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Semana Criativa de Tiradentes propõe ponto de fusão entre tradicional e contemporâneo

Da interação entre designers e artesãos nasce uma nova safra de objetos que valorizam produção local

Por Vivian Codogno
Atualização:

Caminhar pelas ruas de pedra da mineira Tiradentes torna-se, com facilidade, um verdadeiro convite à contemplação e à reflexão. O tempo, que por ali parece correr de forma diferente, mais lenta, está estampado na sua arquitetura barroca ainda bem conservada em casas, museus e igrejas datadas do século 18. A ligação estreita do lugar com um período em que a história era contada essencialmente por meio da produção artística não passou despercebida da dupla de produtores culturais Simone Quintas e Júnior Guimarães, que identificou na cidade o cenário ideal para a realização da primeira Semana Criativa de Tiradentes, festival de arte, design e artesanato que reuniu criadores de todos os cantos do País entre os dias 26 e 29 de outubro.

Ambiente composto por peças elaboradas durante o período de imersão entre designers e artesãos em Tiradentes Foto: João Bertholini

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Isolado pela Serra de São José que emoldura o município, aquele pedaço da história brasileira tornou-se, ao longo dos anos, um ambiente fértil para a criação e o trabalho autoral. Mas foi a possibilidade de estender a produção artesanal local para outras esferas do design a mola propulsora para os idealizadores do evento.

“É impressionante como as pessoas não conhecem o Brasil”, pondera Simone. “Por isso, também, nossa intenção sempre foi fazer algo fora do circuito de São Paulo. Tiradentes, desde nossa primeira vista, se configurou a locação ideal. Aqui, os visitantes se aprofundam, submergem. Nada como vivenciar a cidade.”

De fato, tudo começou em maio deste ano, quando Simone e Júnior convidaram um time de designers formado por Paulo Alves, Maria Fernanda Paes de Barros, da Yankatu, Guilherme Leite Ribeiro e André Bastos, do estúdio Nada se Leva, e Daniela Karam, especialista em superfícies, para viverem um período de imersão no trabalho de artesãos nativos. Até então, sem objetivo delimitado, a ideia era mesclar o trabalho deste grupo à produção local. “A relação com o tempo é importante para a produção criativa. Tempo é contemplação. Se o festival tem alguma pretensão, é essa”, reflete Júnior.

À época, os convidados tiveram a oportunidade de interagir com figuras emblemáticas do artesanato local. Madeira, pedra, metal e tecido, matérias-primas para grande parte da produção artística da cidade, foram apresentadas pela bordadeira Maria da Conceição de Paula, pelo entalhador de arte sacra Rondinelly Santos, pela artesã Lilia Fonseca, pelo ferreiro Wagner Trindade e pelo escultor em pedra-sabão Expedito Jonas de Jesus. Do encontro entre os participantes, artesãos e designers, nasceram peças até então nunca imaginadas, como a caixa de pedra-sabão esculpida por Expedito e bordada por Maria da Conceição. “Para que fosse possível bordar, fiz 180 furos na pedra. Precisei parar três vezes para tomar café de tanto furo que era”, brinca ele. “Cheguei em casa e não quis nem jantar, quis pegar nessa pedra”, conta sua parceira.

Para os designers que propuseram as interações, foi uma a experiência única. “Não houve preocupação em transformar um produto para custar fortunas em uma galeria. Parecíamos crianças brincando”, afirma André Bastos.

Além de dar origem a todo um acervo de peças inéditas, a Semana Criativa também promoveu uma série de debates, cujas discussões passaram, invariavelmente, pelo estilo de morar mineiro, característica que, conforme apontam os participantes, têm tudo a ver com uma das atitudes mais em evidência entre os designers nos últimos tempos: o movimento slow, que defende uma casa vivida com menos aceleração, mais personalizada por objetos afetivos e menos padronizada. “A ideia é que a Semana se converta em um lugar onde as pessoas discutam – e pratiquem – design brasileiro”, explica Simone Quintas. E como todo bom mineiro tem muitas histórias para contar, a Semana Criativa de Tiradentes já tem data marcada para a próxima edição: de 25 e 28 de outubro do ano que vem. Haja prosa.

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