Acaso os aplicativos de relacionamento contribuem para a cultura do 'ficar'?

Se você está procurando um relacionamento sério, mas permite que alguém entre em sua vida por mero prazer físico, será isto que você receberá

PUBLICIDADE

Por Erika Ettin
Atualização:
  Foto: Reuters

Mas o que é a cultura do "ficar"? A Wikipedia define a cultura do "ficar" (transar) como aquela que aceita e estimula encontros sexuais casuais, focalizando o prazer imediato e não o compromisso a longo prazo.

PUBLICIDADE

Em todo caso, não se trata de um fenômeno novo. A American Psychological Association (APA) afirma que este tipo de relacionamento se tornou mais frequente nos anos 1920, acreditem ou não, quando mais pessoas começavam a dirigir carros e a frequentar cinemas (ou seja, a sair da casa dos pais). Então, nos anos 1960, com a ascensão do feminismo e com o aumento do número de pessoas liberadas em termos de comportamento sexual, passou a ser ainda mais aceitável. A APA afirma, e eu concordo, que esta cultura representa hoje uma acentuada mudança na abertura e aceitação do sexo sem compromisso. Não conheço ninguém que espere até o casamento para fazer sexo. E vocês?

Por que estou escrevendo um artigo sobre a cultura do ficar (para fins sexuais), perguntarão? É que quero analisar as tendências atuais em termos dos aplicativos de relacionamento comparados aos que existem hoje.

Em agosto do ano passado, um artigo da Vanity Fair afirmava que o Tinder e aplicativos como ele estão começando o que chamam de "apocalipse do relacionamento". O artigo afirma que na sociedade dos nossos dias, muitas pessoas, principalmente as que entraram na juventude na passagem do milênio, estão avançando rumo a esta cultura do ficar à qual estou me referindo, em que tudo é determinado pela gratificação instantânea. O artigo prossegue afirmando que as pessoas nele descritas - em seus vinte anos, morando em Nova York - estão até mesmo usando o aplicativo como um jogo para ver com quantas pessoas conseguem ir para a cama em qualquer período de tempo. Segundo ele, a arte do relacionamento está se extinguindo, como a fita cassete e o telefone de fio.

Como especialista em namoro online, as pessoas me perguntam incessantemente: "Os aplicativos de relacionamento só servem para encontros para fins sexuais?" Minha resposta é sempre a mesma: "Sim, desde que vocês dois o procurem para este fim. Todo site pode ser usado para tudo o que você procura. 

Há mais pessoas "ficando" pelo JSwipe do que pelo eHarmony? Provavelmente. Será que algumas pessoas vão à caça nos sites de relacionamento "sérios" à procura de uma noite de prazer? É claro. E algumas pessoas encontrarão relacionamentos importantes, duradouros nascidos graças a um aplicativo como o descrito no artigo da Vanity Fair? Sem dúvida. 

Quanto ao argumento defendido pelo artigo sobre o fato de o mundo estar se tornando um lugar de relacionamentos casuais, me limitarei a afirmar que as pessoas recebem o que permitem. Se você está procurando um relacionamento sério, mas permite que alguém entre em sua vida por mero prazer físico, será isto que você receberá. Se, ao contrário, busca alguém que também procure o mesmo tipo de compromisso que você, então terá isto.

Publicidade

O uso dos aplicativos de relacionamento proporciona certos benefícios. Eles são eficientes. Quando você combina com alguém, pode encontrar aquela pessoa em algumas horas, ou mesmo minutos, dependendo da distância em que vocês se encontram. A química é o elemento imprevisível que você descobrirá ou não, por isso um encontro cara a cara, numa ocasião oportuna, é um dos fatores mais importantes de um relacionamento online. Além disso, em razão do sistema muito preciso do GPS, os aplicativos permitem que você encontre pessoas próximas de você, cujo caminho talvez ainda não tenha cruzado. Alguns serviços de relacionamento visam um raio no interior do seu código postal, que também localiza pessoas que, de outro modo, jamais conheceria, mas dentro de uma área muito maior. E finalmente, com alguns cliques e uma conta no Facebook, você pode criar um perfil.

Quanto à conveniência de usar o Tinder ou qualquer outro aplicativo para encontrar um relacionamento, isto é com você. Eu não acho que as pessoas devam usar todos os recursos disponíveis. Não use nada por causa da fama que tem./Tradução de Anna Capovilla

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.