Ao vivo e offline: usuários reduzem acesso a redes sociais ao perceber consumo sem motivo

Corrente está sendo chamada de JOMO (Joy Of Missing Out) e propõe que se entenda o próprio comportamento nas plataformas

PUBLICIDADE

Por Sara Abdo
Atualização:
Aumento no consumo de redes sociais está associado a insegurança e solidão. Foto: Pixabay

Quando foi a última vez que passou o dia com sono e na hora de finalmente dormir se deitou com o celular e rolou a timeline sem quê nem para quê? Seguramente isso aconteceu na última noite e deve estar se repetindo há semanas - ou meses. E seu dia está passando muito rápido? Se cobra mais para ter a vida de um colega mas lá no fundo sabe que o estilo não é o seu? 

PUBLICIDADE

Esse tipo de questionamento tem provocado mudança de hábito em usuários das redes sociais que percebem uma queda na qualidade de vida. Se antes o temor era se sentir excluído (Fear Of Missing Out - FOMO), hoje há um prazer em se afirmar como alguém presente no mundo ao vivo, em carne e osso. A decisão de reduzir o consumo das redes sociais é o lema é do Joy Of Missing Out (JOMO). Para os que aderiram à ideia, está tudo bem se deixar de ver alguma novidade ou conteúdo interessante publicado no Instagram, por exemplo.

Um livro sobre o tema foi escrito por Christina Crook e está a venda na Amazon. Em um TED ela definiu nosso atual momento como um período cheio de informação, porém com escassez de desejos. 

“Acho que sou uma JOMO em andamento”, disse ao E+ a estudante de musicoterapia Giuliane Delucca. No início de 2017 ela percebeu que usava as redes sociais como um escape do tédio e do incômodo. Quando não estava muito bem, rolava a timeline mais frequentemente do Facebook, mas também do Instagram e do Twitter. Próxima da época da quaresma, ela decidiu que passaria um tempo com seu perfil no Facebook desativado. Seria só por 40 dias, e no total foram oito meses. “Senti uma paz engraçada por ter priorizado outros ambientes e ter mais atenção em coisas reais como meditação, estudo, leitura e sono”, conta.

Embora já conhecidos, os efeitos e sintomas mais comuns das redes sociais precisam ser lembrados. A especialista em psicoterapia cognitivo-comportamental Dora Góes fala sobre ansiedade e depressão. “O usuário quer saber o que vai acontecer, fica mais acelerado e impaciente”, podendo até ter manifestações como agressividade e elevação do tom de voz.“O problema não é o conteúdo da foto ou do post, é a expectativa por uma realidade que não é a sua naquele momento”, completa Dora. 

Para utilizar melhor o tempo, usuários de redes sociais estão reduzindo o consumo das plataformas. Foto: Pixabay

Aproximação efêmera e satisfação superficial. A dinâmica das redes sociais você conhece: um publica e o outro vê. O uso excessivo pode acontecer nos dois sentidos. Dora, que também é colaboradora do Programa para Dependentes de Internet do Programa Ambulatorial dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Faculdade de Medicina da USP, explica: “O aumento do consumo está associado a solidão e insegurança. Já o prazer ali se deve ao efeito da dopamina”, neurotransmissor do humor e emoção.

A psicóloga ressalta, no entanto, que os efeitos das redes sociais podem estar relacionados a predisposições já existentes nos indivíduos. “Um usuário que fica ansioso pode já ter características de ansiedade. Não existem estudos conclusivos sobre isso, ainda”. A sugestão é fazer um exame de consciência e tentar entender o próprio comportamento. Afinal, a rede social está ali para ajudar e só o internauta pode entender qual comportamento é saudável para ele.

Publicidade

Para Giuliane, o tempo sem Facebook e com menos consumo de Twitter e Instagram a fez perceber o quanto essa 'extensão' dela mesma a sugava. "Gostei da serenidade que senti". Ela reativou seu perfil e comenta a mudança que percebeu. "Estou mais tranquila e sempre com o desejo de não passar muito tempo por lá".

Meninas estão ficando instatisfeitas com a própria imagem corporal. Estudo mostrou relação com consumo de redes sociais. Foto: Pixabay

O desprezo pela própria imagem. Um estudo publicado em julho de 2017 identificou uma relação entre frequência de uso de Instagram e Facebook e insatisfação com a imagem corporal. Meninas entre 15 e 18 anos que acessam o Facebook até dez vezes por dia - consumo comum - têm 4,7 vezes mais chance de ficarem insatisfeitas com a própria imagem do que as garotas com acesso apenas mensal. Quanto ao consumo do Instagram, as que  usam o aplicativo mais de dez vez ao dia têm chance maior em 4,1 vezes de não aceitarem o corpo. 

Uma solução. Talvez se afastar das redes sociais como Giuliane fez seja um passo muito grande. E já adiatamos uma porposta: configure o celular e o deixe em uma escala de cinza. Alguns usuários já relatam que o feed fica menos atrativo, agita menos os pensamentos e cansa menos a vista.  

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.