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Hábitos e alimentação saudáveis podem retardar aparecimento do diabetes

Silenciosa, doença causa problemas graves de cicatrização e pode levar à amputação de membros

Por Felipe Neves
Atualização:

Três dias foram suficientes para que um dos pés de Ricardo Mattar enegrecesse e bactérias agissem na ferida que ele possuía na parte inferior do membro, gerando uma gangrena. Ao drama inicial seguiram-se mais noventa dias de uma internação intensa e cara à saúde do publicitário: foram doze cirurgias seguidas e, ao final, uma amputação. 

O processo, que culminou com a perda de um dos dedos de Ricardo, havia começado anos antes, quando ele descobriu que desenvolvera uma doença tão silenciosa quanto nociva: o diabetes. “Com certeza se eu não fosse socorrido e internado, teria perdido a perna. Eu estava disposto a qualquer coisa. Na realidade eu precisava salvar minha vida”, lembra.

Doença está presente em 8% da população brasileira; destes, apenas um décimo sofre com o tipo 1 do problema e todo o restante padece do tipo 2 do mal Foto: Sam Azgor/Creative Commons

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Dificuldade com a cicatrização é só um dos problemas que podem acometer o paciente que desenvolve o diabetes. A doença está presente em 8% da população brasileira. Destes, apenas um décimo sofre com o tipo 1 do problema, que costuma abranger o grupo de crianças e jovens até 25 anos. Todo o restante padece do tipo 2 do mal, que ocorre em indivíduos de meia-idade, geralmente acima do peso. 

Ricardo se enquadrava no segundo grupo quando recebeu o diagnóstico. “Eu comecei a apresentar alterações muito fortes. Muita sede, urinava bastante. Sempre trabalhei, mas era workaholic, exagerava e não tinha tempo pra me cuidar. Não comia direito, tinha reuniões o dia inteiro”. Mais do que a irregularidade e os excessos na alimentação, no entanto, disfunções do próprio organismo podem fazer com que a doença se manifeste.

“O tipo 1 do diabetes ocorre devido a uma diminuição ou falta de produção de insulina, que é o hormônio produzido pelo pâncreas responsável por fazer com que a glicose saia de circulação no sangue e entre nas células”, explica Rosa Ferreira, médica do Grupo de Diabetes do Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas. “O tipo 2 acontece quando esse hormônio tem dificuldade em agir nos tecidos periféricos, como o esquelético, o adiposo e o do fígado”, completa. 

São dois os principais tipos de exames para diagnosticar a doença. O primeiro pode ser feito em jejum de, no mínimo, 8 horas. Se a taxa de glicose no sangue do indivíduo ultrapassar os 126mg/dL, ele é considerado diabético. 

“Outro teste utilizado é o da curva glicêmica”, explica Rosa. “É feita a medição, a cada 30 minutos e durante duas horas, da concentração de glicose no organismo do paciente, que ingere uma determinada quantidade do carboidrato diluída em suco. Se, ao final do teste, ele possuir mais do que 200mg/dL, estará doente”, diz.

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Antes de ter um dos dedos amputados, Ricardo se preparava para passar por uma cirurgia bariátrica para diminuir as complicações que comprometiam o funcionamento de seu organismo. “Eu desenvolvi uma síndrome metabólica. Apesar de tomar insulina, acordava com nível 550 de glicemia no sangue, mesmo em jejum. Isso é muito alto. A minha pressão arterial oscilava consideravelmente. Se eu tivesse um infarto, com certeza seria fulminante”, diz. 

Após a cirurgia, a imunidade de Ricardo caiu completamente, resultando na contaminação que causou a gangrena em seu pé. Hoje, no entanto, sua vida está bem mais tranquila. Em jejum, seu nível glicêmico não ultrapassa os 85mg/dL. Alimentando-se a cada três horas, ele diz não sofrer com restrições. Mas não abusa. “Posso comer de tudo, embora não tenha muita predileção por doces”. 

Apesar de estar ligado a hábitos de vida, o diabetes ainda pode surgir por fatores hereditários. “Em geral, quem tem um dos pais com o diabetes tipo 2 possui 47% de chances de ter a doença na vida adulta. Se os dois têm o mal, a probabilidade sobe para 75%”, explica a médica. Evitar o tabagismo e o sedentarismo, no entanto, pode ajudar a retardar o aparecimento do problema. 

 

Para quem possui a doença, é necessário seguir a regra principal: parar de ingerir açúcar. “O paciente pode fazer uso dos adoçantes. O stevia e a sucralose estão entre os mais recomendados. Ele ainda pode se acostumar ingerir líquidos sem adoçá-los. Se o indivíduo está acima do peso, vai ter de ingerir uma dieta de queda de calorias. Verduras podem ser ingeridas à vontade, pois são ricas em fibras”, completa a médica.

 

O componente indispensável na recuperação do diabetes, no entanto, é outro para Ricardo. “O que é importante é não perder o foco. Tem horas que dá desespero, mesmo. E se você não se dedicar e fizer de tudo para mudar, não adianta.”

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