Especialistas alertam sobre dietas da moda na prevenção da obesidade

O foco deve ser na saúde e evitar restrições que podem desencadear problemas alimentares

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Por Ludimila Honorato
Atualização:
Obesidade está relacionada ao desenvolvimento de outras doenças, como diabtes e problemas cardiovasculares. Foto: jarmoluk/Pixabay

Dietas da moda podem até funcionar, mas talvez não sejam tão indicadas para a prevenção da obesidade e controle adequado do peso. Em vez de procurar por soluções mágicas que prometem emagrecimento rápido, especialistas indicam uma alimentação balanceada que, para além da estética e do modismo, coloca a saúde em primeiro lugar.

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A orientação é reforçada neste 11 de outubro, Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, doença crônica que atinge 30 milhões de brasileiros de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No caso do jejum intermitente, em que se alternam período com e sem comida a fim de ingerir menos calorias, a presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) Maria Edna Melo diz que uma reeducação alimentar já seria suficiente.

"A pessoa pode também comer comida de verdade, arroz e feijão, pelo menos uma vez por dia, cinco porções de fruta e legumes na dieta. Se fizer isso, não vai ter espaço para consumir produtos industrializados que vá somar em excesso", indica. A especialista falou durante um talk show promovido pelo Hospital Sírio-Libanês, ao lado de outros profissionais da área e da chefe de cozinha Rita Lobo.

Para as dietas com restrição de carboidrato ou doces, o psiquiatra Taki Cordas, coordenador-geral do Ambulatório de Bulimia e transtornos alimentares do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) diz que a conduta pode enviar uma mensagem diferente ao cérebro.

"Seu cérebro vai achar que você está em um campo de concentração, passando por uma daquelas fomes glaciais. Então, vai sair por aí comendo dois ou três bolos, porque precisa se preparar para essa restrição", compara. O especialista lembra ainda que questões emocionais são contribuintes da obesidade e que é preciso falar de saúde para não desencadear problemas alimentares.

Gordinho saudável? A obesidade está relacionada ao desenvolvimento de diversas doenças, como diabetes, hipertensão arterial e problemas cardiovasculares. Há obesos, porém, cujos exames estão dentro da normalidade e não indicam colesterol alto, por exemplo. São os chamados obesos metabolicamente saudáveis, explica a presidente da ABESO.

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"Mas estudos que acompanham essas pessoas mostram que elas tendem a morrer mais precocemente", alerta Maria Edna. "São pacientes com obesidade que têm exames normais, mas que não são necessariamente saudáveis", completa.

A médica comenta que a indicação para perda de peso não se trata de gordofobia nem de um pedido para ser magro, mas de uma preocupação com a saúde. "O paciente obeso não deve ter uma valorização do peso, mas da saúde. É importante perder, mas não fazer conexão com a magreza", esclarece. Segundo ela, a perda de peso saudável seria de 5% a 10% do peso atual.

Exercícios físicos. O professor José Alberto Cortez, do Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP, diz que atividade física também é importante para obesos - que devem ser estimulados a praticá-la todos os dias -, mas encontra algumas barreiras.

Segundo ele, o modelo atual de academia não é voltado para quem busca melhorar a qualidade de vida, os profissionais de educação física não estão preparados para essa área e as sessões de condicionamento não são montadas para esse público, podendo causar constrangimento na hora de executar um movimento. "Atividade física tem de ser agradável, não pode estabelecer uma rotina que não ofereça alegria à pessoa", afirma.

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Para Cortez, é preciso humanizar a relação entre paciente e profissional a fim de permitir um feedback de quem está sendo cuidado e oferecer a oportunidade de se fazer o que gosta. "Temos que nos ater aos fatores que afastam os indivíduos do recondicionamento físico. Não posso impor uma forma de se exercitar que o paciente não gosta", completa.

Introdução alimentar. Segundo o psiquiatra da USP, uma criança obesa aos 4 anos de idade tem 20% de chance de ser um adulto obeso. Para evitar que isso ocorra, os hábitos alimentares saudáveis devem ser praticados desde a introdução alimentar, ou seja, a partir dos seis meses de vida.

É nessa fase que o bebê começa a consumir outros alimentos que completam o aleitamento materno. Mesmo que seja uma simples papinha, ela pode ser balanceada e rica em nutrientes. "Papinha é textura e consistência. Vai comer arroz, feijão, hortaliças, carne, mas com muito menos sal e amassado. Uma vez que faz para o bebê, faz para a casa inteira. Se já tem tudo em casa, só reduz o sal e oferece o mesmo para o bebê", explica a chefe Rita Lobo.

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O E+ já falou como uma introdução alimentar adequada pode prevenir doenças, obesidade e contribuir para o desenvolvimento do bebê, além de dicas de como preparar e armazenar papinhas. Confira aqui.

"[A fase da introdução alimentar] é a oportunidade de investir em uma geração que vai ter comportamentos alimentares mais saudáveis", diz Patrícia Jaime, nutricionista do Departamento de Nutrição da Faculdade de Medicina da USP.

"Nessa fase, a gente tem uma chance enorme de prevenção da obesidade, porque não é só a introdução alimentar do bebê, é a introdução na família de um conceito de alimentação saudável", completa Rita.

O painel completo sobre prevenção da obesidade pode ser conferido abaixo:

GALERIA: As dietas da moda são realmente eficazes?

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