Fãs conversam com versões virtuais de seus ídolos

Conheça os chatbots, uma ferramenta que usa inteligência artificial para responder a perguntas básicas e enviar novidades aos fãs

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Por Ben Sisario
Atualização:
Maroon 5 é uma das bandas que usam os 'bots'. Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

Em janeiro, Christina Ausset, uma fã francesa de 24 anos do Maroon 5, viu um tuíte interessante de outra fã da banda: “Acabei de conversar com o Maroon 5! Incrível!”. Na verdade, a interação ocorreu por meio do Facebook Messenger com o chatbot da banda – um programa automatizado projetado para responder perguntas básicas. Não é o mesmo que bater papo com Adam Levine, reconheceu Ausset, mas não tem importância. Agora, ela também gosta de conversar com eles pelo Facebook. “Ter o Maroon 5 no Messenger faz com que eu me sinta muito próxima dos meus artistas prediletos”, escreveu ela por e-mail. Para que celebridades que usam Twitter, Instagram e Snapchat deem um toque pessoal para suas interações com os fãs, a próxima fronteira das mídias sociais é deliberadamente impessoal: os chatbots, uma forma muito básica de inteligência artificial capaz de enviar novidades, divulgar conteúdos promocionais e até mesmo testar novos materiais. No mundo da música, “bot” – derivado de “robot” – é praticamente um palavrão, uma vez que lembra as ferramentas usadas por cambistas. Ainda assim 50 Cent, Aerosmith, Snoop Dogg e Kiss delegaram aos chatbots a função de receber e responder automaticamente as mensagens recebidas pelo Facebook Messenger, lidando com uma quantidade de perguntas e pedidos que nenhum ser humanos seria capaz de acompanhar. Quando alguém entra em contato com o Maroon 5 pelo Messenger, a página responde: “Olá, sou o bot do Maroon 5. Quer ser o primeiro a saber quando a banda vai lançar uma música nova?”, em seguida, tem início um diálogo com uma série de perguntas com múltiplas possibilidades de resposta, levando por um caminho repleto de emojis e clipes; ao final, links de mídias sociais são usados para indicar o bot para outros fãs da banda. Trata-se de uma interação propositalmente simples, criada por meio de uma tecnologia desenvolvida por uma startup chamada Octane AI. Ainda assim, até mesmo com suas respostas pré-programadas, os chatbots passam a impressão de uma personalidade humana, afirmou Christina Milian, cantora, atriz e uma das primeiras a adotar essa tecnologia, ajudando a criar a Persona Technologies, concorrente da Octane. “Sinto como se fosse uma interação pessoal. Obviamente são as minhas palavras. Eu sei como falo. Meus fãs também sabem como eu falo”, afirmou Milian a respeito do seu chatbot.

Contudo, nem todos os bots de celebridades contam com o mesmo nível de verossimilhança verbal. O bot do Aerosmith, por exemplo, reage a praticamente todas as perguntas com um “Rock on”. Mas Milian afirmou que a inteligência do seu bot conseguiu surpreender até a ela. “Quando estou me comunicando com o meu chatbot, às vezes vejo alguma coisa e penso: ‘Caramba, sou eu mesma!’.”

Os chatbots usam inteligência artificial para fazer conversas simples. Foto: Drew Anthony Smith for The New York Time

