Apagar qualquer traço do que aquele lugar havia sido até então. Foi esse o desafio do arquiteto Ariel Bery, da MNBR Arquitetos, encarregado por um publicitário de 30 anos de dar uma feição completamente nova a um apartamento de 90 m², no Itaim Bibi, que conservava muitas marcas de seus antigos moradores.
Além disso, com mais de 50 anos de construção, o imóvel, com ambientes totalmente compartimentados e pouco iluminados, nunca havia passado por uma reforma estrutural, o que ficou latente logo no início das obras. “A infraestrutura estava muito danificada. Fomos caminhando conforme o apartamento ia se ‘revelando’”, brinca o arquiteto.
Apesar de espaçoso para um único morador, o excesso de divisórias era tudo aquilo que o dono simplesmente não desejava. “A ideia foi mudar totalmente. O morador queria integrar a cozinha com a sala, entretanto outro desafio se impunha: uma viga entre os dois ambientes que impedia a integração”, conta Bery.
Para contornar o problema, a equipe teve a ideia de abrir uma passagem embaixo da viga e criar um móvel vazado que não só possibilitasse a visualização da cozinha, mas, ao mesmo tempo, oferecesse espaço suficiente para o morador expor os muitos objetos que ele costuma trazer de suas viagens.
Uma vez definidas as mudanças estruturais, o projeto de interiores priorizou uma abordagem minimalista. Na sala, por exemplo, cada peça foi vista como se fosse única. A mesa conta com seis cadeiras diferentes, com apenas uma conexão: a cor preta, usada para criar contraste com a madeira clara do tampo. Contraposição também levada em conta na escolha do móvel principal, de ferro preto.
A iluminação recebeu atenção redobrada. No lugar das janelas pequenas que existiam, foi colocada uma maior, com quatro trilhos para aumentar o vão da abertura. “Aproveitamos a vista que o prédio proporciona. Já a luz artificial acompanha o minimalismo da decoração. Utilizamos luminárias embutidas. É como se houvesse um só ponto de luz no teto”, diz.
A suíte, por sua vez, ganhou um novo armário com o deslocamento da divisão então existente entre ela e o outro quarto. “Nosso cliente gosta muito de pintar e, portanto, resolveu usar o outro quarto como ateliê”.
Um enfoque mais brutalista se revelou nas demais áreas: o banheiro, por exemplo, foi remodelado com porcelanato que imita pedra, tanto no toque quanto na aparência. Já na cozinha, o piso de cimento queimado avança até a parede da sala. “Esse revestimento aumenta a sensação de que tudo está integrado, reforçando a ideia original”, lembra o arquiteto.
Por onde quer que se olhe, porém, existe sempre uma referência à arte ou ao design. Do banheiro à sala, passando pela cozinha. “Utilizamos algumas peças que ele já tinha, mas também acrescentamos outras, revelando essa nova fase na vida do morador.”