Descobrir o segredo dos super centenários – aqueles velhinhos com mais de 110 anos que comem de tudo, fumam e até bebem, mas parecem incólumes aos efeitos nefastos do tempo na saúde – é uma das principais metas da ciência neste início de século. Afinal, o que teriam esses bravos anciões da espécie humana de tão especial para não desenvolverem, com o avançar da idade, as chamadas doenças do envelhecimento, como câncer, diabetes e cardiopatias?
Até pouquíssimo tempo, pesquisadores do tema achavam que as respostas para a razão da surpreendente expectativa de vida desses idosos estavam em seus genes. Num esforço conjunto, um grupo de cientistas de diversos países mapeou o DNA de 17 dos 74 super centenários que vivem no planeta a fim de encontrar genes comuns a todos eles que agiriam para, de alguma forma, aumentar suas expectativas de vida. A missão, infelizmente, falhou – pelo menos por enquanto. Até novembro, a comparação dos genomas dos 17 idosos não tinha identificado nenhuma molécula presente em todos os genomas estudados.
Mas é bem possível que a resposta não esteja no nosso DNA, sim no de outros seres vivos. Mais especificamente no genoma da baleia da Groenlândia. Esse bicho enorme, com cerca de 15 metros de comprimento, e robusto, pode pesar até 100 toneladas, é a mais nova aposta da ciência para desvendar os mistérios da longevidade. O animal, o mais longevo de todos os mamíferos, é capaz de viver 210 anos – quase um século a mais do que os homens, que podem alcançar 120 anos, sete vezes mais do que o urso, que vive 30, e dez vezes mais do que a girafa, que não passa de 10 anos, só para citar alguns exemplos.
Não é só o tempo de vida deste cetáceo que impressiona – as baleias da Groenlândia, apesar de terem mil vezes mais células que um humano, não têm mais chances de desenvolver câncer. Pelo contrário, são extremamente resistentes à doença. Trata-se de um paradoxo. O câncer é resultado de anomalias no material genético das células que podem ocorrer durante a divisão celular. Quanto mais se vive, mais as células se dividem, aumentando o risco de alguma anomalia acontecer. E quanto mais células tem um ser vivo, maiores os riscos de problemas decorrentes do processo de divisão.
Pesquisadores já começam a desvendar os segredos da baleia de vida longa. Depois de comparar o genoma da baleia da Groenlândia com o da baleia de Minke (que vive entre 30 e 50 anos), cientistas americanos e ingleses identificaram mutações nos genes ERCC1 e o PCNA do animal, ambos relacionados à reparação celular e ao envelhecimento. A informação, publicada esta semana na Cell Reports, pode contribuir para o combate de doenças crônicas e para o aumento da expectativa de vida em humanos.
Segundo o geneticista João Pedro de Magalhães, da Universidade de Liverpool, que liderou a pesquisa, o achado pode levar ao desenvolvimento de drogas para ativar genes de reparação celular em humanos, similares ao encontrados na baleia, a fim de evitar o surgimento de câncer e outra doenças sérias relacionadas à idade. Outra possibilidade é a manipulação genética – a introdução desses genes em outros organismos vivos, homens inclusive, para, assim, conseguir uma maior reparação do DNA. Só esperando para ver – e crer.