Como evitar gastos excessivos com as crianças durante as férias escolares?

Trocar visitas aos shoppings centers por passeios e atividades não comerciais possui muitos benefícios no desenvolvimento das crianças

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Por Pedro Prata
Atualização:
Diversão nas férias: convite ao consumo? Foto: Mark Ralston/ AE

As férias escolares exigem energia e criatividade dos pais que precisam propor atividades divertidas e diferenciadas para as crianças. Contudo, é cada vez mais difícil encontrar passeios grátis ou de baixo custo, o que limita famílias de baixa renda ou com muitos filhos. Além disso, soluções fáceis como, por exemplo, os shopping centers possuem estímulos negativos para as crianças como incentivo ao consumismo e também a ingestão de fast food, que não faz bem para a saúde. De olho nisso, o E+ consultou especialistas para dar dicas sobre como passar tempo de qualidade com os filhos sem cair na armadilha do consumo.

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O Alana é uma organização da sociedade civil que procura mobilizar a sociedade para a defesa da infância. Entre seus principais campos de atuação está a conscientização sobre a exposição de crianças ao consumo. Isabella Henriques, diretora do instituto, aponta que as crianças são influenciadas pela mídia e pela propaganda a acreditar que precisam consumir para serem felizes e, muitas vezes, seus responsáveis se sentem na obrigação de atender aos anseios dos pequenos.

“A publicidade, além de incutir nas crianças o desejo de consumir um determinado produto ou serviço, também reforça a ideia equivocada de que, para ser um bom pai ou uma boa mãe, deve-se gratificar e agradar essa criança”, argumenta Isabella. Ela explica que menos exposição às 'telas' diminui os estímulos consumistas. Desse modo, os pais devem trocar tempo gasto em frente a aparelhos eletrônicos por passeios em parques e teatros, ou brincadeiras caseiras e momentos de leitura.

Isabella aconselha os pais a conversarem com os filhos sempre que eles expressarem o desejo de comprar algo, perguntando 'você realmente precisa disso?', e ensinando-os a lidar com a frustração de não ter tudo o que querem. “Além disso, é importante ensiná-las a serem consumidores conscientes, falando de onde as coisas vêm, quem as faz, do que são feitas e o que acontece quando são jogadas fora”, aponta.

Secretária do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a doutora Evelyn Eisenstein alerta que além da exposição ao consumismo, longas horas em frente às telas podem significar o abandono afetivo ou a substituição de um momento verdadeiro por algo artificial e sem significado. Ela ainda recomenda que o convívio é o melhor investimento para a família.

Quanto mais exposição às 'telas', maior é o estímulo ao consumismo Foto: J.F. Diorio/ Estadão

“Viajar, passear, visitar familiares distantes será uma aventura inesquecível, pois será a verdadeira troca humana de afeto e carinho e conhecer novos lugares como, por exemplo, fazendas com animais verdadeiros, flores, plantas, lagos, praias, etc. Isso é muito mais saudável do que acessar sites nas redes sociais à procura de aventuras artificiais”, explica.

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que o tempo em frente a telas de eletrônicos deve ser restringido antes dos dois anos de idade; crianças de dois a seis anos só devem ficar, no máximo, uma hora por dia; e dos seis aos dez, esse tempo pode ser ampliado para, no máximo, duas horas por dia, entrecortadas com atividades ao ar livre.

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Os shopping centers, apesar de serem um passeio familiar comum, podem incentivar maus hábitos como, por exemplo, o consumo de fast food. A sugestão é trocar esse passeio por uma visita a uma fazenda ou um sítio. Além de ser uma experiência diferente nas férias da criança, ainda a aproxima de uma alimentação mais saudável.

A presidente do Departamento Científico de Nutrologia da SBP, Virgínia Weffort, ressalta que a família deve evitar comer fora de casa e que convidar as crianças para ajudarem na preparação das refeições ajuda a despertar nelas o interesse pela boa alimentação. “As crianças ou adolescentes podem participar na escolha de receitas e até a fazer as preparações, ajudar nas decorações dos pratos para torná-los atraentes, chamar colegas ou primos para participar das atividades em casa”, sugere Weffort.

A dica que o Alana dá é levar os pequenos para passeios fora dos grandes centros de compras. Museus, planetários e pontos turísticos de sua cidade são ótimas opções para incentivar a descoberta de novos interesses pelas crianças. Piquenique no parque ou na praça é uma opção saudável, divertida e ainda por cima estimula a interação com amigos, vizinhos e familiares.

“As férias são para relaxar e aprofundar os sentimentos de alegria, de risadas e amor junto às pessoas mais queridas, além de aventuras de descobertas do mundo à volta ou de treinar novas habilidades como, por exemplo, andar de bicicleta ou aprender a nadar ou mesmo ver um pôr do sol juntos ou contar as estrelas do céu”, defende Evelyn Eisenstein.

As férias são uma boa época para desenvolver habilidades novas Foto: Werther Santana/ Estadão

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A ONG Alana ainda explica que tempo de qualidade para as crianças não necessariamente significa passeios que sempre têm algum custo para os responsáveis. Brincadeiras caseiras também rendem horas de diversão e quando os responsáveis se juntam com seus filhos para se divertir, os laços afetivos são reforçados.

A doutora Ana Márcia Guimarães Alves, membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP, enumera os benefícios das brincadeiras infantis para o desenvolvimento das crianças. Não só o lado intelectual é estimulado com todo o exercício de imaginação exigido, mas também o lado comunicacional é potencializado. “A socialização é outra área extremamente beneficiada pelas brincadeiras, pois as crianças externalizam suas emoções, frustrações e expectativas através das atitudes com o outro, usando a imaginação e aprendendo a controlar seus impulsos e desejos”, explica Ana Márcia.

Com o objetivo de gerar visão diferente perante o consumo para as crianças, a ONG Alana promove há cinco anos uma Feira de Troca de Brinquedos. É uma experiência que desenvolve não apenas o desapego dos pequenos, mas também a socialização, uma vez que eles precisam aprender a negociar.

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Se você gostou da ideia e pretende fazer uma feira de troca por sua conta, Isabella Henriques, do Alana, aconselha: “É importante que a troca aconteça entre elas [as crianças]. E essa é uma dica valiosa que o Alana dá a quem pretende organizar uma feira de trocas de brinquedos. Os adultos podem mediar as trocas, principalmente entre as crianças menores, mas a autonomia de escolha é fundamental”.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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