'É essencial criar uma comunidade de fãs', diz criador de páginas humorísticas de sucesso nas redes

Matheus Laneri é um dos administradores de páginas como 'O Brasil Que Deu Certo' e 'Legado da Copa'

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Por Hyndara Freitas
Atualização:
Rede social pode ser multada por omitir informações durante pedido de autorização de aquisição do WhatsApp Foto: Regis Duvignau/Reuters

Com mais de 1 milhão de seguidores, a página O Brasil Que Deu Certo (OBQDC) publica, no Twitter e no Facebook, imagens inusitadas e fatos bizarros que aconteceram no País. No OBQDC, não há espaço para texto - raramente as imagens são publicadas com legenda - mas há muito espaço para o humor.

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Um dos rostos por trás da página é Matheus Laneri, redator publicitário de 27 anos que também é um dos responsáveis pela página Legado da Copa, com mais de 400 mil curtidas no Facebook, e criador da Grandes Manchetes do Jornalismo Brasileiro, curtida por mais de 500 mil internautas.

A página Legado da Copa foi criada logo após a Copa do Mundo de 2014 e um de seus motes é a fatídica derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1. Já a Grandes Manchetes foi uma criação de Matheus ao perceber algumas manchetes com erros, trocadilhos e com pouca relevância em jornais e sites brasileiros. As três páginas são humorísticas, mas cada uma tem suas particularidades de público, conteúdo e interação.

Matheus conversou com o E+ sobre o humor na era das redes sociais, cuidados na curadoria de conteúdo e elementos importantes para manter uma página com sucesso e qualidade, e ainda falou sobre o processo judicial movido por Celso Russomanno contra uma de suas páginas. 

Em 2016, o Legado da Copa publicou uma montagem que simulava uma conversa entre um internauta e o então candidato à prefeitura de São Paulo. Na conversa fictícia, a pessoa fez uma aposta com Russomano: se a imagem conseguisse um número específico de curtidas e compartilhamentos, ele desistiria da disputa municipal.

Como é dividida a administração das páginas e a procura por conteúdo?

Na Legado da Copa são três pessoas (eu, o jornalista Raphael Evangelista e o redator publicitário Fabricyo Rodrigues). Na 'Brasil Que Deu Certo' sou eu, o Ciro Hamen, com quem eu faço os vídeos do canal homônimo no Facebook, e Hianna Alves, ambos jornalistas. E a Grandes Manchetes que sou eu e outra pessoa só, que é o Omar Godoy, também jornalista. A 'Brasil Que Deu Certo' eu entrei logo que foi criada, em 2015, e a 'Legado' foi criada imediatamente após a Copa, em 2014. A Grandes Manchetes eu criei em 2015. Nas três páginas, a gente sempre conta um com o outro na equipe para ajudar, e também contamos com os nossos próprios seguidores. Eles mandam muito conteúdo para a gente, não só curtem e comentam, como fazem questão de mandar conteúdo. A gente sempre tenta responder todo mundo nas três páginas. É muito legal a comunidade que a gente conseguiu criar com as três páginas. Cada uma é um público diferente, claro, mas num geral é uma grande comunidade e todo mundo se ajuda.

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Como é a interação com os seguidores?

Na verdade, tudo depende da situação do post. Quando a gente posta alguma coisa séria, sempre tem os babacas que estão fazendo piada, e aí a gente dá bronca. Às vezes, na Legado da Copa o pessoal xinga, mas não é um xingamento na maldade, ofensivo, é uma brincadeira, então a gente tenta interagir brincando. Na Grandes Manchetes a gente responde menos, porque lá tem tipo uma competição para ver quem faz o melhor trocadilho em relação às manchetes. Já na OBQDC, às vezes eles levam as coisas um pouco à sério. Por exemplo, recentemente nós postamos a imagem de um bolo de rivotril, justamente porque não faz sentido nenhum. Mas sempre tem aquele 'guerreiro social da internet', que chega e comenta falando que nós estávamos 'romantizando o rivotril'. Então cada público age de uma forma. Na OBQDC e naGrandes Manchetes a gente não responde muito, porque não faz sentido, já na'Legado' a gente brinca mais, até porque tem o personagem 'Legadão', que é a imagem de perfil da página, que o pessoal acha que é ele que está fazendo as postagens, então tem mais liberdade, até uma linguagem própria da página.

Qual é a diferença entre o humor do Twitter e o humor do Facebook?

