Por um design para poucos

Empresa italiana produz objetos, em séries numeradas, com intenção de se aproximar da arte

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Por Redação
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Texto e produção de Marcelo Lima

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Fotos de divulgação

 

Nascido sob o signo da indústria, com o objetivo de viabilizar a produção de bens de consumo, o design vive um momento de contradição: ao mesmo tempo em que aumenta, em todo mundo, a demanda por produtos assinados e mais significativos, cresce, entre os profissionais, o interesse em compartilhar o restrito e exclusivo espaço das galerias de arte. Prova disso, os preços alcançados nos leilões internacionais por alguns móveis não param de bater recordes.

 

Atenta ao movimento do mercado, a Zerodisegno, empresa italiana sediada na região da Lombardia, já ensaia uma reação: produzidos em pequenas séries, seus objetos se tornam fatalmente exclusivos dados os procedimentos muitos particulares empregados na sua fabricação, além, é claro, da assinatura de grandes nomes do cenário internacional.

 

Particular ao universo da empresa, a convergência de várias disciplinas em seus projetos– arte e design, fotografia e artesanato– além do incentivo ao uso de processos e materiais não convencionais são outros dos seus diferenciais. Segundo seu diretor e mentor, Massimiliano Tonelli, é justamente este conjunto de características que funciona como principal atrativo para os grandes mestres do design que figuram em suas coleções.

 

"Aqui eles sabem que vão encontrar condições de expressar sua criatividade, o que significa que, uma vez convidados a trabalhar conosco, eles estão naturalmente dispensados dos esquemas impostos pela produção industrial. Não existem restrições comerciais, nem a escolha obrigatória de materiais para se produzir algo de forma mais fácil e barata", explica.

 

"Habitué" da casa, Gaetano Pesce, designer e arquiteto que recentemente visitou o Brasil, confirma a tese defendida por Tonelli. Para a Zerodesign ele assinou a vanguardista coleção "Nobody's Perfect" de mesas e poltronas em resina de poliuretano. Como cada peça é feita a partir do derramamento do material ainda em estado líquido dentro dos moldes, o resultado final, em termos de cores e transparência, é imprevisível. O que contribui ainda mais para aproximar a peça do objeto artístico. "Cada peça é feita à mão, sendo, portanto, diferente e única. Por isso, exijo que venha acompanhada da assinatura da pessoa que a produziu"; conta Pesce. Usando procedimentos adotados no mundo da arte, a série de mesas e cadeiras desenhadas por Mimmo Rotella, um dos maiores especialistas italianos na área de "découpage", se propõe também a romper com a barreira do banal e perseguir o ideal do exclusivo.

 

Partindo de fotografias de algumas de suas mais importantes obras– o artista é considerado um dos principais representantes do neorrealismo na Itália– Rotella deliberadamente "copia" e depois transforma suas obras em laminados plásticos que, posteriormente, são cortados ao acaso e passam a revestir os móveis desenhados por Marco Ferreri. Assim, cada peça da série, mais uma vez, se diferencia de todas as outras.

 

Circulares em todos seus componentes, as mesas em alumínio, desenhadas por Alessandro Mendini para a coleção, faz do círculo uma espécie de "leitmotiv" que aparece na base, no tampo e até nas fotografias– de autoria do designer– que surgem incorporados a seu tampo. As mesas são todas numeradas e, originalmente, assinadas pelo mestre italiano.

 

"Nossa filosofia de trabalho vai além do conceito convencional de ‘Limited Edition’. Ele se aproxima mais da atmosfera dos ateliês do Renascimento. As peças de Mimmo Rotella, por exemplo, são todas numeradas, enquanto os móveis de Gaetano Pesce são datados e, em seguida, assinadas pelo operário que os executou. Assim, cada um deles se torna co-autor da obra", reconhece.

 

Atual menina dos olhos de Tonelli, o arquiteto norte-americano Greg Lynn, vencedor do Leão Dourado na Bienal de Arquitetura de Veneza do ano passado apresentando um conjunto de mesas feitas a partir de brinquedos reciclados, já aceitou o convite para uma colaboração com a Zerodisegno, que não confessa, mas planeja, colocar em linha seus premiados móveis. "Estou continuamente procurando seres criativos. Já colocamos os móveis de Greg na exposição que realizamos durante a última semana do design de Milão. Agora, se elas vão ou não entrar em linha vai depender de sua viabilidade", pondera o empresário italiano. Mas, convenhamos, em se tratando da Zerodisegno, alguém ainda duvida?

 

(marcelo.lima.antena@estadao.com.br)

 

FOTOS | 1. Tampo de mesa de vidro laminado, com fotografia, desenhada por Alessandro Mendini. 2. De Mimo Rotella, mais um tampo de mesa com imagem aplicada. 3. Mesas de resina da série criada por Gaetano Pesce para a Zerodisegno. 4. Biombo feito por Mimo Rotella a partir de cartazes antigos de cinema. 5. Mesas da série Toy Furniture, com base de resina, criada por Greg Lynn. 6. Esboços de Alessandro Mendini, no processo de criação das mesas com fotografias. 7. Série assinada por Alessandro Mendini para a empresa italiana

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