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Evento busca empoderar mulheres que querem trabalhar na indústria de games

O Women Game Jam Brasil foi o primeiro evento específico para mulheres realizado em São Paulo

Por Felipe Laurence
Atualização:
O Women Game Jam Brasil foi o primeiro evento do tipo feito especialmente para a participação de mulheres Foto: Divulgação/Women Game Jam Brasil

Mulheres já são maioria no consumo de jogos eletrônicos no Brasil. O último levantamento pela Game Brasil, feita em 2017, apontou que 53,6% dos jogadores no País se identificam como sendo do sexo feminino. No Estado de São Paulo o número é ainda maior, com 62% de mulheres. Mesmo assim, elas ainda enfrentam muito preconceito e ironias na internet por gostarem de games e são minoria nos cursos e indústria de desenvolvimento de jogos.

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Pesquisa feita pela International Game Developers Association (IGDA) em 2016 mostrou que só 23% dos desenvolvedores no mundo são mulheres. No Brasil o número é ainda menor por se tratar de uma indústria que só agora está atingindo um nível de maturidade comparável aos de outros mercados mundiais. Pensando em diminuir essa disparidade, ocorreu em São Paulo entre os dias 20 e 22 de abril o evento Women Game Jam Brasil (WGJB), primeira game jam feita especificamente para mulheres, trans e não-binários.

Uma game jam (o termo é uma composição em inglês de game, jogo, e jam, de jam session do mundo da música, algo feito no improviso) é um evento em que desenvolvedores se juntam, pessoal ou virtualmente, com o intuito de criar jogos do zero sobre um tema predeterminado em um curto espaço de tempo. A WGJB foi realizada simultaneamente com uma outra game jam só para mulheres, que ocorreu na Alemanha, e teve como tema remake, ou seja, remasterizar um jogo já lançado.

Cena do jogo 'Roseline X', um dos jogos desenvolvidos durante o Women Game Jam Brasil Foto: Divulgação/Women Game Jam Brasil

"Às vezes você tá em um grupo, desenvolvendo um jogo, e pensa 'poxa, sou a única mina e não conheço outras mulheres que trabalham' ou as que eu conheço são nomes estabelecidos na indústria que só conheço pelo Twitter. Aí você vem pra um evento como esse e acaba conhecendo outras meninas que também fazem a mesma coisa que você", explica Nayara Brito, 22, organizadora do WGJB.

"Existem outras jams pelo País, mas o problema é que apesar delas participarem, você não as vê integradas: elas participam de equipes comandadas por homens, mas é difícil ver só mulheres em um único grupo", continua Nayara. "Trazer todas essas mulheres aqui mostra que tem como fazer algo só de mulheres, e sim, coisas legais. Mostrar que elas podem se integrar, se conhecer e que existem mais mulheres trabalhando com games", reflete.

"A gente, há anos, só vê a indústria por uma perspectiva masculina e por algum motivo velado não há espaço para as mulheres criarem games delas, sobre elas", disse Vitor Santana, 25, um dos idealizadores. Para Vitor, um evento como a Women Game Jam Brasil é importante para mostrar às mulheres que há espaço para elas na indústria.

Para Natália Barreto, 27, produtora na Manifesto Games, que fez palestra no WGJB, a importância de um evento como esse é colocar mulheres em posição de liderança "Pra mim o enfoque é esse, colocar mulheres em posição de liderança criativa e tirar a estigmatização que mulheres nos games são criaturas infiltradas, começar a pensar em projetos pensados por mulheres de uma maneira que as empodere na indústria", diz. "Muitas vezes mulheres entram nos games por conta de influência do amigo, irmão, namorado, de homens em geral. Precisamos criar uma cultura em que mulheres impactem mulheres para entrar na indústria", completa.

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Segurança e criatividade. Entre as participantes do evento, a sensação é que uma game jam só com mulheres dá mais segurança e liberdade para elas se expressarem criativamente. "As game jams me davam um pouco de agonia porque é comum ter um ou outro cara que te trata com condescendência, então acho que a WGJB é uma maneira das meninas se sentirem confortáveis e não ter a expectativa o tempo todo que alguém vai ficar te empurrando pra baixo", diz Débora Pinto, 23, ilustradora.

A programadora Stella Lage, 20, também concorda com isso. "A área de jogos ainda tem muitos homens que te olham estranho. Ter um evento como esse traz uma sensação confortável e também [contribui] para trazer mais meninas para o mercado", explica. Já a designer Joyce Cavallini, 23, fala que o WGJB gera identificação. "O evento traz muita identificação para a gente porque já deixei de ir em outros eventos por me sentir desconfortável em ser minoria, jogada de lado e sendo tratada como bicho estranho", falou.

Cena do jogo O Mistério do Incêndio do Hotel, desenvolvido durante a Women Game Jam Brasil Foto: Divulgação/Women Game Jam Brasil

"Um evento como o WGJB é importante para desmistificar algumas coisas para pessoas que acham que mulheres não gostam, não jogam ou não trabalham com games. Também é uma oportunidade de trabalhar em conjunto com outras mulheres que gostam das mesmas coisas que você, é bom até mesmo para se colocar no mercado no futuro", diz Vitória, 23. "Essa ação é muito boa para realmente começar a empoderar as mulheres que querem dar o passo inicial na indústria", completa Angélica, 32.

Apesar de originalmente contarem com 63 pessoas inscritas, pouco menos de 20 participaram presencialmente no campus dos cursos de exatas da Pontifícia universidade Católica (PUC) em São Paulo nas 48 horas que durou o evento. A organização acredita que o pouco tempo entre o anúncio e a realização da WGJB contribuiu para o público reduzido. Por isso, a organização já está planejando a segunda edição. Ainda assim, foram produzidos três jogos no evento, que podem ser baixados clicando no link.

*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais

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