Shirlei e Paulo têm 51 e 52 anos. Moram juntos. Sandra e Diogo, de 46 e 49, são casados de papel passado. Vera e Hélio também trocaram alianças- ela está com 46 e ele com 60. Quem os vê no porta-retratos, posando com os filhos, ou passeando pelas ruas de mãos dadas, como aqueles casais que “deram certo” - se conheceram na época da faculdade, tiveram filhos e continuam juntos, felizes - nem imagina a história que eles têm para contar.
A narrativa é parecida nos três casos. Eles se deram mal. A união que seria para sempre, aquela, da juventude, durou só o que tinha de durar. Depois vieram as brigas, o divórcio, o fardo de criar os filhos sem um parceiro (que sempre pende mais para um lado do que para outro), a preguiça e, vá lá, a vergonha de ir a um barzinho para encontrar um novo alguém.. E, por fim, a solidão. Só que não.
O que era para terminar como um samba-canção, ao estilo de “Meu Mundo Caiu”, eternizado por Maysa, terminou em final feliz. Depois do período de lamúria, doloroso e aparentemente insuperável, porém inevitável e comum a todos os que terminam um relacionamento, mesmo aqueles notoriamente falidos, eles foram à luta. Na internet. Acharam-se no primeiro site de encontros do País voltado para quem tem lá seus 40 e tantos anos - ou bem mais - o Coroa Metade.
Em funcionamento há pouco mais de dois anos, o Coroa Metade foi lançado no momento propício, tanto do ponto de vista demográfico como comportamental. O brasileiro nunca viveu tanto e tão bem - como dizem por aí, os 50 são os novos 30 -, o que permite um recomeço aos 40, 50, 60 e, por que não, aos 70 anos. Prova disso é o número de matrimônios entre pessoas com mais de 40 anos na última década -houve um aumento de 62% só na região metropolitana de São Paulo, segundo o IBGE. E quem antes tinha receio de se meter numa encrenca daquelas ao procurar os serviços de sites de relacionamento, principalmente os maduros, já não tem mais.
Mudou também o perfil de quem se cadastra nestes sites. “No começo da década os sites de encontro eram tidos como a única opção para pessoas frustradas, que mentiam sobre si mesmas”, explica o jornalista Airton Gontow, criador do Coroa Metade. “Hoje, e cada vez mais, são frequentados por pessoas comuns. Sandra, por exemplo, é empresária do ramo educacional e professora de inglês. “Deixe bem claro no meu perfil: disse que era professora, que gostava de dançar, tinha duas filhas e que buscava um homem família,” Seu atual marido, Diogo, é pai de de uma menina de 15 e um garoto de 7. Um representante comercial, bem família.
Com 16 milhões de páginas vistas, 1,5 milhões de visitantes e 25 casamentos realizados, o Coroa Metade abriu caminhos para os negócios da maturidade na rede. Já existem vários sites de encontro voltados para pessoas maduras - “amor de idade”, “namoro senior” e "mais de 50”, só para citar alguns. Bem provavelmente, novos devem surgir na onda cinza que tem tomado conta do País - para, quem sabe, diminuir ainda mais a distância entre os quase 30 milhões de brasileiros com mais de 45 anos solteiros, divorciados ou viúvos.