sendo dragados. Além do desassoreamento, o projeto prevê a reforma de pontes, a construção de praças, o plantio de vegetação ciliar e a pavimentação de vias e ciclovias nas margens, onde hoje há famílias morando em barracos. O orçamento é de R$ 190 milhões. Outros R$ 75 milhões serão aplicados na construção de 2 mil unidades habitacionais nos municípios. Dez mil pessoas que vivem em ocupações irregulares nas margens dos rios serão removidas, afirma a secretária do Ambiente, Marilene Ramos. Ela reconhece que essa parte do projeto está atrasada, mas diz que o cronograma será mantido, com previsão de conclusão das obras até outubro de 2010. Marilene conta que ficou surpresa com a quantidade de pneus nos rios. Ao longo do Rio Sarapuí, 13 máquinas trabalhavam anteontem, algumas sobre flutuantes. Além de pneus e sofás, os operários do PAC enfrentam outros obstáculos. O rio separa a Favela do Dique do Bairro Bom Pastor, em Belford Roxo. Um dos pontos de dragagem fotografados pela reportagem fica em frente a um local onde há venda de drogas. Operários estavam apreensivos, porque no último sábado houve tiroteio. Na ocasião, as obras foram paralisadas por quase duas horas naquele trecho. O engenheiro Irinaldo Cabral, coordenador das obras do PAC na região, diz que a equipe "toma certos cuidados", mas afirma que não há negociação com traficantes. "Não temos interlocutores diretos. Fazemos divulgação. Avisamos à população sobre a obra e eles (os traficantes) ficam sabendo." Além do tráfico de drogas e de eventuais tiroteios, operários relataram o caso de um corpo que foi encontrado no Rio Iguaçu. O engenheiro confirmou. Marilene diz que procura não mobilizar força policial porque isso "dificultaria a convivência na obra, já que o acompanhamento policial não pode ser permanente". A secretária estima que cerca de 3 milhões de habitantes serão beneficiados pelas obras. Até agora, apenas 16% do previsto foi executado. Segundo Marilene, a última grande obra de dragagem na região terminou em 1995. A área é muito pobre. A desempregada Odaléia Lima Meireles, de 51 anos, vive às margens do Rio Sarapuí com a filha, Simone, de 25 anos, quatro crianças e o marido. Em frente ao barraco há uma vala aberta com esgoto. "Queria uma casa para sair daqui." Sobre a obra, ela conta que "na última chuva não encheu, graças a Deus". "Aqui ficava tudo dentro d?água." Para o engenheiro, novas ocupações nas margens do Rio Sarapuí serão evitadas com a estrada de 12,5 km que vai ligar a Via Dutra com a Rodovia Washington Luiz. "A população sofre com as enchentes, mas não tem consciência de que existe uma relação direta com o lixo jogado no rio", avalia. "Não faz sentido falar em recuperação ambiental se o rio continuar recebendo esgoto."

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