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Em atividade escolar, alunos dão conselhos a Emilly, do 'BBB', sobre relacionamento abusivo

A Escola de Ser, de Goiás, tem metodologia que foca na desconstrução de estereótipos de gênero

Por Hyndara Freitas
Atualização:
Marcos foi expulso do 'BBB17' após a polícia concluir que houve agressão dele contra Emilly. Foto: Globo/Paulo Belote

A Escola de Ser, de Rio Verde (GO), trabalha com uma metodologia democrática, em que os próprios alunos sugerem atividades, temas e regras da escola. Nesta semana, durante uma aula sobre desigualdade de gênero, algumas crianças e adolescentes comentaram o caso de Emilly e Marcos do Big Brother Brasil 17.

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"Nós temos duas assembleias por dia, em que as crianças contam o que está acontecendo, o que elas viram. Então os alunos trouxeram esse caso na assembleia e, na hora da aula, discutimos o assunto", explicou Nathalia Borges, coordenadora pedagógica de projetos de relação de gênero, ao E+. "Eu resolvi promover essa atividade, em que eles aprenderam a nomear o que aconteceu. Como a gente trabalha com o empoderamento das meninas e com a masculinidade para a igualdade, elas tinham que nomear a agressão, dar um conselho para Emilly e também para o Marcos", diz Nathalia.

A coordenadora ainda ressaltou que não acha que BBB seja "programa de criança", mas o que acontece dentro do reality vira assunto fora dele e chega até os pequenos: "Concordo que criança não deveria assistir 'BBB', mas é um assunto que os alunos simplesmente veem por aí, está em todas as chamadas, nas redes sociais, os colegas e a família comentam, então a gente faz o quê? Usa um assunto negativo que repercutiu para transformar em aprendizado."

Na atividade, alguns alunos aconselharam Emilly a procurar a delegacia e também mostraram apoio a participante, dizendo que ela não deveria ficar triste. "Emilly, não te conheço pessoalmente mas vi o que aconteceu com você no reality show, sei quanto sofreu com o relacionamento abusivo com oMarcos, sei que você pode se sentir culpada, mas não fique assim. A culpa não é sua. Se tem alguém culpado é o Marcos. Te acontselho a ir em uma delegacia e denunciá-lo. Não fique triste e independente da sua decisão estarei aqui para te apoiar. Seja forte como sempre foi, beijos e abraços", escreveu uma criança.

A metodologia aplicada pela Escola De Ser neste caso é comum na instituição, que já usou outros temas de grande repercussão, como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "A cultura dominante está posta, o machismo está posto, é o que se encontra em tudo, em cada relação que a criança vive. É muito comum ela ver que só a mãe cuida das tarefas domésticas, muitas conhecem alguém que já sofreu agressão. Essas coisas precisam ter nome e precisam ser problematizadas. O caso do Marcos e Emilly foi exposto, e como a criança pode aprender essa realidade? É preciso que ela aprenda de uma forma que ela tenha autonomia para entender aquilo, então elas nomearam lá o que a Emilly sofreu. Naquilo que elas não têm direcionamento, a gente trabalha de uma forma que as ensina a ver o mundo uma forma crítica", disse a coordenadora.

A instituição é uma Organização Não Governamental (ONG) e atende crianças de 7 a 15 anos, que não são separadas por séries. São turmas mistas com todas as idades, e as atividades mudam conforme o desenvolvimento delas. Em 2013, a escola ganhou o prêmio Itaú UNICEF por ser pioneira ao trabalhar a desconstrução de estereótipos masculinos e femininos na infância. "A inserção da discussão de gênero na escola tem sido bem polemica desde 2014, e a gente quer desmistificar isso levando empoderamento para as meninas e empatia para os meninos com assuntos do dia a dia", completa Nathalia.

Veja alguns dos conselhos que as alunas e os alunos deram para Marcos e Emilly na galeria abaixo:

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