Comer menos calorias aumenta células-tronco, diz estudo da USP

Estudo foi feito em camundongos e os pesquisadores ainda não sabem explicar como as calorias influenciam a expansão dessas células; segundo professora, menor consumo calórico pode ser benéfico à pele humana

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Por Felipe Saturnino
Atualização:
Roedores também apresentaram desenvolvimento de pelo especial. Foto: Meditations / Pixabay

Um estudo realizado por oito pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista científica norte-americana Cell Reports concluiu que restringir o consumo de calorias na dieta de camundongos preserva a saúde da pele desses animais ao aumentar sua quantidade de células-tronco. Além disso, a restrição induz o desenvolvimento de um pelo específico, chamado "guard", que diminui perdas de calor com o meio externo e ajuda a regular a temperatura do corpo.

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A pesquisa comparou camundongos submetidos à restrição calórica e de peso saudável a outros com obesidade leve. "Tentamos entender através de que mecanismos não ter sobrepeso garante um envelhecimento saudável e tempo de vida maior", conta Alicia Kowaltowski, uma das autoras do estudo e professora do Instituto de Química (IQ) da USP.

Os resultados apontaram que os animais que seguiram uma dieta mais enxuta em calorias sofreram expansão de 20% a 80% no número de suas células-tronco da pele e do pelo. "Isso é compatível com animais mais jovens, que têm maior número de células desse tipo", afirma.

"Os animais com peso saudável, quando chegam à meia idade, possuem uma pele parecida à de um animal jovem, espessa, enquanto os animais que têm sobrepeso ficam com a pele afinada, sinal de envelhecimento", explica ela.

Kowlatowski afirma, entretanto, que o grupo de cientistas ainda não possui justificativas para relacionar a inibição do consumo calórico ao crescimento, em número, das células-tronco. "É um dos nossos próximos objetivos", revela.

O artigo sugere também que o "guard", grosso e mais longo que outros pelos, é uma adaptação a um cenário em que a absorção de energia é mais limitada. Ele serve como um bom isolante térmico e ocorre cerca de duas vezes mais (de 6% a 8% do total dos pelos) nos camundongos que seguiram a dieta se comparado aos camundongos obesos.

O número de pelos por centímetro quadrado, por outro lado, é o mesmo para as duas categorias analisadas no experimento, pois não há alterações nos outros tipos de pelos que os camundongos possuem.

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Para ter uma ideia da importância de pelos para os camundongos submetidos à dieta, os pesquisadores, em uma determinada etapa do experimento, removeram os pelos de ambos os grupos de animais. Enquanto os camundongos que comiam o que queriam gastaram 24% de energia a mais do que com os pelos, os que ingeriam calorias de modo limitado perderam 40%.

Segundo Kowaltowski, não há quaisquer semelhanças entre o desenvolvimento e a evolução de pelos especiais de camundongos e os pelos humanos. "Já resolvemos esse problema [de conservar calor] com roupas", conta a professora. No entanto, ela prevê que reduzir o consumo de calorias possa ser benéfico também à saúde da pele humana, já que ela possui semelhança à de camundongos. Estudos nesse sentido, no entanto, ainda não confirmaram a hipótese.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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