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Ser mãe é padecer na internet

Opinião|Educando nossas filhas para que sejam como a Maísa

Como só tenho meninos, educo para que não se transformem em assediadores, como Dudu Camargo

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Foto: Reprodução Instagram

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Faz quase duas semanas que Maísa Silva, 15, que ficou conhecida como "a menina Maísa" por ter começado a carreira de apresentadora de tv ainda pequena, com 4 ou 5 anos, não sai do noticiário ao não aceitar ser tratada como objeto e nem ser assediada em rede nacional em um programa de TV por seu colega de emissora, Dudu Camargo, 19 anos.

Sílvio Santos, conhecido por não ter papas na língua, por brincadeiras constrangedoras, machistas, homofóbicas e gordofóbicas e perdoado pela opinião pública sempre em nome sabe-se lá do quê, sugeriu, durante a gravação de um programa, que Maísa e Dudu namorassem. Ela não aceitou o "convite" e disse que estava no programa de Sílvio "para jogar e não namorar". "Pelo amor de Deus. Isso é um ultraje, isso é constrangedor você me submeter a uma situação dessas", disse. Falou também que o colega, que se animou com a "brincadeirinha" do patrão e decidiu dançar de forma constrangedora para ela, em volta dela, quase se esfregando nela,era "fake, empostado" e que o público, em vez disso, gosta "de pessoas reais".  O apresentador de telejornal que é maior de idade (sim, apresentador de telejornal!) então convidou a menina, menor de idade, para "dormir com ele" e conferir se "também era engessado" fora da tv. Trocando em miúdos, Maísa foi convidada pelo colega de trabalho mais velho, em frente às câmeras, para uma noite de sexo. Esse "convite" foi cortado e não exibido na versão do programa que foi ao ar. Menos mal.

As redes vieram abaixo. Mas, pasme. Maísa foi criticada, inclusive por mulheres que com certeza já passaram por algo semelhante no ambiente de trabalho, que mulher nunca passou por isso? "O que custa um selinho?", era "só uma brincadeira!", "essa daí não sabe brincar!" e por aí vai. Teve de se defender publicamente. Por que raios uma mulher ainda tem que se defender por não aceitar ser assediada? (Sim, foi assédio).

"Vivemos em uma sociedade onde a mulher muitas vezes não tem voz e precisa lutar com situações constrangedoras e brincadeirinhas todos os dias. Quando uma menina de 15 anos não aceita qualquer brincadeira ou comentário, e se posiciona, causa espanto. E muita gente se sente no lugar de tentar repreender tal atitude como se me conhecessem, ou se fossem meus pais", disse, em um comunicado publicado nas redes. "Com certeza, uma parcela dos telespectadores, gostariam que eu aceitasse tudo o que aconteceu no programa, como dançar com um rapaz mais velho (mesmo eu NÃO querendo), ou beijá-lo. Estamos aqui para trazer reflexão: até quando as mulheres vão viver precisando aceitar tudo? Não, é não! Recebi muitas mensagens de apoio, pelo posicionamento e por não aceitar tudo em nome do entretenimento", completou. Receba esse texto como mais uma mensagem de apoio, querida.

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Palmas para Maísa que, com apenas 15 anos, reconhece com clareza que tal comportamento é inaceitável e pode, SIM, dizer não ao assédio de um colega de trabalho. Palmas para os pais de Maísa que, aposto, foram quem ensinaram a menina desde pequena que as mulheres não podem ser violadas dessa forma. O corpo delas não foi feito para agradar os homens. Roupa curta não é convite. E não é não.

Mas o mercado de trabalho é muito cruel com a gente. Quantas de nós têm de encarar nossos assediadores no ambiente de trabalho, em reuniões, eventos, "engolir o choro", sermos "profissionais" para interagir com quem nos humilhou como se nada tivesse acontecido? Não foi diferente com Maísa. O colunista Flávio Ricco publicou que a menina teve de voltar ao programa do patrão para mais uma rodada de humilhação e assédio de Dudu Camargo. E saiu do palco chorando. Como nós, que muitas vezes nos trancamos no banheiro, humilhadas, aos prantos, para tentar nos recuperar ao sermos assediadas em looping por colegas de trabalho que insistem que tudo não passa de uma brincadeira, você não tem senso de humor não? Tá de TPM?

Ainda estamos longe de um mundo sem assédio, mas Maísa ajudou a mostrar que esse comportamento não será mais tolerado, que machistas não passarão. Se eu tiver uma menina, que seja como Maísa. Só tenho meninos em casa mas garanto a minha parte. Todos estão sendo educados para respeitar as mulheres e não vão se transformar em um bobalhão assediador como esse Dudu Camargo. Prometo.

Leia mais: Parem de tocar Anitta nas festas de criança. Apenas parem 

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Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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