Modelo australiano

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Por Redação
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 A casa erguida por Linda Dodwell em Sonoma, na Califórnia. Foto: Matthew MillmanA necessidade humana de inventar fantasias arquitetônicas vai longe. Tal compulsão parece particularmente aguda na Califórnia, terra da eterna autoinvenção, onde vilas toscanas reinam sobre as encostas do Napa Valley e estrelas de cinema refestelam-se em falsos castelos da Bavária. Nessa escola de design em que as casas fingem estar em outros lugares, poucas se equiparam ao complexo inspirado nos cafundós australianos que Linda Dodwell, intrépida motociclista, aventureira e artista, construiu em 20.200 m² no condado de Sonoma, com a ajuda de um arquiteto de Melbourne. Ela, de 63 anos, pode ter sido a única americana a ter se "encantado arquitetonicamente" com o lugar, enquanto pilotava sozinha uma moto, nos 4.827 quilômetros entre Melbourne e Perth. "Fui envolvida pelo senso de humor irônico deles", diz Linda a respeito de sua atração pelos australianos e sua cultura. Ela fez sua primeira viagem à Austrália em 1989. E o interesse por motos surgiu quando era estudante de arte em São Francisco. "Minha vida estava se dissolvendo", diz. "Fui para a Austrália para arejar." Logo seus olhosficaram familiares às nuances da paisagem, especialmente para os tanques de água que são "parte da iconografia das propriedades australianas, uma questão de sobrevivência", segundo Michael Rigg, o arquiteto contratado por Linda, que, até seu recente segundo casamento, passou anos dividindo seu tempo entre a Costa Leste e a Austrália, restaurando um bangalô próximo a Melbourne e renovando uma cabana perto de Adelaide. Linda ficou íntima do artesanato australiano colecionando o trabalho de escultores de prestígio, como Rosalie Gascoigne, e de artistas plásticos como a aborígine Emily Kame Kngwarreye. Desse modo, não foi um grande salto - apesar de ter sido uma mudança bem cara - levar toda a sua paixão pelas coisas antípodas da Austrália para a casa na Califórnia. "Se eu pude percorrer mais de 4 mil quilômetros em uma moto, poderia fazer qualquer coisa." Rigg visitou o lugar algumas vezes e trabalhou com o arquiteto californiano Shawn Montoya, num processo que começou em 2000 e levou cinco anos. Muito foi desenhado e montado na Austrália e Linda viu beleza em aspectos da paisagem que muitos desprezavam, como os tanques de água escondidos na casa. Duas casas Localizada numa fazenda de 1906, a casa foi idealizada em torno de um costume australiano rural, onde é comum ver duas casas no terreno, uma ao lado da outra - "uma antes de a família fazer dinheiro e outra depois", revela Rigg. Com teto ondulado e varanda que contorna toda a casa, a construção principal é moldada no estilo de Queensland - edificação do século 19 na qual a estrutura fica exposta, mais ou menos como numa fazenda. A casa de hóspedes evoca humildes propriedades e dependências de pau-a-pique, nas quais a argila era aplicada sobre madeira nova e as paredes eram alinhadas com juta. A garagem foi construída com pedra e tijolos. Linda ainda ergueu um pequeno edifício para seu estúdio de arte e sala de massagem. A decoração da construção principal é dedicada ao artesanato australiano. Linda recrutou artesãos para desenhar itens como uma cuba de concreto no banheiro (com um ornitorrinco em relevo no fundo) e as coloridas soleiras de porta de inspiração aborígine. Almofadas nas poltronas e sofás do estar são revestidas de couro de canguru e a mesa de sinuca é de uma madeira rara da Tasmânia. No quarto, um friso de gesso na forma de uma flor selvagem australiana (waratah) foi adaptado de um velho hotel em Melbourne. E, já que a casa se situa em um condado vinícola próximo aos melhores vinhedos do país, ela fez o óbvio: importou vistosas uvas shiraz do sul da Austrália.

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