Azoospermia pode ser uma das causas da infertilidade masculina

Eduardo Simonetti, que teve a doença, fez duas tentativas para que sua mulher conseguisse engravidar

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Por Anita Efraim
Atualização:
Eduardo e Angélica conseguiram engravidar de sua filha,Antonella, no início de 2012 Foto: Arquivo Pessoal

Quando um casal percebe que está com dificuldades para engravidar, o mais comum é ser a mulher a primeira a fazer exame. Ainda que, de acordo com Luiz Eduardo Albuquerque, ginecologista especialista em reprodução assistida, a causa da infertilidade tem 30% de chances de ser relacionada à mulher, 30% ao homem, 30% ao casal. Os outros 10% são esterilidade sem causa aparente. 

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Uma das causas da infertilidade masculina é a azoospermia, isto é, a ausência de espermatozoide no sêmen. "Existem dois tipos de azoospermia, a obstrutiva e a não obstrutiva", explica o médico, que é diretor clínico da Fertivitro. 

"A obstrutiva é gerada por um bloqueio do sistema de transporte do esperma, originado por vasectomia, anormalidades no epidídimo ou canais deferentes, pós-cirurgias ou obstruções congênitas. No caso da não obstrutiva, existe uma falha de produção de espermatozoides, devido a distúrbios hormonais, genéticos ou, ainda, danos no tecido testicular, seja traumático, cirúrgico ou infeccioso." 

De acordo com o médico, quase 100% dos homens com azoospermia obstrutiva produzem espermatozoides, o que torna o processo de fertilização assistida mais fácil. "Já nas azoospermias não obstrutivas temos que identificar a causa, pois dependendo de qual for ela, podemos ter uma alta porcentagem ou baixa porcentagem de acharmos espermatozoides nos testículos."

O caso de Eduardo Simonetti era o de azoospermia não obstrutiva. Ele a esposa, Angélica Bergantin, passaram quase três meses na tentativa de gerar seu primeiro filho. "Em uma das consultas dela, o médico perguntou se eu tinha tentado fazer um exame. Eu fiz, no começo eu achei meio estranho, mas fui procurar médicos", relembra Simonetti. No entanto, nas primeiras consultas com urologistas, recebeu poucas informações, o que o deixou desorientado. A ajuda veio quando se consultou com Luiz Eduardo. 

"Ele me conduziu para um urologista especializado, e aí as coisas começaram a clarear mais. Como era uma azoospermia não obstrutiva, sempre me explicaram que as chances eram muito baixas, sempre foram muito claros", diz. O processo do casal começou em 2011.

As causas para a azoospermia são diversas e podem estar relacionadas a vários fatores. "Como doença genética, infecções e inflamação nos testículos, testículos que não descem até o escroto, varicocele, hipotireoidismo, quimioterapia, alterações hormonais, agenesia congênita dos testículos, vasectomia ou devido a algum traumatismo no aparelho reprodutor masculino", explica o ginecologista. 

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Ele complementa e diz que ser fumante, usar drogas, consumir álcool excessivamente, levar uma vida estressante e utilizar hormônio masculino e anabolizantes também pode contribuir para o surgimento da doença. Entre os homens inférteis, 2% deles têm azoospermia.

A suspeita de Eduardo é que a azoospermia tenha sido causada por uma cirurgia que realizou na infância, mas até descobrir a possível motivação, foi difícil para ele entender a doença. "De inicio não foi fácil. Porque, pelo menos pra mim, a situação ficou bem complexa por não ter informação, não saber o motivo dessa situação, eu fiz também alguns exames para saber se era genético ou se foi algo físico que aconteceu durante a minha vida", afirma. Dessa forma, surgiu a ideia de que poderia ter sido a operação.

Para homens com azoospermia conseguirem ter filhos, há um processo que envolve as duas partes do casal. "O critério de seleção da técnica utilizada é baseado na história médica pregressa do paciente, gestações prévias, saúde geral e habilidade do casal em produzir os gametas necessários para o processo de fertilização", explica Luiz Eduardo. 

O ginecologista lista seis etapas: 

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O programa de fertilização assistida requer uma completa cooperação do casal em todas as suas fases, que compreende seis etapas principais: 1 - Desenvolvimento dos folículos pelo ovário 2 - Aspiração dos óvulos (Aspiração Folicular) 3 - Coleta do sêmen e processamento seminal, que no caso das azoospermia será feito uma Aspiração ou biópsia Testicular 4 - Inseminação e fertilização dos óvulos 5 - Desenvolvimento dos pré-embriões 6 - Transferência dos pré-embriões para o útero

Como Simonetti tinha azoospermia não obstrutiva, foi preciso ser persistente e, quando a primeira biópsia não deu certo, ele pensou em desistir. "Minha esposa foi a principal a querer engravidar e me incentivar bastante a fazer essa biópsia. Mas confesso que, depois da primeira que não foi um sucesso, eu não quis mais tentar. É um procedimento que não é doloroso, mas o pós da biopsia incomoda bastante", relata. 

Luiz Eduardo explica que as chances de o tratamento funcionar estão diretamente ligadas a causa da doença. "Os melhores resultados são nas azoospermias obstrutivas. Nas azoospermias não obstrutivas, em que encontramos espermatozoides na biópsia dos testículos, dependemos da taxa de fertilização dos oócitos e qualidade embrionária para aumentarmos ou diminuirmos as taxas de sucesso", diz o médico. 

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"Na média, nos casais em que a mulher se encontra com menos de 35 anos, os resultados variam entre 30% e 40% de gestação por tentativa, podendo chegar a mais de 50% nos casos das azoospermias obstrutivas", afirma. 

No início de 2012, depois da segunda tentativa, Angélica conseguiu engravidar e Simonetti incentiva que, quem tiver o mesmo problema que ele teve, tente fazer o tratamento. "Conheço pessoas que demoraram para conseguir resultado, mas sempre me disseram para não desistir. No final de 2011, quando minha esposa fez o procedimento dos embriões pela primeira vez e não deu certo, deixamos para o ano seguinte e, sem o estresse, deu certo." 

"Hoje nossa filha está com 3 anos e 7 meses, nasceu muito bem, está com saúde", diz o pai de Antonella.

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