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2009: Desafios e conquistas

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Por Redação
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Apesar das nuvens que cobriram os últimos meses de 2008, o ano novo sempre traz promessas. O desejo de realizações marca o simbolismo da passagem. Os fogos no céu espantam qualquer risco de escuridão: ano novo, vida nova! Ou seja, oportunidade de construir, de perdoar, de esquecer e de lembrar. Enfim, de viver e tentar ser feliz. Mas é difícil de acreditar que alguém tenha virado o ano, sem uma pontinha de ansiedade. Será que inocência e despreocupação ficaram para trás ? Uma vez desmontado o cenário natalino, é a inquietação que encontramos. Ela estava lá, durante o período de festas. Nós é que não nos demos conta. Essa ansiedade tem a ver com a responsabilidade que nos espera. Afinal, se alcançamos uma série de conquistas, ainda há um longo caminho a percorrer. Se há avanços nos indicadores sociais, em ascensão desde o governo anterior, muitos problemas vão ter de ser enfrentados: o da igualdade salarial entre homens e mulheres é um deles. Um levantamento do Fórum Econômico Mundial revelou que brasileiros de ambos os sexos têm as mesmas oportunidades em educação e saúde. Mas a desigualdade na comparação salarial pesa, e muito, em favor dos homens. De acordo com esse mesmo estudo, na escala que mede a desigualdade, estamos em 73º lugar, entre 100 outros países. Aqui, as mulheres recebem 42% a menos do que os homens, por trabalho similar. Em Lesoto, Honduras e Namíbia, elas ganham mais do que nós. Pontos positivos ? A discriminação diminuiu. Aumentou o emprego feminino em áreas como a Medicina, o Direito, a Comunicação e a escolarização de meninas elevou sua qualificação no mercado de trabalho. Ainda assim, a distância é grande. Quanto mais as mulheres sobem na hierarquia dos escritórios, e galgam altos postos, menos ganham. Nos últimos vinte anos, um nó de contradições marcou o papel das mulheres na sociedade brasileira. Assim como as desigualdades sociais, as disparidades entre os sexos se acumulam, multiplicando os benefícios deles, em detrimento das carências delas. Em casa, as tarefas continuam desigualmente compartilhadas: mais de 90% delas asseguram a "ordem e o progresso" embora já surjam algumas zonas de negociação como o fogão ou as compras. Se o casamento se desfaz, elas sofrem imediata desvalorização no mercado matrimonial. Em tempos de crise, será mais fácil ver as mulheres ameaçadas pelo desemprego ou aceitando ocupação em tempo parcial. A superioridade feminina é apenas numérica: mais mulheres chefiam famílias monoparentais, aceitam situações de subordinação e correm atrás do modelo de perfeição estética imposto pela mídia em geral. E por que será ? Tudo indica que o problema não é na rua. Mas em casa. É lá que elas escondem seus sentimentos masculinizados. Muitas protegem filhos que agridem outras mulheres, não os deixam lavar louça ou arrumar o quarto. "Homem não nasceu para isso!" A ideia é tornar marido e filhos dependentes delas em assuntos domésticos, pois muitas são dependentes financeiras, deles. Outras calam sobre comentários machistas de seus companheiros, incentivam piadas e estereótipos sobre a "burrice" feminina, cultivam cuidadosamente o mito da virilidade. Gostam de se mostrar frágeis, pois acreditam que eles assim se sentem mais potentes, e de ser chamadas de xuxuzinho, docinho ou gostosona, tudo o que seja convite a comer. O título de cachorra é um elogio. Mulher forte ? É sapatona ! A "Melancia"? Linda ! Acreditam que a feminilidade é um estado natural, a ser conservado e que todas as despesas aí investidas, até cirurgias que acabem por desfigurá-las, são um bom negócio. São coniventes com a propaganda sexista e com a vulgaridade da mídia. Na TV, aceitam temas apelativos e não se incomodam que os mesmos encham a cabeça de suas filhas . Conclusão: há uma desvalorização grosseira das conquistas das mulheres, por elas mesmas. Este comportamento ajuda, certamente, a que se continue cavar um grande fosso entre homens e mulheres, perceptível na questão salarial. É compreensível. Afinal, o chefe teve uma mãe machista ! Ora, estamos vivendo um tempo de transformações: na família, no trabalho, nas instituições. 2009 trará muitos desafios. Vamos tentar eliminar as diferenças entre homens e mulheres, mas também, aquelas enraizadas dentro de nós. *Mary Del Priore é historiadora e sócia do IHGB

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