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Opinião|Menino encontra doador de medula óssea, mas plano de saúde não autoriza transplante

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Atualização:

Apelo feito no Facebook pelo menino Caio, 8 anos  Foto: Estadão

Atualizad0 às 12:06 do dia 11/02

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Depois de sete meses de campanha procurando um doador de medula óssea a família de Caio Szerszen de Souza, 8, respirava aliviada desde dezembro do ano passado. O menino, que sofre de DGC, Doença Granulomatosa Crônica, finalmente tinha encontrado fora do Brasil, graças aos Registros Internacionais de Doadores de Medula Óssea, alguém 100% compatível. O transplante de medula é o tratamento mais indicado para muitos pacientes que sofrem com a DGC. Caio tem infecções constantes, foi internado várias vezes com pneumonia e, ano passado, perdeu parte do pulmão esquerdo por causa da doença. "Quando recebi o telefonema com a notícia de que alguém compatível tinha sido encontrado me sentei no sofá e comecei a chorar", conta a mãe de Caio, a professora Márcia Szerzsen. Na sequência, mais boas-novas: a mulher tinha feito exames, estava com boa saúde e tinha aceitado doar a medula para Caio.

Caio em sessão de fisioterapia. Ano o passado o menino retirou o lóbulo superior do pulmão esquerdo  Foto: Estadão

Mas a Bradesco Saúde, Plano de Saúde do menino, ainda não autorizou o procedimento, o que preocupa a família. Os pais de Caio conseguiram ser atendidos presencialmente pela operadora na cidade onde moram, Florianópolis, dia 22 de janeiro, e foram orientados a prosseguir com o pedido de liberação do transplante por e-mail. Segundo o pai do menino, Sandro Oliveira de Souza, três contatos foram feitos desde o dia 27, mas as respostas do convênio vieram com o pedido de mais exames e mais laudos. "No nosso terceiro envio de documentos, sábado (06/02), fizemos uma compilação de todos os exames que o Caio já fez nesse período de pré-transplante de medula. Não tivemos retorno, embora tenhamos destacado que o caso é de urgência e emergência e, por isso, a resposta teria de ser dada em 24 horas", explica a advogada da família, Karin Fadel. Hoje, 10/02, Fadel recebeu um novo e-mail do plano reiterando que a documentação estaria incompleta. "Entendo que é uma negativa por via indireta. O plano não diz com todas as letras que não irá cobrir, mas ele repete, pela terceira vez, que faltam documentos. Eles pedem laudos de imagem, mas já explicamos que a doença do Caio é diagnosticada por exames de sangue", explica a advogada da família. Ela afirma ainda que, dessa forma, o plano não se compromete na justiça. "O seguro saúde não vai admitir que não assumiu sua obrigação e sim que o beneficiário que não atendeu às solicitações que ele fez", completa

O Hematologista Pediátrico do Serviço de Transplantes de Medula Óssea do Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba, onde o transplante será realizado, enviou à operadora um relatório detalhado da doença e do estado de saúde do menino. "A Doença Granulomatosa Crônica causa infecções de repetição na criança. Há risco de uma infecção grave com complicações e risco de morte do Caio", afirma Dr. Lisandro Lima Ribeiro. "O tratamento ideal é o transplante, que daria um novo Sistema Imunológico ao menino.", completa.Um outro risco da espera se prolongar, segundo o médico, é a doadora, que mora na Europa, mudar de ideia. "Sempre há risco dela desistir se houver mudanças de datas sem uma razão coerente", afirma.

Caio e Hematologista Pediátrico, Dr. Lisandro Ribeiro. "Existe o perigo do estado de saúde do Caio se agravar, ou da doadora de medula desistir"  Foto: Estadão

A advogada da família se prepara para pedir uma liminar na justiça caso o plano de saúde não se manifeste positivamente ainda nesta semana. "Temos uma criança de 8 anos, portadora de seguro saúde e com risco de vida elevado que precisa que esse transplante aconteça o mais rapidamente possível", afirma Fadel.

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Caio está na casa da avó no interior do Rio Grande do Sul, em isolamento. Ele só pode sair de casa de máscara e, por sentir vergonha, não vai mais a rua. Durante o Carnaval o menino fez um apelo pelo Facebook na página criada pela família e amigos na época da campanha de busca do doador de medula óssea:"Bradesco Saúde, Libera meu Transplante". Em solidariedade, amigos e familiares de Caio trocam suas fotos do perfil por imagens do menino.

A operadora se manifestou por meio de nota, transcrita a seguir na íntegra:

"A Bradesco Saúde esclarece não ter recebido, até o momento, nenhum pedido de autorização prévia, por parte de instituição hospitalar de sua rede referenciada, de transplante de medula óssea para o segurado Caio Szerszen de Souza. Recebeu, antecipadamente, solicitação, por parte da família do segurado, de estimativa prévia de cálculo de reembolso de honorários médicos para o referido procedimento. Para fornecer a estimativa prévia de reembolso requerida, a Bradesco Saúde pediu formalmente à família relatórios médicos complementares, ainda não fornecidos à empresa. A Bradesco Saúde informa, também, ter contatado a família para reforçar esses esclarecimentos."

 O custo do transplante e dos primeiros 100 dias de tratamento de Caio está estimado em 100 mil dólares, cerca de 400 mil reais. Poucos centros de saúde fazem esse tipo de procedimento no Brasil.

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Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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