Tatuadora cobre cicatrizes de agressões homofóbicas gratuitamente

Iniciativa faz o mesmo com mulheres vítimas de agressão

PUBLICIDADE

Por Hyndara Freitas
Atualização:
Tatuadora de Cotia (SP) cobre, gratuitamente, cicatrizes de mulheres agredidas por seus parceiros e também em pessoas vítimas de ataques homofóbicos. Foto: Reprodução/Facebook

Os ataques preconceituosos são problemas recorrentes na vida dos homossexuais, bissexuais e transexuais. Apenas em 2015, o Disque 100, o Disque Direitos Humanos, recebeu quase 2 mil denúncias de agressões contra homossexuais. De janeiro a junho de 2016, foram 132 LGBTs assassinados. Mas a homofobia não está classificada como crime na legislação brasileira - o que desestimula muitas pessoas a denunciarem.

PUBLICIDADE

A tatuadora paulista Ka Montenegro quer ajudar a mudar essa realidade. Inspirada por um projeto de uma tatuadora do sul do País, que cobre gratuitamente cicatrizes de mulheres vítimas de agressão de parceiros, ela resolveu fazer o mesmo em São Paulo. Mas descobriu que o problema não atingia apenas esse grupo.

"Um amigo cedeu um espaço para que eu divulgasse o projeto e, conversando com o público, escutei histórias de agressões que eles haviam sofrido e então eu percebi que não eram só as mulheres que precisavam de ajuda, que existem outras minorias que também precisam de apoio para denunciar, porque, infelizmente, na sociedade o preconceito ainda é visto como algo normal, e não é para ser normal", contou Ka em entrevista ao E+.

Então, ela incluiu os LGBTs em sua iniciativa e, agora, cobre cicatrizes de agressões homofóbicas com tatuagens, tudo gratuitamente. Os interessados fazem contato com a tatuadora pela internet, geralmente por meio de sua página noFacebook. "A pessoa me envia foto da cicatriz e juntos decidimos o que cobre melhor", explica a tatuadora, que atende no estúdio Sete TrêsTattoo&Piercing, em Cotia, na Grande São Paulo.

Mas a iniciativa vai muito além disso: Ka busca sempre incentivar as vítimas a denunciar os agressores para a polícia ao cobrir a cicatriz. "O projeto tem a intenção de promover as denúncias no caso dos homossexuais (e das mulheres agredidas pelos maridos também), pois os registros dessas ocorrências quase não acontecem, passando a falsa impressão de que não existem. Então, eu peço que me apresentem o Boletim de Ocorrência, mas não leio, apenas confiro a parte superior onde consta "agressão". A pessoa não é obrigada a me contar o que aconteceu, faço tudo para que seja da forma mais aconchegante e segura possível", relata a tatuadora.

Entretanto, Ka revela que, durante as sessões de tatuagem, as vítimas acabam falando sobre suas histórias, naturalmente, pois se sentem à vontade após receber ajuda. "Infelizmente não posso fazer mais que cobrir as cicatrizes, mas seria pior se eu não pudesse fazer nada. Fico feliz de poder ajudar, mesmo que pouco, mas ajudar de verdade quem realmente precisa", finaliza.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.