Caçador de plantas

Chris Wiesinger, aventureiro de 25 anos, vive atrás de espécies fora [br]de moda em lugares inóspitos e cultiva bulbos que distribui para viveiros

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Por Ginia Bellafante
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Meses atrás, Chris Wiesinger viajava por uma área deserta de Lufkin, Texas, quando, da janela de sua picape, notou de imediato a Zephyranthes grandiflora. Aos 25 anos, ele é pouco inclinado a gestos efusivos, mas a visão da flor o fez sorrir de um modo especial. A planta, conhecida como lírio-da-chuva, florescia num terreno baldio rodeado de bangalôs. "Não há nada aqui...", diz Wiesinger, enquanto caminha em direção às flores. "Nunca foram cuidadas e veja como estão, meu Deus!" Wiesinger passa a vida procurando coisas lindas em lugares inóspitos. Em 2004, abriu a Southern Bulb Co., com o objetivo de reintroduzir flores há muito fora de moda e comprometendo-se com aquelas capazes de se defender das temperaturas excessivas por décadas ou mesmo séculos. Embora a procura por heranças botânicas possa ter um ar de elitismo, Wiesinger vai atrás do que se poderia chamar de "Barbara Stanwyck da floricultura": flores resistentes que vicejam em áreas perdidas para o renascimento econômico do sul dos Estados Unidos. O seu mundo é feito de velhas cidades algodoeiras, prédios abandonados e casas onde sofás queimam ao sol. "Não procuramos plantas em subúrbios luxuosos em torno de Dallas, mas sim onde as pessoas não podem gastar para plantar algo novo", diz. Distribuindo plantas Assim, quando terminou o curso de horticultura da Universidade Texas A&M, ele coletou bulbos e os plantou em sua pequena fazenda, em Mineola, perto de Dallas. Mais tarde, distribui-os a viveiros e também pelo seu site, southernbulbs.com. Sua paixão por recuperar variedades antigas, algumas do Texas, outras do sudeste, chamou a atenção, merecendo destaque, recentemente, na revista House & Garden, como um dos mais importantes formadores da opinião pública nos EUA, fonte consultadíssima em paisagismo. Wiesinger representa a última expressão do caçador de plantas. Da era vitoriana à maior parte do século 20, a caça às plantas era uma variante da aventura, levando seus praticantes a montanhas do Congo ou Peru para voltar para casa, nos Estados Unidos ou na Europa, com as mais exóticas espécies.Wiesinger integra um movimento focado na recuperação de plantas domésticas. E vem plantando bulbos em uma época em que praticamente todos os envolvidos no plantio ainda são holandeses, segundo Tom Christopher, editor da House & Garden. "Chris está fazendo algo novo, que é transformar coletores em jardineiros" diz. A inovação de Wiesinger é seu interesse em suprir um mercado de jardinagem cujas necessidades foram ignoradas. "A proliferação de viveiros, que distribuem catálogos por todo o país, como a Home Depot e Lowe?s, contribuiu para a homogeneização da jardinagem que não leva em consideração diferenças regionais", diz Jason Powell, proprietário do Petals From de Past, um viveiro em Jemison, Alabama. "Hoje vêem-se menos plantas incomuns, menos plantas resistentes", diz. A vantagem da herança não é apenas atender a um interesse nostálgico, mas sim a de viver bem, requerendo menos água, adubo e cuidados. Depois de localizar o lírio-da-chuva, em Lufkin, Wiesinger dirige-se à casa mais próxima, bate à porta e é recebido por uma mulher de meia-idade que lhe diz que a propriedade pertence ao irmão de um vizinho. Wiesinger explica que coleta plantas e gostaria de falar com o dono do terreno para arrancar um bulbo ou dois. A mulher assegura-lhe que ninguém se importará, uma vez que compartilham da mesma sorte - sua casa será condenada, se não fizer reformas urgentes - e pergunta se ele gostaria de uma pá. O empenho de Wiesenger reside na certeza de que estranhos o tratarão com generosidade. Quando à procura por bulbos, ele segue um rígido protocolo, que não lhe permite simplesmente pegar o que vê, mas sim conseguir sempre o que quer. "É surpreendente como as pessoas são bacanas", diz. Ele deu um jeito, por exemplo, de rastrear o dono de uma casa em ruínas em Victoria, sul do Texas. "Perguntei-lhe se podia pegar alguns bulbos e ele me disse para ficar com todos. E com a casa também, se quisesse." Wiesinger dirige a Southern Bulb Co. de um trailer, com a ajuda de colegas da universidade e Amanda George, ex-estagiária da Casa Branca. A Southern Bulb Co. tem poucos lucros e Wiesinger não pode pagar muito aos amigos. Todos no grupo trabalham seis dias por semana, cuidando dos bulbos, cumprindo ordens e juntando-se ao chefe nas expedições exploratórias. Alguns vão a feiras, nos fins de semana, para promover os produtos. Se a motivação de Wiesinger parece intensa é porque seu interesse por jardinagem é motivado menos por predileções estéticas do que por uma crença filosófica. Ele e seus amigos se dizem cristãos que olham a jardinagem como uma lição política de responsabilidade pessoal e do valor de recompensas postergadas. "Na vida, não se pode tirar um dia de folga e as plantas ensinam isso", diz. "Há sempre responsabilidades. Muitas pessoas da minha idade não entendem isso, ou não entendem que a falta de responsabilidade pode causar dano a alguém."

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