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Mostra revisita 34 anos de trabalho dos Irmãos Campana

De peças raras a trabalhos recentes da dupla, catálogo de exposição deixa abordagem cronológica e dá lugar a pesquisa de materiais 

Por Marcelo Lima
Atualização:
Sofás criados para a Edra, um dos objetos da exposição de trabalhos dos designers. Foto: Irmãos Campana - Museu Oscar Niemeyer

De imediato, a arquitetura do museu se impôs no imaginário dos irmãos designers. “Concebemos toda a cenografia para dialogar com a arquitetura do Niemeyer”, revela o advogado de formação, Humberto. “Ele foi uma das pessoas que maior influência exerceu sobre nosso trabalho”, complementa Fernando, a porção arquiteto da dupla, muito embora a concepção da exposição, como de quase tudo o que foi produzido em 34 anos de parceria ininterrupta tenha se dado a quatro mãos.

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Em cartaz até 20 de agosto no Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba, Irmãos Campana é a terceira grande retrospectiva da obra dos designers brasileiros de maior projeção dentro e fora do País. Totalmente produzida e idealizada para o museu, reúne 130 criações, em um ambiente exclusivo, com cerca de 1.500 m².

Com curadoria da arquiteta Consuelo Cornelsen, perpassa quase quatro décadas de trabalho dos irmãos nascidos em Brotas, interior de São Paulo, que se notabilizaram, internacionalmente, por incorporar a ideia de transformação, reinvenção e integração do artesanato à produção de móveis e objetos. Mas também por agregar a ela cores e soluções tipicamente brasileiras. Reunindo de peças raras como três cadeiras de ferro bruto, da coleção inaugural, Desconfortáveis, de 1989, a trabalhos de tiragem mais recente, como a coleção Assimétrica, criada para a Tok & Stok, (ver pág.18), onde eles mergulham de cabeça no universo da produção industrial com o objetivo declarado de ampliar o raio de alcance de seus móveis, a mostra, acertadamente, abriu mão de uma abordagem de base cronológica. 

Mais do que se fixar em uma linha do tempo, a curadoria optou por priorizar a pesquisa dos materiais como critério seletivo. “ Cordas, couro, metais, madeira, piaçava, acrílico, papelão, vidro, fibras sintéticas ou natural. O trabalho deles nasce dos materiais, muito mais do que de qualquer desenho”, argumenta Consuelo, em uníssono com os designers. “Eu vejo os materiais dessa forma. São eles que sempre acabam por conduzir ao projeto final. A possibilidade de trabalhar com um material novo para nós pressupõe um diálogo com uma nova estética, um novo conceito. Por isso que eles são importantes no nosso trabalho”, afirma Fernando. 

Fiel a esta abordagem, do olhar de Cornelsen não escaparam, nem poderiam, peças icônicas comoas poltronas Vermelha (1998), Favela (2003) e a Corallo (2003), todas da Edra. Mas também outras menos conhecidas, produzidas por empresas de todo mundo, como a moveleira brasileira A Lot of Brasil, as editoras italianas de utilitários Alessi e Skitsch e a fabricante de lustres de cristais checos, Lasvit. Exemplos evidentes do potencial de difusão internacional da obra dos irmãos.

Objetos produzidos em pequenas séries para galerias especializadas em colecionismo, como a nova-iorquina Friedman Benda Gallery e a Firma Casa paulistana também estão bem representados. Assim como criações feitas sob encomenda para gigantes da moda internacional como Grendene, Lacoste e, mais recentemente Louis Vuitton. Grifes que trazem em seus catálogos produtos assinados pela dupla.

“Nunca nos interessou limitar nossa criação a uma disciplina específica. Fizemos do design nossa força motriz, sem dúvida, mas sempre estamos propondo diálogos com outras áreas. Queremos fazer pontes, não criar fronteiras”, afirma Humberto, que por isso viu com bons olhos a ideia de levar à mostra curitibana uma faceta menos conhecida do trabalho dos dois: a de seus não poucos experimentos artísticos.

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Dele, por exemplo, comparecem esculturas de palha. De Fernando, além de gravuras, pequenos objetos, tri e bidimensionais, obtidos por justaposição de diversos elementos, garimpados nas locações mais inesperadas. “Por meio das minhas colagens, me reciclo, me exercito. É um constante aprendizado que acabo aplicando a meu trabalho como designer. Não dá para saber onde começa uma coisa e termina outra. Tudo é um eterno ir e vir”, resume.

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