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O tempo passa, eles ficam

Mostra Ícones do Design França-Brasil, em cartaz no MCB, reúne peças que fazem história nos dois países

Por Marcelo Lima
Atualização:

Por toda a história, os ícones sempre foram objeto de veneração ou acirrada polêmica. O design não foge à regra. Por mais bem-intencionada que seja qualquer lista, sempre haverá um injustiçado em meio aos felizes eleitos. Ícones do Design França-Brasil, mostra em cartaz no Museu da Casa Brasileira (MCB), sob a curadoria dos críticos Adélia Borges e Cédric Morisset, encara o desafio e acaba de pinçar seus favoritos, em meio a quase um século de produção de Brasil e França.

 

 

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"O que é ícone para um francês talvez não seja para um brasileiro. De fato, a noção de ícone é puramente relativa", argumenta o francês Cédric Morisset, jornalista e curador, encarregado da seleção de seu país em terras brasileiras – um conjunto de objetos, sobretudo móveis, que surpreende pela capacidade de absorver as tecnologias mais avançadas de cada época. Retrato de um país em que a engenharia desempenha papel-chave.

 

Indo de Philippe Starck a Jean Prouvé,passando por Pierre Paulin e pelos contemporâneos Ewan e Ronan Bouroullec, a seleção coloca em evidência a permanente preocupação do designer francês em integrar os aspectos industrial e estético nos objetos – como uma divisória disforme formada por centenas de peças, uma cadeira vintage ou a primeira poltrona produzida com plástico transparente.

 

 

Do lado brasileiro, transparece o interesse da curadoria em selecionar produtos cujo valor transcende o meramente funcional ou utilitário, incorporando também dimensões simbólicas e emocionais. "O confronto direto entre as duas linhas de abordagem permite ao visitante captar esses conceitos de maneira imediata, sem necessidade de intelectualizar demais a exposição", saúda Cédric.

 

"Uma curadoria implica não somente incluir, mas, sobretudo, excluir muitas coisas", lembra Adélia Borges, que optou por uma seleção de notável atualidade, realçando características peculiares ao móvel brasileiro, tais como a leveza, a descontração e a flexibilidade. "Por caminhos diferentes, pode-se perceber uma referência à nossa popular rede em móveis como a poltrona Mole, de Sergio Rodrigues, ou a cadeira Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha", diz ela.

 

 

MEMÓRIA AFETIVACom enfoque ampliado, as escolhas de Adélia tiveram como alvo preferencial a memória afetiva, os projetos que imediatamente vêm à mente quando se fala em ícones do design brasileiro. "Claro que os critérios variaram de produto para produto. Mas, de maneira geral, procurei me orientar pelos que ecoaram mais no consumidor. O que, se tratando de design, é uma qualidade nada desprezível."

 

As sandálias havaianas, o biquíni, a rede de descanso feita de tecido e o design da calçada de Copacabana estão lá, devidamente representados. Se alguns objetos são de reconhecimento imediato, outros têm popularidade menor, mas nem por isso desprezíveis. A esse fio condutor somam-se fatores como a importância do projeto na história do design verde-amarelo e a influência na própria cultura brasileira. Caso do mobiliário desenhado pelo francês Michel Arnoult ou pelo polonês Jorge Zalszupin, que aparecem ao lado de móveis hoje clássicos, assinados por Joaquim Tenreiro e Lina Bo Bardi, designers também de origem europeia, mas fortemente identificados com o Brasil.

 

 

No fim das contas, a capacidade de bem expressar o espírito de seu tempo é o melhor critério para se tornar um ícone. Afinal, se poucos podem comprar uma cadeira Vermelha, dos irmãos Campanas, existe a opção de se adquirir uma sandália Melissa. "E elas estão aí para satisfazer o desejo de quem quer ter um produto assinado por eles", diz Adélia.

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