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Ser mãe é padecer na internet

Opinião|Ser madrasta é padecer no paraíso

Atualização:

Hoje você completa 14 anos. Faz 9 que você entrou na minha vida, ou melhor, fui eu quem entrou na sua. Neles, você me fez descobrir que sou capaz de amar uma criança tão profundamente mesmo sem ela ter saído da minha barriga.E com você tudo sempre foi muito fácil. Doce e focado como todo capricorniano, nunca me deu trabalho. Nunca agiu como os enteados dos filmes da Disney que gritam para a madrasta "VOCÊ NÃO É A MINHA MAAÃE". Nunca.

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Lembrei hoje do nosso primeiro encontro em um parque de São Paulo. Seu pai estava um passeio típico de um homem recém-separado. Eu era a nova namorada e o nosso relacionamento era sério o suficiente para ele querer nos apresentar. Sentia medo de você, uma criança de 5 anos. Sentia pavor de não ser bem-vinda à sua vida. A partir daquele momento eu seria a madrasta, aquela intrusa que na sua cabecinha podia ser "aquela mulher que acabou com o casamento do meu pai e da minha mãe", mesmo isso não sendo verdade. Sua imaginação poderia envenenar nossa relação para sempre.

Mas você apareceu com um doce nas mãos, louco para se divertir e me recebeu com um abraço e um beijo. Nosso segundo encontro foi no Rio de Janeiro e você se lembrou de mim como "aquela moça que me deu bala." Depois eu me transformei na Rita. Nossos laços se estreitaram e passei a ser a Rita mulher do seu pai e mãe do seu irmão.

Com você e seu irmão aprendi como é legal ser mãe de menino, mesmo não sendo a mãe de vocês. Para ficarmos mais perto assisti a todas as animações que foram lançadas desde aquele dia. Revi todos os "Indiana Jones", os "Star Wars", revirei a cidade atrás de chocotone fora de época (e descobri que no Pão de Açúcar sempre tem), e me vi procurando pelas bancas da cidade figurinhas que estavam fora de linha, Legos difíceis de achar nas lojas de brinquedo, ingressos do São Paulo para jogos já esgotados. Com você exerci minha resiliência, minha tolerância, meu amor.

Hoje você já é um adolescente que me procura para falar da escola, da recuperação, do futebol. Às vezes me conta coisas antes mesmo de conversar com o seu pai. Você é o menino que não se importa em deixar seu quarto com TV e computador para dormir com seu irmão de 3 anos que tem medo de ficar sozinho. Você é o garoto que não se importa em ir contra a própria natureza e acordar cedo para tomar o café da manhã com a gente. E mesmo com vários canais de filme à disposição, não se importa em assistir ao mesmo DVD infinitas vezes só porque o Samuca pediu. E por essas e por outras se tornou o ídolo do meu filho, seu irmão.

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Depois de buscar na memória todos os nossos momentos juntos descobri o que já sabia: o aniversário é seu, mas o presente, você, fui eu que ganhei. Seja feliz, Rapha. Te amo, Rita. (A mulher do seu pai. A mãe do seu irmão. Sua madrasta querida.)

Opinião por ritalisauskas
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