Talento visionário

O universo funcionalista de Pierre Paulin é tema de mostra assinada pela Louis Vuitton em Miami

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Por Marcelo Lima
Atualização:
O designer francês Pierre Paulin Foto: Marcelo Lima

"Meu objetivo foi conceber um espaço que pudesse ser construído ou desconstruído livremente. Pretendi, assim, ir além das limitações habituais, fazendo do usuário senhor e mestre de sua vida e obra", declarou o designer Pierre Paulin na apresentação de La Maquette: projeto de 1972, revisitado no mês passado pela Louis Vuitton, durante a 10ª edição da Design Miami.

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Concebida por Paulin para a fabricante americana de mobiliário Herman Miller, foi em torno da maquete -hoje parte integrante do acervo do Centro George Pompidou- que se estruturou a mostra Playing with Shapes, ou Brincando com Formas; que apresentou alguns de seus trechos construídos em escala natural, além de 18 móveis criações inéditos assinados pelo designer francês.

Entre elas, réplicas de seu assento-tapete e da sua célebre estante modular de madeira -desenhada para funcionar também como divisória- criados na década de 1970 para mobiliar os apartamentos privados do Palácio do Elysée, sede do governo francês.

Por meio de suas soluções simples e modulares, La Maquette materializa a opção radical de Paulin por interiores mais comprometido com as necessidades físicas e emocionais de seus usuários e menos com a expressão estética de um estilo de vida.

"Subscrevo a escola funcionalista. Sou impulsionado pelas exigências de conforto. São elas que me movem ", uma de suas máximas, atesta bem a aversão do designer em conceber seu ofício com uma forma de arte. "Minha estética é consequência das limitações de cada objeto. Ela não é, de maneira alguma, expressão de uma intenção artística."

Confesso admirador da Herman Miller -particularmente pelo fato da marca ter ter produzido os móveis do casal Charles e Ray Eames e por George Nelson, nos anos anos de 1950- o primeiro contato de Paulin com a diretoria da empresa acontece em 1969. 

Em discussão, a criação de uma linha de móveis residenciais, conectada diretamente com o DNA funcionalista da marca, por meio da qual, seus usuários pudessem construir ao longo do tempo o seu habitat ideal, com base em seus hábitos e história de vida.

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Conceitos revolucionários para a época, que ele explicitou em sua La Maquette, onde, de forma inédita apresentava interiores residenciais de desenho flexível, nos quais elementos horizontais e verticais (pisos, delimitando áreas e divisórias, a volumetria) permitiriam a seus habitantes criarem um número exponencial de configurações. 

Para Paulin, era o usuário que deveria determinar a sua relação com a casa e não o contrário. Segundo o designer, o uso personalizado dos espaços domésticos deveria ser uma prioridade, não uma consequência. Mas, definitivamente à frente de seu tempo, sua contribuição para o desenvolvimento do design não parou por aí.

Seu talento visionário o permitiu, por exemplo, olhar para como os jovens viviam desenhando móveis adequados aos novos tempos; se preocupar com a economia de meios; incorporar a seu vocabulário materiais sintéticos (plásticos, tecidos elásticos) além de, em última análise, antecipar a própria ideia de casa concebida como refúgio. 

"Espera-se de um designer, antes de tudo, a concepção de um objeto prático e, se possível, um toque de poesia e elegância", afirmava ele, que conta hoje com uma multidão de admiradores de seu estilo. Mais não fosse, pela sinuosidade de seus móveis e pela inegável sensação da beleza, fruto do equilíbrio perfeito entre desenho e uso que parece emanar de suas criações.

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