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A fórmula de Vin Diesel: cérebro, músculos e coração

Depois de Hollywood negar-lhe uma chance, o ex-leão de chácara e atual herói de filmes de ação decidiu ser astro de cinema 

Por Bee Shapiro
Atualização:
Vin Diesel nasceu Mark Sinclair em Alameda County, Califórnia, em 1967, e não conheceu o pai Foto: REUTERS/Danny Moloshok

Por mais improvável que pareça, Vin Diesel, de 49 anos, estrela de três franquias de filmes de ação, começou na vida artística quando era um garoto morando no centro de Nova York. Seu primeiro contato com o palco foi aos 7 anos, no Theater for the New York City, em Greenwich Village.

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Anos mais tarde, já fortão, trabalhou por uma década como leão de chácara no Tunnel e outras casas noturnas. Mas, debaixo da massa de músculos, havia um entusiasta do jogo de RPG Dungeons & Dragons, que idolatrava Sidney Lumet e queria se dedicar às artes. 

Frustrado por não conseguir driblar os porteiros dos estúdios, Vin dirigiu e estrelou um curta, Multi-Facial, exibido em Cannes em 1995. Sua próxima realização como diretor e ator, o longa Strays, chegou ao Sundance Film Festival de 1997. Se o aprendizado está mais para Lena Dunham que Arnold Schwarzenegger, Vin diria que é exatamente isso. 

Multi-Facial impressionou Steven Spielberg, que escalou Vin para O Resgate do Soldado Ryan. Logo em seguida, sua carreira decolou. Ele fez o assassino Riddick em As Crônicas de Riddick - Eclipse Mortal, o corredor de racha Dominic Toretto em Velozes e Furiosos e o superespião letal Xander Cage em xXx. Os três geraram sequências e videogames.

O Velozes e Furiosos mais recente arrecadou mais de 1,5 bilhão de dólares no mundo todo. O oitavo filme da série, Velozes e Furiosos 8, estreou em 14 de abril nos EUA. A nona e décima edições estão planejadas para 2019 e 2021. 

Vin Diesel nasceu Mark Sinclair em Alameda County, Califórnia, em 1967. Não conheceu o pai. Sua mãe, Delora Sheeran Vincent, uma astróloga, casou-se com Irving Vincent, gerente de teatro em Nova York, diretor e professor de interpretação, que se tornou padrasto de Vin. 

O ator falou de seu improvável sucesso numa entrevista telefônica de sua casa, em Los Angeles, onde vive com a namorada, Paloma Jimenez, e os três filhos do casal. 

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Quando você se tornou ator, que tipo de profissional achava que viria a ser?

Pensei que seria um ator dramático. Atuei pela primeira vez aos 7 anos. Cresci na cidade, numa casa de artista no Lower West Side. Meu pai era diretor de teatro. Quando comecei a atuar, a ideia de um herói de filme de ação era relativamente nova. Não me pegou nem mesmo quando meus anos de leão de chácara mudavam meu físico. Eu estava determinado a trabalhar com Sidney Lumet. 

Depois você foi para a Califórnia. Qual sua primeira impressão de Hollywood?

Quando cheguei a Hollywood, nem mesmo consegui um agente. Lembro que deixei meu emprego de leão de chácara com um “tchau mesmo, otários”. Eles me perguntaram o que ou ia fazer. Respondi que vinha atuando a vida toda e ia para Hollywood tornar-me um astro de cinema. Em Los Angeles, fiz várias entrevistas, mas nada de arrumar um agente. Acabei tendo de trabalhar em telemarketing, vendendo ferramentas pelo telefone. 

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O que você fez em seguida?

A onda de filmes de orçamento baixíssimo estava começando. Quando saiu El Mariachi Robert Rodriguez fez com US$ 7 mil -, o impacto que senti foi enorme. Não preciso mais implorar por um papel, pensei. Posso continuar mais um pouco como leão de chácara e economizar US$ 3 mil para investir em meu próprio roteiro. 

Num Natal que passei em casa, minha mãe me deu o livro de Rick Schmidt Feature Filmmaking at Used Car Prices (em tradução livre, “como fazer um filme pelo preço de um carro usado”). Senti que em Nova York seria mais fácil levantar dinheiro. Havia organizações sem fins lucrativos que ajudavam a fazer um filme. Comecei a dar forma a uma produção, que viria a ser Strays. Mas não consegui então o dinheiro para filmar. Isso foi em 1995, e eventualmente completei o filme, que foi selecionado para a disputa no Sundance em 1997. Aí me deixei embalar pelo provérbio “se não puder fazer tudo, faça o que pode”. Escrevi e filmei um curta chamado Multi-Facial, que era, em essência minha história, a dificuldade de conseguir papéis sendo um ator multirracial.  Para escrever meu primeiro roteiro, fui a uma loja de aparelhos eletrônicos chamada Wiz, na Rua 14. Eles tinham a política de aceitar de volta, no prazo de 30 dias, tudo que você comprasse, sem perguntas. Comprei um processador de texto por US$ 600 com meu cartão de crédito de estudante. Varei noites escrevendo. Ao fim de 30 dias, devolvi o processador. 

