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Contemporâneo puro

José Ricardo Basiches transforma casa antiga em construção em que predominam o branco e as linhas retas

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Por Redação
Atualização:

.Reportagem de Marisa Veira da Costa

Produção de Maria Regina Notolini

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Fotos de Zeca Wittner

 

O velho casarão de estilo neoclássico, com molduras e balaustres na fachada, deu lugar a uma casa que poderia servir de exemplo em aula sobre arquitetura contemporânea. Numa típica rua do lado mais sossegado dos Jardins, onde as árvores que sombreiam as grandes residências fazem par com as guaritas ao longo das calçadas, o arquiteto José Ricardo Basiches começou, há cerca de sete anos, a pensar o projeto dessa casa de linhas retas, grandes volumes no interior e rasgos no concreto, onde predomina o branco, só quebrado ora pela madeira, ora pelo preto.

 

 

"Antes de apresentar minhas ideias, conversei muito com os novos proprietários. E eles foram me dizendo o que queriam: uma casa de estilo contemporâneo, mas sem espaços integrados, como se usa muito hoje em dia. Por uma questão de privacidade e gosto pessoal, preferiram que a compartimentação já existente fosse mantida, com algumas poucas intervenções", conta Basiches.

 

Os desejos da família batiam com o ideário do arquiteto. Já bastante detonada, aquela casa superclássica foi para o chão. Sobraram o esqueleto e partes importantes de estrutura. E a aí começou a grande revolução.

 

 

INVERSÃO

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Seguindo uma tendência urbana (não necessariamente nova), fundada na questão da segurança e do privado, Basiches inverteu a casa. Ou seja: a garagem, que antigamente ficava nos fundos, veio para a frente, assim como todo o serviço - cozinha, lavanderia, aposentos dos empregados. E a área íntima foi para os fundos. No térreo, o estar/home theater e a sala de jantar, fechados por portas de correr de vidro, se abrem para a um grande espaço que junta piscina, um jardim minimalista (também desejo dos donos) e uma edícula multiuso. No andar superior, uma sala íntima e os quartos também estão voltados para a área externa. Cada aposento dá para uma varanda - mais precisamente uma longa passarela, encimada por uma viga de sustentação de concreto, que, vista de baixo, compõe um rasgo com função estética.

 

"É uma casa limpa e funcional no seu conceito arquitetônico", diz Basiches, que se orgulha de ter usado poucos materiais. "Na fachada, que eu chamo de ‘cega’, porque não desvenda o interior, só usei pintura texturizada e réguas largas de pinus tratado para quebrar o branco", exemplifica. Nas áreas externas, piso cimentício solarium e, dentro, o mármore piguês que às vezes faz contraste com o assoalho de peroba "para esquentar".

 

 

O arquiteto destaca nesse projeto o que chama de "algumas sacadas". Entre elas, a pérgola de ipê no corredor de entrada, que termina numa parede com um rasgo de vidro, de onde se vislumbra o azul da raia da piscina (feita em L a pedido dos proprietários). "Minha intenção foi fazer com que quem chega tenha a impressão de estar se deparando com um espelho d'água", diz. Uma jabuticabeira leva harmonia e singularidade ao canto.

 

Ele cita também a larga porta pivotante da entrada, desenhada por ele (assim como todos os móveis e marcenaria da casa). Os frisos no lado interno dela se repetem na parede/painel que separa o vestíbulo da saleta de almoço. A madeira branca dessa parede frisada e o piso de mármore contrastam com o enorme móvel de wengué ebanizado que é o grande trunfo do décor interior.

 

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Se do lado do hall (propositalmente vazio para destacar a escada escultórica que leva ao andar superior) o móvel tem função estética, do lado da sala de estar vira suporte para o telão, aparelhagem de som, objetos decorativos e, ainda embute a lareira na parte de baixo. Esse rasgo inferior no móvel é parte integrante do projeto, assim como o da parede dos fundos da área da piscina, onde uma faixa de alvenaria separa outras duas de mosaico português. "Aqui, minha intenção foi puramente estética", admite o arquiteto.

 

José Ricardo Basiches, de 36 anos, jura que não foi por causa da sua mãe, a decoradora Teresinha Nigri, que decidiu cursar Arquitetura na Escola de Belas Artes. E que também nada tem a ver com ela seu gosto pelo estilo contemporâneo. "Sempre gostei da escola modernista, em que a funcionalidade vem antes da estética, que valoriza o jeito de morar."

 

Fã de grafite e de toy art, Basiches diz que pode sugerir, mas nunca impor seus gostos aos clientes, "mesmo porque quem vai morar na casa são eles e não o arquiteto". Ainda assim, garante que raramente o que propõe não é aceito. "No caso dessa casa nos Jardins, por exemplo, as paredes dos quartos dos meninos receberam adesivos (da Tergoprint) de acordo com o tema de que cada um gosta. Eles adoraram." E a família também aprovou a predominância do branco. "Gosto do branco porque é leve, sutil e não causa impacto. E do seu contraste com o preto. A cor quem dá são as pessoas que vão morar na casa", afirma.

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Assumidamente minimalista no traço e no décor, Basiches admite que há quem se assuste com a ausência do que ele considera ser um excesso. "Ao contrário do que muita gente pensa, o minimalismo não é frio e pode ser sinônimo de aconchego", garante o arquiteto. Exemplo? "Um sofá em ‘L’. Além de bonito, é supergostoso."

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