As pessoas se levam muito à sério no Facebook.  A quantidade de haters, de justiceiros sociais, são maiores. Ali a gente tem que tomar cuidado com o que a gente vai postar, tanto pelas reações quanto para não dar problemas para as nossas marcas. Quem usa o Twitter, usa menos o Facebook e, no Twitter, não há espaço para 'textão'. No Twitter o pessoal é até mais solidário, o pessoal interage mais, é um público mais gente boa, e lá dá para fazer piadas ao vivo, a gente fica sempre de olho porque nossos fãs estão fazendo isso ao mesmo tempo. Já o Facebook depende mais de pequenos eventos. A gente sabe que MasterChef, que futebol, que o Big Brother, coisas pontuais assim, têm grandes chances de render uma piada, imagens que podem virar meme.

Há dias em que falta conteúdo?

Falta de conteúdo nunca vai ter, é impossível porque, na internet brasileira, o que não falta é besteira. Sempre vai ter assunto, é só olhar no Facebook, no Twitter, no YouTube, em qualquer lugar, seja atual ou antigo. Cerca de 95% do nosso conteúdo vem dos nossos seguidores, mas a gente sempre fica de olho no que pode virar post.

Você e os outros administradores esperavam esse sucesso das páginas?

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A gente fica meio surpreso. A gente se esforça sempre para entregar algo legal para todo mundo, não é uma obrigação. Mas é engraçado você ver tanta gente comentando nas páginas. A OBQDC tem mais de um milhão de curtidas, a Grandes Manchetes tem mais de 500 mil, e a Legado também. E ver páginas como essas com mais curtidas do que marcas. Tem uma galera que fica esperando a gente publicar tal coisa para poder compartilhar, é meio bizarro mas é muito gratificante.

A Legado da Copa foi processada por Celso Russomanno no ano passado por conta de uma postagem sobre ele. Como foi para vocês receber a notificação judicial? Isso afetou o conteúdo das páginas?

Nós fomos pegos de surpresa, porque aconteceu após o fim das eleições, e, claro, ninguém espera receber um processo. Mas recebemos por uma piada que não fomos nem nós que fizemos, apenas postamos um print de uma montagem que outra pessoa fez. Fomos processados, perdemos. Estamos recorrendo agora na última instância que sabe-se lá quando vai sair. Agora, sobre tomar cuidado com processos, isso acaba acontecendo. Após a primeira vez que você é processado, você sabe que pode acontecer uma segunda vez. A gente evita falar do Russomanno e de outros assuntos que podem gerar problemas, tanto na 'Legado' quanto nas outras páginas, a gente conversa entre a gente para decidir isso e também chega a excluir post se há algum problema. A gente posta prints de outros. Por exemplo: a pessoa manda um print de uma amiga dela que não curte a página, aí a gente posta, mas sempre toma cuidado de cortar o nome das pessoas para não dar problema. Às vezes, essas próprias pessoas vêm falar com a gente, alegando que era um momento privado e que não sabem como a foto ou conversa foi para nas páginas e, como a gente não quer complicar a vida de ninguém, a gente tira numa boa.

Dá para fazer humor sem ser preconceituoso?

A gente toma esse cuidado de não ofender minorias, não ser racista, homofóbico, machista, de não ofender ninguém. A gente não ganha nada com isso. A gente evita, nas três páginas, ridicularizar os outros, prejudicar a vida de alguém ou de alguma marca, a gente acaba perdendo seguidores e, sinceramente, até perdendo oportunidades, perdendo dinheiro.

Algum segredo ou dica para ter uma página de sucesso nas redes sociais?

Uma coisa essencial no Facebook é postar constantemente. Também é essencial construir uma comunidade de fãs porque são eles que te sustentam, são eles que te apoiam e que te ajudam. Um exemplo claro é o do Russomanno, que processou a gente num valor que a gente não poderia pagar (ele pede R$ 50 mil de indenização), não conseguiríamos nem pagar o advogado. Nós criamos uma vaquinha e nossos fãs nos ajudaram para pagar o valor para seguirmos com o processo, se não tivéssemos essa comunidade a gente não teria conseguido. Então se você responde o seu seguidor, você dá atenção ao que ele sugere, ele vai te retribuir, te seguir, compartilhar, comentar, indicar a página, ou o seu canal para outras pessoas, porque ele sabe que ali tem pessoas que falam com ele, que dão valor a ele, e, na internet, isso é o que há.

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