Jogo de recortes

Dentro e fora se misturam nesta casa em Belo Horizonte

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Projeto de Gustavo Penna em Belo Horizonte Foto: Leonardo Finotii/Divulgação

Casas compartimentadas, onde cada morador possa se isolar em um cômodo, não são o tipo de construção que agradam ao arquiteto mineiro Gustavo Penna. Ele prefere que tudo – e todos – estejam à vista. “Não gosto de espaços estanques. Tento criar condições para que todos na casa usufruam do todo mesmo estando em uma parte. Por isso, tudo é visível e arejado”, diz. “Onde o olhar não entra, entra a solidão.” Foi partindo dessa ideia que ele projetou esta casa em um condomínio nos arredores de Belo Horizonte, em uma região privilegiada, de clima ameno e com vista para a mata. Erguido em um terreno alongado, o imóvel, de 704 m², é todo de concreto, vidro e madeira. Para fazer a ligação entre os jardins da frente, de uma das laterais e dos fundos, um dos lados da casa é de vidro – “não queria deixar três pequenos jardins”. No térreo, um grande ambiente reúne salas de estar e jantar e uma cozinha gourmet, voltando-se para o gramado com piscina e sauna. Desde a entrada é possível avistar o quintal, não há nenhum elemento estrutural impedindo o olhar. “Queria unir frente e fundos. E, para isso, eu tinha que somar, não dividir”, diz Penna. Toda a parte de serviços da casa, incluindo cozinha e garagem, foi concentrado na outra lateral e nem parece estar ali. “É como um bastidor, que reúne os processos para o funcionamento da casa. Do outro lado fica o estar, o contemplar.”

Caixa suspensa. A opção por uma estrutura de concreto armado permitiu ao arquiteto ter esse espaço único, sem barreira alguma. E mais: possibilitou que o segundo pavimento, onde estão as quatro suítes, ficasse suspenso, envolto por um revestimento de madeira. “A laje tem rigidez estrutural suficiente para segurar o segundo pavimento, que está pendurado em tirantes”, explica. E, ainda que isolados por paredes, diferentemente do que ocorre nas salas, os dormitórios também entram no conceito de integração do arquiteto, que vai além de simplesmente juntar espaços de diferentes usos. “De fato, eles estão separados, mas você vê quem subiu até eles. Nesta casa, de um modo ou de outro, nunca se está sozinho.” Vista dos fundos do térreo, a caixa de madeira suspensa parece ter uma dobradura no ponto em que termina a escada – é uma repetição dos recortes da lateral da casa, que acontece também no caminho que leva aos quartos. “Com regras geométricas muito estudadas, fizemos essas dobraduras tanto na vertical quanto na horizontal.” De fora, esses recortes são muito claros e seguem diferentes ritmos, a partir da altura dos pilares, e formam uma composição que, para o arquiteto, remete aos telhados de Minas. “É um jogo de linhas, como se fosse uma sequência de telhados”, diz. Pensado para moradores recém-casados, o imóvel foi entregue sem a decoração, que ficou a cargo de Renata Machado e André Magalhães. Penna prefere que os proprietários descubram, com a vivência, como devem ser os interiores. “Minha proposta é uma arquitetura que ajude a viver, não quero ensinar ninguém a viver, invadir o mundo íntimo dos moradores”, diz. “Quero trazer uma pergunta, fazer uma provocação. A casa tem que estimular a curiosidade, tem de dizer algo.”

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