Lutando por direitos LGBT em comunidades de aposentados

'Ficou bastante claro que muitas pessoas sentem que precisam voltar para dentro do armário quando vão morar em lares de idosos ou em qualquer centro de atendimento'

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Por Tammy La Gorce
Atualização:
Luta por direitos LGBT na terceira idade ainda é um tabu que precisa ser debatido Foto: Pixabay/@nancydowd

Na New Jewish Home, uma comunidade de aposentados com apartamentos de baixa renda em vários locais do Bronx, Manhattan e Westchester, um residente do sexo masculino ganhou o direito de usar as camisolas de seda que ele adora, e outro tem o privilégio, até então negado, de pintar as unhas - e até conta com fornecimento de esmalte e ajuda para aplicá-lo.

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Nada disso é o que Audrey Weiner, diretora-executiva da New Jewish Home, chamaria de espetacular. Mas esses feitos não teriam acontecido há 10 anos, muito menos décadas atrás, disse ela. Essas mudanças, acrescentou Weiner, representam um verdadeiro progresso no que ela descreveu como "triste situação" para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de mais idade - entre eles vários pioneiros do movimento de orgulho gay que hoje têm por volta de 60, 70 e 80 anos de idade.

"Ficou bastante claro que muitas pessoas sentem que precisam voltar para dentro do armário quando vão morar em lares de idosos ou em qualquer centro de atendimento", disse Weiner.

Mas isso está mudando junto com a população: de acordo com um estudo de Karen I. Fredriksen-Goldsen, professora da Universidade de Washington, 1,1 milhão de americanos com 65 anos ou mais se identificam como lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros em 2017, e se espera que esse número dobre até 2060.

A New Jewish Home está entre as centenas de comunidades de aposentados cujos funcionários nos últimos anos foram certificados por organizações como a Sage, uma organização sem fins lucrativos que presta serviços a pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de mais idade, como trabalhar pelo direito de elas viverem em uma parte da instalação separada para identidade de gênero com a qual se identificam, e não de acordo com o sexo de nascimento.

Michael Palumbaro foi a segunda pessoa a se mudar para o projeto social no Bronx Foto: Mark Makela/New York Times

Sensibilizar os funcionários dos lares não é o único jeito de promover melhorias. Desde 2010, foram abertas várias comunidades independentes para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que se aposentaram. "Há pelo menos meia dúzia já em pleno funcionamento, e talvez mais meia dúzia em processo de desenvolvimento, e podemos dizer com certeza que elas vão abrir", disse Michael Adams, CEO da Sage.

A organização sem fins lucrativos está construindo uma comunidade de aposentados subsidiada no Bronx e outra no Brooklyn, disse ele. E comunidades não-subsidiadas, acrescentou ele, estão se espalhando por todo o país. "Algumas delas são um pouco mais luxuosas", disse Adams.

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Pelo menos duas dessas comunidades - Fountaingrove Lodge, em Santa Rosa, Califórnia, e o Resort Carefree Boulevard, uma comunidade para lésbicas idosas perto de Fort Myers, Flórida - estão crescendo. Outras comunidades não tiveram sucesso financeiro, disse ele, porque operam com a noção de que pessoas em processo de envelhecimento terão patrimônio para comprar imóveis. "É uma espécie de mito achar que as pessoas LGBT têm mais bens ou recursos do que as outras", disse ele.

Independentemente da renda, disse Adams, "sabemos, por senso comum e também por pesquisa específica, que é um grande desafio encontrar um lugar que estará de portas abertas para receber pessoas LGBT". A pesquisa inclui um estudo de 2014 do Equal Rights Center (Centro de direitos iguais), uma organização sem fins lucrativos de Washington que descobriu que 48% dos casais de idosos LGBT que procuram habitação passam por experiências adversas. As histórias estão repletas de gente grosseira e agressiva. "Muitas vezes, essas histórias que ouvimos falam sobre outros idosos", disse Adams. "Eles maltratam, marginalizam e isolam seus vizinhos e vizinhas lésbicas, gays, bissexuais e transgênero".

Ed Miller é um dos voluntários do projeto social nos Apartamentos JohnC. Anderson Foto: Mark Makela/New York Times

Infelizmente, esses problemas não chegam a surpreender os idosos, disse ele, porque, "se você olhar para a pesquisa, vai ver que, quanto mais velha for a pessoa, mais provável que ela tenha algum tipo de preconceito".

Os dois novos edifícios da Sage - o residencial Ingersoll para a terceira idade, com 145 unidades, em Fort Greene, Brooklyn, e o residencial Crotona para idosos, com 82 unidades, no Bronx - foram financiados pelo plano habitacional de 10 anos do prefeito Bill de Blasio, que tem o objetivo de criar e preservar 200 mil unidades habitacionais para pessoas de baixa renda em dez anos. Espera-se que ambos os residenciais estejam abertos no verão de 2019 e tenham longas listas de espera.

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Mais de mil pessoas já manifestaram interesse em estar entre as primeiras a se mudar para os novos residenciais, disse Adams. Um sorteio para determinar o primeiro lote de residentes será aberto em janeiro de 2019. "Não temos dúvidas de que a demanda por esses apartamentos vai ultrapassar a oferta", disse ele, o que parece ser um problema comum em todo os Estados Unidos.

Quando os Apartamentos John C. Anderson, um edifício de baixo custo de seis andares e com 56 unidades na Filadélfia, foi inaugurado em 2014, a lista de espera passou das cem pessoas, disse Ed Miller, assistente social na cidade. O prédio - batizado em homenagem a um membro do conselho da cidade que morreu em 1983 - exibe nas paredes de seus corredores fotos emolduradas das revoltas de 1969 no Stonewall Inn, em Nova York, e tem um mural de uso comum para retratar a história dos movimentos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros da Filadélfia.

Um letreiro na fachada do prédio diz "LGBT friendly". Eventos como a festa de aniversário para celebrar os moradores nascidos em determinado mês acontecem regularmente, para promover os laços de vizinhança. Como é costume em edifícios de baixo custo dedicados aos idosos, os residentes pagam valores variados, que não excedem 30% de seus rendimentos. "Dizemos que é um prédio aberto aos LGBT, mas não exclusivo dos LGBT, porque os apartamentos são financiados pelo governo federal", disse Miller. Ele calcula que 85% dos moradores são lésbicas, gays, bissexuais ou transgênero. /Tradução de Renato Prelontzou

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