Prontos para a (In)Vasão?

Reunidos em exposição coletiva, jovens designers invadem a cozinha

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Por Marcelo Lima
Atualização:
O escorredor de pratos Typedryer, do estúdio Outra Oficina Foto: Divulgação

Difícil imaginar hoje uma área da casa tão sujeita a radicais transformações quanto a cozinha. Misto de laboratório de preparação de alimentos, espaço de convivência e centro de lazer, não surpreende que nos últimos anos ela tenha se tornado um dos alvos preferenciais da indústria. Nem que desperte, como nenhuma outra, a atenção de tantas mentes criativas.

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Propondo um olhar inédito sobre utilitários aparentemente banais, como escorredores de prato ou de macarrão – mas tendo como pano de fundo um dos fabricantes internacionais de maior relevância do setor, a italiana Valcucine –, (In)Vasão, mostra sob curadoria do crítico de arte Waldick Jatobá, se propôs a unir as duas pontas.

“O tema inspirou muito positivamente os designers. Poucos haviam criado peças relacionadas ao ambiente. Foi muito motivador”, comenta ele a respeito da primeira incursão do grupo em torno de um assunto comum. “Eles procuraram trabalhar em grupo. Mantendo as poéticas individuais, mas com vistas a criar objetos que dialogassem entre si naturalmente.” 

A escolha dos participantes também se deu de forma espontânea. Todos já se conheciam da Made, feira anual de design que conta com curadoria de Jatobá. “Em janeiro, resolveram montar o grupo e o resultado esta aí”, relata. Para Bruno Simões, um dos participantes, criar para a cozinha se resumiu a um exercício de geometria. Para Renato Almeida, outro dos membros, à simples observação de seu cotidiano. 

“Sempre usei o escorredor de macarrão para lavar salada e vice-versa. Então, pensei em criar uma peça que pudesse servir para as duas coisas e ainda ir à mesa”, conta ele, que, para imprimir ao objeto uma dimensão mais poética resolveu misturar aço inox com cerâmica e acabou desenhando dois talheres para acompanhar a peça. “Uma mistura de hashi com garfo e pá de jardinagem”, comenta. 

Partindo também da ideia de conferir dupla utilização para um mesmo objeto, Ana Neute e Rafael Chvaicer desenharam uma taça de cristal que serve tanto para vinho e água quanto para vinho branco e tinto. “Nosso maior interesse foi questionar o formato tradicional da taça. Tentamos ver como ela funcionava, tencionar ao máximo seus limites, ver até onde ela poderia nos levar”, explica Ana

“Pego um objeto puro e simpático, faço uma pequena mudança, introduzo um elemento discordante. Isso é design”, complementa Chvaicer, citando o designer e teórico italiano Enzo Mari. “No nosso caso, partimos da ideia de fazer uma taça com dois bojos no lugar da haste e descobrimos que fazer um deles maior do que o outro cria mais interesse. Tanto formal quanto funcional”, resume o designer.

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Também às voltas com as possibilidades oferecidas pelo vidro, Carol Gay resolveu destacar em suas criações toda a sofisticação de acabamento possibilitada pela matéria-prima, principalmente em face de seu baixo custo de fabricação. Ela criou quatro peças: o vaso e o recipiente para líquidos Bola e a série Metro, com xícara de café e copo, de cristal. “Neles trabalhei com moldes pré-existentes, mas adicionei um dado novo, uma alça de aço.”

Com aparência escultural, os objetos criados por Leo Capote e Marcelo Stefanovicz, do estúdio Outra Oficina, investem no desenho de peças contemporâneas, a partir da associação de componentes deslocados de seus contextos originais. “Na criação de nossas peças revisitamos três universos: música, ferramentas e design. Nos apropriamos do corpo de uma antiga máquina de escrever e a transformamos em escorredor de pratos”, sintetiza Capote.

“O mais gratificante foi constatar que, apesar de toda liberdade de criação, os designers conceberam uma coleção coesa, em que fica evidente o diálogo entre seus diferentes criadores”, comemora Jatobá, para quem a experiência não se resume a seu aspecto conceitual. “Nada impede que no futuro esses objetos possam chegar ao mercado.” Vamos torcer.

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