Entenda as possíveis causas e tratamentos para dores crônicas

Dores crônicas podem derivar de várias causas, por isso seu diagnóstico muitas vezes é difícil de ser identificado

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Por Pedro Prata
Atualização:
Segundo alguns especialistas, dor crônica é aquela que persiste por mais de três meses Foto: Pixabay/ @HansMartinPaul

A dor é uma reação fisiológica desagradável mas necessária para nossa sobrevivência: sentimos quando nos machucamos e isso nos faz ficar alerta para que não voltemos a nos machucar daquela maneira novamente. Além disso, a dor serve para nos avisar que algo não está bem, podendo indicar doenças que, de outra forma, passariam despercebidas. No entanto, sentir dor por tempo prolongado não é normal. Saiba quais podem ser as causas das chamadas dores crônicas e como devem ser tratadas.

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A geógrafa Amanda Mendes nasceu com uma deficiência em uma das vértebras da coluna devido a má-formação enquanto ela ainda era um feto na barriga da mãe. Essa condição permaneceu desconhecida por muito tempo quando, por volta dos 15 anos, se manifestou através de muitas dores. Foram quatro anos de sofrimento se consultando com médicos que não descobriam o problema e prescreviam medicamentos errados.

“Passei por vários tratamentos com medicações que só funcionavam por breves períodos. Depois de um tempo a dor voltava, pois eu continuava fazendo atividades que as desencadeavam. Foram anos complicados!”, relata Amanda. Por volta dos 18 anos, enfim, descobriram a causa e ela pôde evitar as atitudes que lhe causavam tanta dor. O médico lhe aconselhou fazer hidroginástica, porém ela não iniciou esse tipo de tratamento por conta do alto custo.

As dores podem ter origem neuropática, isto é, decorrentes de lesão no nervo, como é o caso de traumas; há também as dores nociceptivas, causadas por um estímulo nocivo em algum tecido do corpo, como ocorre na tendinite; e lesões nas articulações devido ao excesso de traumas.

Dores crônicas neuropáticas podem ser decorrentes de traumas, mas essa não é a única causa. O presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), doutor Irimar Posso cita exemplos de outras: “Diabetes mal-cuidada pode lesionar os nervos, geralmente da perna; fumantes crônicos também têm dores crônicas neuropáticas nas pernas; pessoas que passam por quimioterapia ou estão submetidos a tratamento para AIDS podem, também, sentir dores crônicas neuropáticas”.

Não há um consenso entre a comunidade médica sobre o tempo que caracteriza uma dor crônica. De modo geral, dor aguda é aquela que tem duração de, no máximo, um mês. Até três meses a dor está em processo de cronificação e, acima desse período, já é considerada dor crônica. Há ainda especialistas que dizem que dor aguda é aquela que passa com a cura da lesão, enquanto a crônica seria aquela que persiste após a lesão sarar.

As causas são multifatoriais e variam de acordo com a origem da dor: predisposição genética, sedentarismo, esforço repetitivo, má-postura, idade, peso, entre outras. Algumas são inevitáveis, mas há aquelas que podem ser prevenidas, como explica o médico Alexandre Fogaça, do Grupo de Coluna do Hospital das Clínicas: “As que a gente tem controle são: ter peso condizente com nossa altura para não forçar demais as articulações, manter boa postura no dia a dia e praticar atividade física regularmente”.

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Infelizmente, o caso da decoradora Rosana Portela foi um dos inevitáveis. Tudo começou com uma torção no pé que rompeu o ligamento e, com o tempo, desgastou a cartilagem. Assim como Amanda, Rosana passou por muitos diagnósticos equivocados antes de descobrir o que realmente estava lhe causando tanta dor: artrite reumatoide, uma doença autoimune em que o sistema imunológico do próprio corpo ataca tecidos do organismo. No caso dela, de suas articulações.

A doença lhe obrigou a passar por uma cirurgia para colocar três pinos no pé, os remédios lhe causaram apneia, ganho de peso e até alergia. No entanto, não foram apenas os efeitos em seu corpo, que já foram um pesadelo grande o bastante, que ela teve de enfrentar.

“Eu faltava no trabalho porque não conseguia andar. Como dói muito, ela [a doença] vai te minando o físico e o emocional, você chora sem motivo, aí além disso eu não tinha energia para levantar da cama”, conta. A carga emocional foi tamanha que Rosana chegou a ter depressão por mais de um ano. O médico Irimar explica que, em alguns casos, pessoas que sofrem de dores crônicas necessitam de acompanhamento psicológico, pois as limitações fazem com que os pacientes se tornem reclusos e deixem, gradualmente, de realizar quaisquer tarefas.

Rosana agora passa por uma infusão de medicamento na veia todo mês. Ela procurou fazer o tratamento através do Sistema Único de Saúde, uma vez que é extremamente caro. Agora ela segue um cronograma de acompanhamento anual, dosagens de medicamentos mensais e exames de três em três meses.

