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Como a mudança de atitude se combinou com a redução de calorias

Pesquisadores afirmam que um maior conhecimento dos riscos da obesidade e uma discussão mais ampla desta evidência contribuíram para modificar a consciência da sociedade

Por Margot Sanger-Katz
Atualização:
Um maior conhecimento dos riscos da obesidade contribuíram para uma maior conscientização da sociedade Foto: Creative Commons/esigie

Há 15 anos, em julho de 2000, uma capa da revista Newsweek mostrou um menino acima do peso segurando um gigantesco cone de sorvete. "Para sempre gordo?" indagava a manchete.

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A capa contundente não foi a única. No início da década de 2000, a revista publicou uma série de matérias de capas sobre o tema da obesidade. A maioria delas de crianças.

Os Estados Unidos hesitavam a respeito do excesso de peso, mesmo quando os quilos se acumulavam. Então, houve um boom da cultura física, e por dezenas de anos instalou-se a loucura das dietas Mas no início dos anos 2000, alguma coisa mudou, segundo vários especialistas em saúde pública: Muitas pessoas começaram a ver a obesidade como uma crise episódica de sua saúde, e não como um problema pessoal. Esta mudança explica a surpreendente redução do consumo de calorias desde aproximadamente 2003, a primeira em dezenas de anos. A obesidade tornou-se um problema nacional - e não apenas um problema de saúde, mas também cultural e econômico.

Mais ou menos na mesma época, o consumo diário de calorias entre os americanos, que crescera por mais de vinte anos, chegou ao pico e começou a baixar. O declínio persistente das calorias, juntamente com um achatamento da taxa de obesidade, convenceu muitos pesquisadores de que algo estava mudando na alimentação dos americanos e, fundamentalmente, na sua visão do problema.

As transformações começaram com um crescente reconhecimento científico de que a obesidade era um problema que se agravava em todo o país - e que ao excesso de peso se relacionavam a problemas de saúde, como o diabetes Tipo 2, doenças cardíacas e câncer.

Entretanto, o reconhecimento destas consequências se deu muito lentamente no público ao longo dos últimos 15 anos, e ocorreu talvez mais rapidamente na opinião pública do que em nossos restaurantes e nas mesas das famílias. Agora, cerca de 95% das pessoas acreditam que é importante prevenir a obesidade, segundo uma pesquisa realizada pela Robert Wood Johnson Foundation. Mas ainda 35% dos americanos adultos são considerados obesos.

Não existe uma linha divisória nítida entre as advertências sobre a saúde e o comportamento do público. Mas muitos pesquisadores afirmam que um maior conhecimento dos riscos da obesidade e uma discussão mais ampla desta evidência contribuíram para modificar a consciência da sociedade. Os Centros de Controle de Moléstias, principal organismo de saúde pública do governo federal, começou a falar de uma epidemia, termo que faz pensar numa emergência de saúde. "De repente, vimos ao nosso redor a explosão de diabetes Tipo2, e as autoridades de saúde pública passaram a usar a expressão 'epidemia de obesidade' ", afirmou o dr. David Kessler, ex-comissário da Agência para a Alimentação e Medicamentos, e professor da Universidade da Califórnia, em San Francisco.

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O público seguiu o seu exemplo. Basta mencionar um fato muito simples: o aparecimento do termo "obesidade" no New York Times. A porcentagem de artigos que mencionavam esta palavra triplicou de 1998 a 2003. A expressão "epidemia de obesidade" apareceu pela primeira vez no jornal em 2002 e continua em circulação desde então. (Por outro lado, o termo "gordo" há muito é usado no Times.) A discussão sobre o diabetes, rara antes dos anos 70, aumentou dez vezes na virada do século.

Uma parcela crescente da população começou a responder nas pesquisas que queria perder peso. Numa sondagem da Gallup, o numero chegou a 60% em 2003, um aumento considerável em comparação com as décadas anteriores.

Mas muitos pesquisadores afirmam que a constatação cada vez maior de que a obesidade estava se espalhando rapidamente entre as crianças - assim como as doenças a ela relacionadas - contribuiu mais do que qualquer outra coisa como forma de pressão para uma mudança de atitude da população. As crianças raramente são responsáveis por sua dieta. E as evidências sugeriam que era mais fácil prevenir a obesidade entre as crianças do que o contrário.

Segundo Jim Marks, um vice-presidente executivo da Robert Wood Johnson Foundation, a crescente admissão da obesidade infantil - e todas aquelas capas de revistas de jovens acima do peso - realmente começou a chamar a atenção do público. "As pessoas se conscientizaram de que estava excessivamente difundida", ele disse. A fundação comprometeu-se a gastar US$ 1 bilhão em pesquisa e em campanhas sobre o risco da obesidade.

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Há dois anos, a American Medical Association classificou a obesidade como uma doença. A classificação não foi implantada sem controvérsias. Mas Nikhil Dhurandhar, professor de Nutrição da Texas Tech University e presidente da Sociedade para o Estudo da Obesidade, um grupo de pesquisadores sobre o tema, afirmou que a mudança foi o ápice de uma nova conscientização de que a obesidade é um distúrbio complexo com graves consequências para a saúde, e não apenas um problema de estética ou um sinal de vontade fraca.

"O foco agora está na questão da saúde, e não no aspecto cosmético", acrescentou.

Tradução de Anna Capovilla

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