Conheça projeto de apartamento que usa madeira para compensar excesso de iluminação

Harmonia entre iluminação, cores e revestimentos sugere maior leveza

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Por Vivian Codogno
Atualização:

A mensagem primordial que a arquiteta paulistana Flavia Campos absorveu quando se envolveu no projeto de reforma deste apartamento foi o desejo dos proprietários, um casal com idade próxima aos 60 anos, de aproveitar o que a vida tem a oferecer. Ele, aposentado, assume-se enquanto um anfitrião que adora receber amigos. Ela, psicanalista, dedica seu tempo livre aos livros, ao cinema e à boa música. Traçado o perfil dos clientes, Flavia aceitou o desafio de dotar o amplo e luminoso espaço desse duplex de ambientes que fossem além do meramente utilitário.

Vista do living a partir do mezanino; ao centro, grande destaque da sala são as duas cadeiras assinadas pelo designer Sergio Rodrigues Foto: João Paulo Campos

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Logo de início, a arquiteta percebeu que a alegria do casal passava por aproveitar ao máximo a luz natural que entra no apartamento. Porém, a luminosidade intensa vinda das portas e janelas deixava a residência muitas vezes com uma atmosfera impessoal. Para aplacar essa sensação, Flavia apostou sem moderação na madeira do tipo freijó e revestiu portas, armários, móveis e superfícies verticais. E, conforme imaginava a arquiteta, a tonalidade do material ajudou a amenizar – e muito – a luz extrema.

“Tudo que é muito claro tende a parecer pouco confortável”, explica Flavia. “Por isso, optei por usar a madeira em tom claro. Ela realmente funciona como um agente moderador, sem produzir um contraste muito acentuado, que seria por demais agressivo aos olhos”, detalha.

Toque aveludado do tecnocimento no chão da cozinha suaviza o excesso de luz no ambiente e aumenta a sensação de conforto Foto: João Paulo Campos

A composição do piso também seguiu a preocupação central com o conforto e a fluidez. O chão dos ambientes foi recoberto, em parte, por mármore e, em outros momentos, por placas de tecnocimento acetinado. Na decisão pesou também a intenção de não abusar demais do branco e do consequente reflexo causado pela incidência direta da luz sobre superfícies muito claras. “É preciso encontrar um equilíbrio também para o piso, pois ele reflete muito a luminosidade. Caso contrário, o espaço adquire uma informação gélida, uma cara de cozinha industrial”, conta Flavia. Ao mesmo tempo, pontua ela, o uso do tecnocimento na cozinha deu ao ambiente uma informação de rusticidade. “É aquele chão em que você pode andar descalço, sabe? Ficou com uma cara de sala”, diverte-se a arquiteta.

Assim, a combinação equilibrada de cores e texturas entre pisos, paredes revestidas e o pé-direito alto deram a Flavia a chance de planejar os ambientes de forma ampla, de modo que os moradores e visitantes, ao percorrer os diversos ambientes, não sentissem uma mudança drástica da ‘paisagem’. Nesse sentido, a arquiteta não se furtou a derrubar paredes para ampliar o campo de visão e oferecer fluidez ao apartamento como um todo.

“A madeira nas paredes surge em contraponto ao piso. Seu uso valorizou o apartamento e amarrou todo o projeto. No mais, tudo o que fiz foi eliminar divisórias visuais. Empregadas nos móveis as cores concluíram o resto do trabalho”, reflete Flavia.

Uso da madeira tipo freijó em todos os ambientes do apartamento aplaca o excesso de luz e dá sensação de amplitude Foto: João Paulo Campos

Por fim, a ‘cereja do bolo’ do apartamento ficou a cargo de algumas sutilezas que preservaram a identidade e ajudaram a contar a história dos proprietários. O apreço do casal por design foi enfatizado pela presença de duas cadeiras do designer Sergio Rodrigues, no centro da sala de estar. O sofá da varanda, por sua vez, vem acompanhando as mudanças dos moradores ao longo de 20 anos e recebeu nova roupagem. Os vinhos e demais garrafas de bebidas garimpadas nas várias viagens realizadas estão acomodados em duas adegas localizadas estrategicamente no escritório, que guarda os rótulos de estimação dos moradores, e na cozinha, para receber os muitos convidados que não cansam de elogiar a atmosfera especial do apartamento.

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“É realmente gratificante chegar a um produto satisfatório aos olhos de seu cliente. Encontrar o consenso entre a vontade dos proprietários e suas intervenções. Saber ouvir, interpretar e levar isso para o projeto com um equilíbrio estético”, considera Flavia. “Nesse caso, o que mais me encantou foi traduzir esse clima de ‘dolce vita’ deles”, brinca a arquiteta, em uma referência ao clássico de Federico Fellini.

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