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‘Ainda existe muito julgamento contra a vítima', diz aluna ‘cantada’ por professor

Docente disse à ela, na época caloura, que tinha visto fotos dela com shorts curto

Por Anita Efraim
Atualização:
Alunas e ex-alunas relatam assédios sofridos por professores e funcionários das universidades. Foto: Aidan Meyer_Stocksnap

Luiza (nome fictício) demorou algum tempo para entender que tinha sofrido um assédio verbal e que não era culpada por isso. “Sempre fui mais extrovertida e, por isso, algumas vezes já pensei que essas coisas acontecem comigo por ‘dar abertura’ demais”, afirma. A ex-aluna de publicidade e propaganda da Cásper Líbero passou por uma situação constrangedora com um dos coordenadores de seu curso.

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“A gente tinha um certo nível de ‘intimidade’, era mais um coleguismo. A gente se dava bem, mas como um bom relacionamento de aluno e professor, nada mais que isso”, diz.

“Um dia, aleatoriamente, ele comentou, em nível de brincadeira, que tinha recebido boas fotos minhas, usando shortinho bem curto no Jogos Universitários”, relata. “Entre outras ‘gracinhas’, essa foi a que mais me marcou”. Luiza ficou muito sem graça na hora, deu uma risada para disfarçar e tentou entender que fotos seriam aquelas.

“O fato é que eu nem tinha esse tal shorts que ele estava falando e respondi: ‘Não recebeu não, eu nem tenho esse shorts’.” Ela falou sobre o caso com alguns amigos, alguns estranharam, mas nada demais. “Acho que precisei de amadurecimento para perceber que aquilo era de fato um tipo de assédio, e entender aquele sentimento que eu tive”, diz.

Na época, ela preferiu não falar com a faculdade e avalia que não sabia da gravidade do que tinha passado. “Hoje, sendo sincera, mesmo com um posicionamento diferente não sei se entraria em contato com a faculdade. Penso que ainda existe muito julgamento, principalmente contra a vítima. Aquele sentimento que eu mesmo tinha contra mim ‘será que eu não sou simpática demais e causo isso?’”, questiona. “Além disso, uma caloura, enfrentar o coordenador, não é uma atitude fácil.”

Procurada pelo E+, a Cásper Líbero não se pronunciou sobre o tema do assédio dentro da instituição. 

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