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Vacinação de meninos contra o vírus HPV pode quebrar a cadeia de infecção e prevenir o câncer

A imunização não protege pessoas já infectadas pelo vírus. Por isso, o momento ideal de recebr a vacina é antes do início da vida sexual

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Por Redação
Atualização:
 Foto: JF Diorio / Estadão

Desde 2014, a vacina anti-HPV está disponível no Sistema único de Saúde (SUS) para as meninas de 9 a 13 anos, prevenindo, principalmente, contra o câncer de colo do útero. A decisão do Ministério da Saúde de incluir a imunização dos meninos a partir deste mês quebra a cadeia de infecção deste vírus e previne também contra tumores de boca, pênis e ânus. 

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A decisão de ampliar para os meninos a imunização contra o papilomavírus (HPV) na saúde pública, medida iniciada este mês, não apenas oferece proteção a eles, como também atua como uma estratégia para quebrar a cadeia de transmissão, já que o HPV é um vírus transmitido sexualmente.

A inclusão da vacina contra o vírus HPV para meninos contempla, inicialmente, as idades de 12 e 13 anos. A faixa etária será gradativamente aumentada até 2020, quando abrangerá os garotos entre nove e 13 anos. Estudo publicado pelo A.C.Camargo Cancer Center mostra que um em cada três tumores de boca em adultos jovens tem associação direta com o HPV, chegando a 80% nos casos de câncer de amídala. A imunização dos meninos ajudará também na proteção contra câncer de pênis e ânus. Para as meninas, cuja principal incidência associada ao vírus é o câncer de colo do útero na idade adulta, a vacina está disponível na saúde pública desde 2014 para a faixa etária entre nove e 13 anos.

Além de identificar a forte ligação de HPVs oncogênicos com tumores na região, o estudo, publicado na revista científica International Journal of Câncer, identificou uma mudança no perfil dos pacientes. De acordo com o cirurgião oncologista e diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do A.C.Camargo Cancer Center e um dos autores do trabalho, Dr. Luiz Paulo Kowalski, historicamente esses tumores afetavam essencialmente homens mais velhos, tabagistas e/ou alcoólatras. "Vemos que hoje esses tumores também atingem os mais jovens (entre 30 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso. Entre eles, alguns praticam sexo oral desprotegido", explica. Somado a isso, acrescenta Kowalski, está o fato de que a incidência esteja aumentando também porque a tecnologia que permite o diagnóstico melhorou em razão do desenvolvimento de exames de biologia molecular capazes de detectar o HPV. 

A importância de aderir à campanha. Ser um possível incentivo aos jovens para que tenham uma iniciação sexual mais precoce e responsável por uma grande ocorrência de efeitos adversos severos são alguns dos mitos que dificultam a adesão às campanhas de vacinação contra o vírus HPV. "Pelo que já se viu da campanha junto às meninas, sabe-se que é fundamental que os pais e responsáveis por estes jovens sejam orientados quanto à importância da vacinação tanto para meninas quanto para os meninos", ressalta Luiz Paulo Kowalski.

Ainda segundo o especialista, é importante reforçar a comunicação a eles das evidências científicas de sua segurança e eficácia. "São estratégias que podem contribuir para melhorar a adesão dos jovens que estão na faixa etária coberta pela campanha. Tanto para eles, quanto para os demais, é fundamental também falarmos sobre o papel do sexo seguro como medida de prevenção", acrescenta. 

Por sua vez, Kowalski ressalta também que ter sido contaminado com o vírus está longe de ser uma certeza de que o câncer se desenvolverá. "Queremos deixar claro que o HPV é um vírus muito presente na pele ou em mucosas e afeta homens e mulheres. Muitas pessoas já se infectaram, mas não tiveram verrugas nem câncer. Há mais de duzentos subtipos de HPV, sendo que apenas 30 a 40 deles podem causar doenças como verrugas genitais e tumores no pênis, ânus, vulva, boca, garganta e, o mais comum, no colo do útero", explica.

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O especialista acrescenta que os tumores de garganta relacionados ao HPV têm melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo. Eles respondem de forma mais efetiva à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia. "Vamos também reforçar que o cigarro segue sendo um fator de risco importante e, quando associado ao consumo de álcool o risco se potencializa e ambos causam tumores que costumam responder pior ao tratamento", esclarece.

As vacinas anti-HPV protegem contra os dois subtipos do vírus mais associados com câncer e outras doenças nos genitais. Há cerca de 40 tipos de HPV que infectam a região genital, sendo que 14 estão relacionados com o câncer. Porém, os do tipo 16 e 18 são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo de útero e também os mais frequentes em tumores relacionados ao HPV na população masculina. A vacina não protege pessoas já infectadas pelo vírus. Por isso, o momento ideal de recebê-la é antes do início da vida sexual.

Consultoria: A.C.Camargo Cancer Center

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