O peso da genética no metabolismo

Entenda como o DNA afeta o peso corporal e conheça o exame que permite criar uma dieta personalizada

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Por Redação
Atualização:

Da cor dos olhos à capacidade de dobrar a língua, a informação genética determina boa parte das características aparentes e ocultas de nosso corpo – incluindo o peso. Casos de obesidade na família aumentam as chances do atributo se manifestar nas próximas gerações. Porém, a sentença do DNA não é definitiva e alguns exames podem ajudar a entender a influência da genética no metabolismo.

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Um destes exames é o mapeamento genético, realizado por laboratórios como o Centro de Genomas, em São Paulo. Analisando mais de cem variações genéticas, o teste permite a elaboração de dietas personalizadas de acordo com o perfil de cada paciente. Segundo a nutrigeneticista do centro, Tatiane Fuji, em entrevista ao programa Rota Saudável da Rádio Estadão, “nosso DNA é constituído por variações que diferem de indivíduo para indivíduo e definem como o corpo vai se comportar. Através do mapeamento, podemos saber precisamente quais são essas variações e de que maneira elas afetam o corpo e o comportamento.”

Conhecendo a informação genética é possível, por exemplo, fazer alterações específicas na dieta do indivíduo. “Se o teste genético me indica um paciente com alto risco de obesidade e ausência de sensação de saciedade, posso direcionar sua dieta para o consumo de fibras antes das refeições. Isso reduziria seu apetite e ajudaria a saber a hora de parar de comer”, conta Tatiane. Aliadas à redução do consumo calórico e de uma rotina de exercícios físicos, essas medidas podem ajudar na perda de peso e, assim, “combater” a genética.

Isso porque, segundo o nutricionista clínico do Hospital Sírio-Libanês, Carlos Basualdo, ainda que a influência da genética sobre o metabolismo seja expressiva, pode chegar no máximo a 25%. A maior parte do peso continua sendo determinada por elementos comportamentais. “Esses outros 75% correspondem a fatores externos como sono, atividade física, educação alimentar e costume familiar em relação a alimentação”, explica o especialista.

Por isso, ter parentes com obesidade pode levar a um maior risco genético ao acúmulo de gordura, mas não necessariamente significa que o indivíduo será obeso – isso pode ocorrer se hábitos de vida sedentários forem adotados. Essa informação é reforçada pela endocrinologista e coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Sírio-Libanês, Cláudia Cozer: “ter uma propensão genética ao ganho de peso apenas significa que essa pessoa terá mais trabalho para manter seu peso dentro do IMC em comparação a uma pessoa sem esse fator genético, mas o sobrepeso não é uma certeza.” 

Dessa maneira, segundo a especialista, as indicações de saúde para pessoas com alto risco de obesidade são as mesmas direcionadas ao público em geral: melhorar o padrão alimentar, a movimentação diária, a prática de exercícios, a quantidade de calorias ingeridas – todos os fatores externos que podem ser controlados através do comportamento no dia a dia. 

Existem, também, outros elementos subjetivos que exercem grande influência sobre o metabolismo. As condições psicológicas são um exemplo, como a tendência à compulsão e ansiedade, que podem levar a um comportamento alimentar exagerado. “A chave para pessoas com esses impulsos está nas bases psicológicas da ansiedade, ou seja, o indivíduo precisa se “adaptar” a esse descontrole e trabalhar suas causas”, diz Basualdo. “Esses distúrbios têm uma ótima resposta quando acompanhados por profissionais preparados para fazer a pessoa se observar e trabalhar a maneira de lidar com o ambiente em que está inserido.” 

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No geral, o peso corporal acaba sendo pouco indicativo de um atributo maior e mais importante: a saúde e qualidade de vida. “Ser magro também não significa ser saudável. Existem pessoas muito magras que, justamente por não ter tendência a ganhar peso, comem de tudo sem critério. Pode parece ótimo, porque de peso elas estão bem, mas quando você faz um exame, elas têm problema de colesterol ou de porcentagem de gordura corporal. Podem ser o que chamamos de metabolicamente doentes”, explica a endocrinologista. 

O nutricionista reforça este alerta. “As recomendações para bons hábitos de vida, incluindo a alimentação saudável servem para todos os indivíduos, sendo estes mais propensos ou não ao ganho de peso. Pessoas com peso normal podem ter problemas crônicos de saúde e não ter consciência disso pela falsa ideia de que seu metabolismo é bom apenas pela avaliação de seu peso corporal. Por isso, autocuidado e autoconhecimento servem para todos, independentemente do peso ou propensão ao ganho”, conclui.

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