De nova era a nova york

O mineiro Artur Moreira conquista o mercado americano com móveis de uma fantasia irreverente

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Por Jennifer Gonzales
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O mineiro Artur Moreira, 31 anos, tem alma artística e tino para negócios. Graças a essa afortunada combinação, conquistou os americanos, que pagam até US$ 50 mil por uma peça de mobiliário de sua autoria. Em março último, em Nova York, ele se tornou o primeiro designer a mostrar suas criações na ArtExpo, uma das feiras de artes plásticas mais importantes do mundo. Um acontecimento inédito em 30 anos do evento, que até então selecionava quadros e esculturas. "Não sei se não haviam pensado nisso antes, porque a logística de móveis é complicada, mas foi gratificante ter meus trabalhos aceitos na feira", diz. Durante cinco dias, os visitantes foram atraídos pelos objetos cujos contornos parecem estar em movimento, como personagens animados: relógios-estante que se curvam para um lado, cômodas na forma estilizada de uma silhueta feminina, adegas sinuosas. Nascido em uma família modesta de Nova Era, cidade mineira de 11 mil habitantes (e a cerca de 200 km de Governador Valadares), Artur cresceu ouvindo histórias de brasileiros que se deram bem na América. Aos 16 anos, conseguiu seu primeiro emprego em um parque de diversões, onde operava brinquedos e vez por outra reformava os cavalos do carrossel. "Foi quando descobri que tinha habilidade manual." Em 1995, aos 18 anos, foi para Londres trabalhar como palhaço nas ruas. Dois anos depois voltou ao Brasil e conseguiu visto para os Estados Unidos, onde desembarcou em 1998 e começou a ganhar a vida na construção civil. Depois, passou a fazer acabamentos internos e instalar armários de cozinha. Juntou dinheiro e, em 2003, abriu a própria marcenaria; um ano depois, já tinha boa clientela, que incluía o governador de Nova Jersey, James McGreevey. Função e espírito Mas ele queria realizar um trabalho criativo. Certo dia, o dono de um restaurante lhe encomendou uma peça para exibir o cardápio, que devia ficar na calçada. "Se fizer algo maluco, vou poder cobrar um pouco mais", pensou Artur. Quando o cliente viu o trabalho, comprou na hora. "É isso o que vou fazer; peças com função, mas também com espírito", concluiu o artista, que criou uma série de modelos, fechou negócio com uma galeria em Newark, e os pedidos começaram a surgir. Artur preza o contato com a madeira e o trabalho artesanal, que é a sua essência. A adega de vinho Spine, por exemplo, leva 600 horas para ser produzida - uma peça semelhante, de linhas retas, é feita industrialmente em 20 horas. "A curvatura não se forma de um dia para o outro. Cada parte do móvel é imersa na água durante horas, até que a madeira fique macia e ganhe flexibilidade. Então, aos poucos, vou entortando com as mãos, para chegar ao contorno desejado", diz ele, que pretende abrir uma loja em São Paulo, em 2009. Enquanto isso, se prepara para a ArtExpo Las Vegas, em setembro.

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