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Dores crônicas nas articulações, as mesmas com as quais Rosana convive, são muito encontradas em atletas de alto rendimento por conta do excesso de traumas. Mas, com ela, a causa foi a doença autoimune e não o esporte. Pois, como ela disse, “eu sei que está totalmente errado, mas não tenho tempo livre para fazer exercícios físicos”.

Atenção durante dois terços do seu dia. Duas das principais causas de dores crônicas estão ligadas a tarefas que dedicamos, em média, dois terços de nosso dia: o trabalho e o sono. Observar a postura em que realizamos essas duas atividades e as condições físicas em que as fazemos são de extrema importância.

“A dor lombar crônica incide mais em pessoas obesas e naquelas que têm trabalhos que carregam peso ou que usam posições erradas. Muitas vezes ela pode ser até incapacitante”, exemplifica Irimar.

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Ó médico Alexandre Fogaça indica a posição ideal para pessoas que trabalham sentadas e que usam computador: “Tem que sentar adequadamente na cadeira com a coluna encostada no encosto. O quadril deve estar dobrado em 90 graus, assim como o joelho. Os pés devem estar apoiados no chão ou em um apoio. A tela do computador precisa estar na altura dos olhos e o teclado na altura do cotovelo dobrado”.

Como nenhum ser humano é igual ao outro, cada um tem uma resposta diferente aos estímulos que causam as dores crônicas. Há pessoas que passam anos com hábitos nocivos até que os efeitos comecem a se manifestar, enquanto outras rapidamente desenvolvem algum quadro de dor. O que Irimar diz, no entanto, é que é tudo uma questão de frequência e intensidade com que esses hábitos nocivos são praticados.

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“Não há um padrão, mas claro que as dores crônicas vão aparecer em pessoas que exercem um tipo de atividade por períodos mais prolongados no dia e no tempo. Se você digitar uma hora por dia por cinquenta anos, por exemplo, terá menos chance de sofrer algum tipo de dor crônica do que quem digita por doze horas seguidas no mesmo período de tempo”, exemplificou. Por isso é fundamental fazer pequenas pausas em atividades demasiado repetitivas.

Quanto ao sono, Alexandre ressalta que é importante que o corpo todo fique alinhado ao se deitar, de modo que a cabeça acompanhe o tronco e a coluna fique reta. Por isso, o colchão não deve ser muito mole. “Tem que dormir de barriga para cima ou de lado, pois deitar de bruços é ruim. Para quem prefere deitar de barriga para cima, o travesseiro deve ser mais baixo, ao passo que aqueles que preferem se deitar de lado devem adquirir travesseiro mais alto”, aconselha.

Contudo, não é só no trabalho e durante as noites que é preciso ficar atento à postura. Nas horas de lazer, dirigindo e a todo tempo é preciso prestar atenção para não comprometer a saúde do corpo.

Um caso singular. Existe ainda outra causa para dores crônicas: a fibromialgia. É uma doença que acomete mais mulheres que homens e causa dores pelo corpo inteiro. Segundo Irimar, essa doença possui causa desconhecida e seu tratamento é difícil. “Ela ainda é acompanhada de depressão, insônia, falta de vontade de fazer qualquer coisa, inclusive trabalhar, interfere na atividade sexual”, explica o médico.

Sonia Mendes, vendedora autônoma, desenvolveu a doença após uma situação de muito estresse no trabalho há, mais ou menos, quatro anos. As dores a impossibilitaram de continuar trabalhando com carteira registrada, uma vez que ela passou a ter dificuldade em lidar com situações que uma pessoa normal não veria dificuldade em lidar. “Essa doença é silenciosa, mas bem perigosa. Eu ainda tenho vontade de fazer muita coisa mas não tenho segurança. Por exemplo, de voltar a trabalhar em uma empresa”, relata.

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Ela contou, também, que a doença ainda afeta sua vida: “Aos poucos fui percebendo que havia muitas coisas que eu não conseguia. Sei que tenho capacidade de muita coisa, mas na hora tem algo que me prende”.

Tratamento. Ao reconhecer os sinais de alerta ou sentir dor por tempo prolongado, a pessoa deve procurar um médico para fazer o diagnóstico e prescrever o tratamento. Eles podem ser variados e dependem do tipo de dor: medicação, reabilitação com fisioterapia, RPG e até acompanhamento psicológico.

Tanto Amanda como Rosana foram aconselhadas a praticar atividade física, porém nenhuma das duas conseguiu: uma por falta de dinheiro, outra por falta de tempo. Apesar dessa ser a realidade de muitos brasileiros, a atividade física tem papel importante na reabilitação dos pacientes, como explica o médico Alexandre: “É preciso manutenção com atividade física para não deixar a coluna voltar a desgastar e envelhecer”.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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