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Em seguida, aluguei uma câmera 16 milímetros numa sexta-feira. Como só tinha de devolver na segunda, pude filmar por três dias. Corta para minha mãe me vendo mexer na velha Steenbeck 16 mm em meu quartinho. 

Foi antes dos computadores e, para mim, um tempo maravilhoso. Estava cortando e emendando Multi-Facial, no estilo da velha escola. Muita gente quer fazer sucesso, chegar ao topo. A graça não está aí. A graça está na caminhada.

Quando o sucesso estourou? Ou não houve um estouro?

É verdade, não houve um grande estouro. Uma de minhas maiores vitórias foi Multi-Facial. Em janeiro de 1995, passei o filme no Anthology Film Archives. Era o único lugar que tinha um projetor 16 mm. Ninguém havia visto meu filme. Quando a exibição terminou, 20 minutos depois, a plateia nunca mais me veria do mesmo jeito. Amigos da vizinhança, 'leões' que trabalharam comigo, meus próprios pais, me olharam de um modo diferente. Não consigo nem dizer como foi. 

Outro marco foi Strays ser exibido no Sundance. Um mês após a exibição, recebi um telefonema de Steven Spielberg. Ele criara um novíssimo papel para mim em O Resgate do Soldado RyanVocê acha que foi subestimado por causa da aparência? 

Sidney Lumet dizia isso. Enquanto fazíamos Sob Suspeita, ele avisou: “Você vai sofrer o que mulheres bonitas vêm sofrendo nesta indústria há cem anos. Vai sofrer por causa de seu físico de herói de filme de ação”. 

Você é o primeiro ator a ter 100 milhões de seguidores no Facebook. A mídia social permite que você seja visto de um modo mais profundo?

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Sem dúvida. Pela mídia social, pude postar um vídeo no qual cantava para a mãe de meus filhos num Dia dos Namorados. Como isso seria possível antes da mídia social? Ela documentou alguns dos mais desafiadores momentos de minha vida - como quando perdi meu irmão Pablo (Paul Walter, ator e coastro de Velozes e Furiosos, morto num acidente de carro em 2013). Meu relacionamento com Mark Zuckerberg começou em minha página no Facebook. 

Você conversa com Zuckerberg? 

É claro! Eu o adoro. É um grande cara e fã de meu trabalho. Foi ele, possivelmente, quem me encorajou mais que ninguém a voltar a fazer Xander Cage. O cinema nos une e, se eu cito algo ligeiramente diferente do que um meu personagem fez, Mark me corrige. É até embaraçoso.

Onde os heróis de filmes de ação se situam em Hollywood?

Existe mesmo herói de ação? É o que eu perguntaria se estivéssemos falando disso num bar e a discussão esquentasse. Há filmes que têm ação, mas também comédia e romance. Não existe uma escola da qual se sai herói de ação. Se assistirmos a ... E o Vento Levou, de 1939, veremos que tem ação, mas não dá para dizer que Clark Gable seja um herói de ação. E em Juventude Transviada também não se pode chamar James Dean de herói de ação. 

Talvez a expressão tenha sido inventada por Hollywood para destacar o físico de Arnold Schwarzenegger e outros heróis de ação em contraposição a outros tipos de personagem. A expressão existe mesmo? 

Herói de ação, então, seria, então, alguém de talento questionável?

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Sim! A melhor parte de Velozes e Furiosos não são as grandes explosões. É o coração. Quando se pensa na amizade fraternal de Dom e Brian, vê-se que é o que conduz os filmes. E nunca na sequência de Velozes um caso de amor prendeu tanto a atenção quanto o de Dom e Letty. 

É nesse ponto que o beijo de outra mulher - Charlize Theron em Velozes 8 - tornou-se a maior sequência de ação do trailer do filme. Velozes 8 tem o trailer mais visto da história, o que fez do filme o mais aguardado de todos os tempos. E qual é o centro desse trailer? Algo familiar e simples: um beijo.

Tradução Roberto Muniz