Os chatbots também oferecem indícios do futuro da indústria musical, que está começando a envolver shows em realidade virtual, algoritmos capazes de criar playlists e assistentes virtuais como a Alexa, da Amazon, afirmou Cortney Harding, consultora de empresas de tecnologia musical e autora de “How We’ll Listen Next: The Future of Music From Streaming to Virtual Reality”. “À medida que a inteligência artificial se desenvolve, tudo começa a fazer parte de uma realidade mista em que você pode ligar para um holograma do seu artista predileto e realmente conversar com uma versão em inteligência artificial dessa pessoa”, afirmou Harding. A Octane AI, fundada há cerca de um ano, é uma das empresas de tecnologia que cria esses programas para o setor de entretenimento, com clientes que incluem a Interscope Records, o selo por trás de Maroon 5 e 30 Seconds to Mars. Matt Schlicht, executivo-chefe da Octane AI, afirmou que, com mais de um bilhão de usuários, o Messenger – o aplicativo de chat conectado ao Facebook – é grande demais para que as celebridades o ignorem. E como estão prestando atenção, os bots da empresa podem ajudar os clientes a fazer um uso mais eficiente do chat. Os chatbots se tornaram uma parte comum das interações on-line envolvendo grandes empresas voltadas para o consumidor; a pizzaria Domino’s, por exemplo, permite que os clientes usem um bot para fazer pedidos. Essa tecnologia se espalhou rapidamente em abril, quando o Facebook passou a permitir que os desenvolvedores de software criassem bots no Messenger. A mudança tornou o Facebook uma ferramenta mais útil para a divulgação de informações para um grande número de pessoas, e para muitos artistas e marqueteiros isso resolveu um problema frustrante: à medida que crescia, o Facebook e suas notícias se tornaram cada vez mais cheios de gente – sem falar na praga dos algoritmos – tornando cada vez mais complicada a comunicação com os fãs. Chris Mortimer, chefe de marketing digital da Interscope, afirmou que o Messenger se tornou uma forma fundamental de os artistas chegarem aos fãs. “Atualmente, o inbox do Facebook Messenger é o equivalente ao que a caixa de e-mail representava antes da chegada dos spams”, afirmou. Os clientes da Octane AI afirmam que os índices de resposta aos chats são extremamente altos. De acordo com a empresa, quando os bots enviam uma nova notificação, de 50 a 75 por cento dos assinantes abrem as mensagens e clicam no link nos primeiros 10 minutos. Os bots estão se tornando uma saída interessante para os músicos, mesmo que ainda não sejam uma forma de marketing muito popular; em uma conferência realizada em setembro, um executivo do Facebook se referiu aos elogios à tecnologia como “exagerados”, e que as primeiras reações aos bots não foram tão relevantes. Ainda assim, Milian afirmou que sua conta no Messenger atraiu dois milhões de pessoas desde que ela criou o bot em outubro. O Maroon 5 também demonstrou seu valor para as pesquisas de mercado. Em fevereiro, um dia antes de a banda lançar o single “Cold”, eles enviaram um clipe com 10 segundos da música para os seguidores do chatbot. Em 24 horas, os fãs já haviam enviado cem mil mensagens para o bot, e compartilhado o clipe em todas as mídias sociais. “É possível obter uma ótima análise de sentimentos em um piscar de olhos”, afirmou Ben Parr, diretor de marketing da Octane AI. O alto nível de engajamento dos Chatbots talvez se deva em parte à novidade. Mas, à medida em que a estratégia se tornar comum, eles terão de lidar com a visão negativa que o público têm dos bots, acumulada ao longo de anos por conta do uso de bots em contas fake em mídias sociais e, especialmente, por conta dos escândalos envolvendo cambistas virtuais. Eles se tornaram uma praga tão grande que, no ano passado, o presidente Barack Obama assinou uma lei proibindo seu uso para a compra de ingressos para eventos. “Eu odeio a palavra bot. Ela nunca esteve associada a coisas positivas”, afirmou Josh Bocanegra, executivo-chefe da Persona, que fundou a empresa em parceria com Milian. Bocanegra entrou no setor no ano passado, depois de fazer um bot da Selena Gomez para distrair a filha. A Persona cria chatbots customizados para clientes como Snoop Dogg e um para o personagem Christian Grey, de “50 Tons de Cinza”, que diz às fãs que se não puder confiar nelas, “Sua única opção será espancá-las”. Bocanegra afirmou que um bot básico pode ser encomendado por apenas US$2.500 mais taxa de manutenção. A Octane AI, que permite que qualquer pessoa utilize sua tecnologia para criar um bot, não cobra pelo serviço. A empresa é financiada por US$1,6 milhão de investidores, incluindo a empresa de capital de risco General Catalyst, e afirma que irá introduzir em breve uma versão paga do serviço. Até o momento, a capacidade dos bots de criar interações com artistas pop – mesmo que essas interações sejam apenas códigos de computador – foi o suficiente para intrigar os fãs. Sue Winett, fã do Maroon 5 da região de Los Angeles, afirma orgulhosamente que aos 61 anos de idade é muito mais velha que a média das admiradoras do grupo. Contudo, conta que seu amor pela banda a levou a acessar todas as formas de mídias sociais – seu nome no Twitter é @AdoreAdamLevine, em homenagem ao líder – e que, a não ser por alguns defeitinhos no programa, ela estava adorando conversar com o chatbot da banda. “Eu sei que é um robô. Isso me assusta? Não.”