A coisa que eu sempre quis é que meu filho se tornasse uma pessoa boa. Fosse honesto, tivesse caráter e bom coração. Desde pequeno ensino que a gente não pode fazer com os outros o que não queremos que façam com a gente. Esse é meu lema de vida e embora seja simples e clichê, sempre acreditei que se levado à risca, pode tornar o mundo um lugar legal de viver.
Não quer que te batam, não bata.
Quer que dividam os brinquedos com você, empreste os seus.
Quer que o mundo seja gentil com você? Seja gentil com o mundo.
Primeira reunião individual do Samuca na escola este ano. Por uma coincidência incrível de horários, eu e o marido estamos livres e podemos ir juntos. Um não vai precisar contar para o outro o que a professora falou e nem fazer anotações (peço isso quando é ele quem vai já que é extremamente lacônico ao me dar feedback e eu a-do-ro de-ta-lhes). A professora elogia várias coisas do nosso filho: boa dicção, ótimo argumentador, boa cultura geral, muito educado. Em contrapartida é meio inseguro para novos desafios porque tem medo de falhar em público (Será que cobramos ele demais? - entreolhamo-nos). Tem bom coração (eba!) e se magoa quando as pessoas não são tão gentis e atenciosas como ele (ops). "Precisamos fortalecer o Samuel", disse a professora.Depois disse que ele respeita muito a fraqueza do outro e por isso fica frágil aos olhos das outras crianças. Ela dá como exemplo um menino da escola (sobre quem eu conversei com o Samuca e pedi paciência na primeira vez que ele me contou que não gostava do menino). Enquanto as outras crianças não têm muita paciência com esse guri o Samuca é tolerante demais (a meu pedido, gente!) e por isso é com o Samuca que o menino implica, já que ele não reage. Sacou? Quando a professora foi questionar o Samuca do porquê ele não mostrar ao menino o seu descontentamento ele deu todos os argumentos que eu apresentei a ele: "Ele não sabe falar ainda e por isso fica nervoso, prô! A gente tem que ter paciência com ele!". E a professora contra-argumentou: "Mas isso não dá o direito dele te perturbar". Sacou, parte 2? Você acha que fez o bem para o seu filho ao torná-lo uma "pessoa tolerante", mas na verdade não o fez. "O mundo se aproveita de pessoas como o Samuca", sentenciou a professora. Soco no estômago.
Lição de casa para mim e para o marido: Mostrar ao Samuca que ele pode reagir, sim. E que há várias formas de reagir sem bater. Dois dias de conversa, a professora vem me contar como ele mudou. Ao ser incomodado ontem, mandou essa: "Se você não parar com isso vou mostrar como eu sou ruim quando fico nervoso!" O menino parou. Foi uma coisa meio "O Incrível Hulk", mas ok. Lição aprendida: Temos que preparar nossos filhos para o mundo. Não abrir mão dos nossos princípios, mas lembrar todos os dias que grande parte do mundo talvez não compartilhe deles.