Supermercado sustentável aceita material reciclável como pagamento

Iniciativa ajudou a 'limpar ' o lixo da rua em uma pequena cidade no Acre e deve se expandir pelo País

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Por Anita Efraim
Atualização:
No Troc Troc, todo material reciclável é revertido em dinheiro - quanto melhor o estado da lata ou da garrafa PET, mais ela vale Foto: Acervo pessoal/ Marcelo Valadão

Marechal Thaumaturgo, cidade no extremo leste do Acre tem, aproximadamente, 15 mil habitantes. Lá, Marcelo Valadão identificou um grave problema relacionado à poluição e à falta de cultura de reciclagem. Percebeu, também, que na tribo indígena Ashanika, a duas horas de barco, havia mais produção de alimentos do que demanda. Assim, ele juntou as duas ideias e criou o Troc Troc: um supermercado sustentável.

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O estabelecimento, que fica em Marechal Thaumaturgo, aceita materiais recicláveis, como garrafas PET e latas de alumínio como forma de pagamento pelo alimentos. Toda comida vendida no Troc Troc é produzida por moradores da tribo, ou seja, são microprodutores.

"Utilizando a criatividade eu idealizei um supermercado", diz Marcelo Valadão. Brasileiro naturalizado belga, o idealizador do projeto criou na Europa, em 2012, a House of Indians, uma instituição sem fins lucrativos que visa defender os povos que vivem na floresta Amazônica. Foi com apoio a organização que ele conseguiu a verba para construir o mercado. Todo o projeto foi concebido com dinheiro da iniciativa privada.

Folhetos explicativos produzidos pela House of Indians para orientes os moradores da região Foto: Acerto pessoal/ Marcelo Valadão

"A preocupação foi fazer um supermercado padrão europeu, bonito, limpo, de qualidade, sempre ligado ao design para os índios", explica Valadão, que é designer. Assim, como descreve o criador do Troc Troc, eles deram um 'start político' para limpar a cidade e prepará-la para o ecoturismo.

Sobre o lado da produção, Valadão afirma que, agora, "aquela senhora que tem um pé de mexerica na casa pode ir no supermercado e vender. O cara que planta dez melancias também pode se cadastrar lá". Na opinião do designer, isso incentiva a população a plantar mais árvores. "Começou a gerar uma cadeira de plantadores de árvores frutífera", afirma.

Além disso, a iniciativa também pretende ajudar pessoas que não têm dinheiro para comprar comida.

Para que o ciclo todo funcionasse, Valadão e a House of Indians criaram folhetos para divulgar a inauguração do supermercado e explicar como funciona a troca de material por alimentos. Se a garrafa ou a lata estiverem em boas condições, valem ainda mais. 

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Os resultados esperados por Valadão já começaram a aparecer: em um mês de funcionamento, o Troc Troc arrecadou cinco toneladas de garrafa PET. "Em um mês limpou a cidade, não tem mais lixo na rua", relata. "Foi uma explosão de alegria. Se tornou uma ferramenta que se resolveu de imediato". 

Marcelo com moradores locais na inauguração do Troc Troc Foto: Acervo pessoal/ Marcelo Valadão

O sucesso da iniciativa chamou atenção e, agora, outras pessoas querem desenvolver seu próprio Troc Troc. "A procura foi muito grande. A House of Indians vai fornecer toda a logística, todo o material informativo para que a gente expanda esse projeto", diz. "Ela quer ajudar outras pessoas a se envolverem nesse grande movimento de limpar o Brasil."

No entanto, para abrir um Troc Troc é preciso seguir algumas regras. "Não é aceitável crianças fazendo trabalho escravo de reciclagem para levar", exemplifica. Além disso, a produção de alimentos deve ser local e o preço pago no mercado precisa ser justo. Tudo estará disponível em um site que está em processo de criação. 

A House of Indians não dará ajuda financeira de forma direta, mas Valadão justifica que só as revistas informativas, que serão fornecidas pela instituição, já são um investimento. "Tem pessoas que querem abrir um Troc Troc na casa, mas não sabem como fazer a logística, o armazenamento. A House of Indians dá um assessoria para esse pequeno empreendedor", explica. 

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