Desde Medeia, peça de teatro de Eurípides, escrita em 431 a.C. (sim, antes de Cristo), a vingança feminina toma forma e assombra nosso imaginário coletivo. Na tragédia grega, Medeia mata os próprios filhos para se vingar do marido, Jasão, que a traiu e trocou por outra mulher mais jovem e rica, a princesa de Corinto. Frutos desse mito parecem se repetir continuamente em inúmeras releituras nas artes. Desde Pasolini, passando por Chico Buarque e Paulo Pontes, até as novelas. Tem sempre o núcleo da vingança. A Nina, de Avenida Brasil, conquistou o País ao nacionalizar sua vingança, chamada por ela de "justiça".
Na música poderíamos falar de muitas composições à la dor de cotovelo, como Vingança, de Lupicínio Rodrigues, mas prefiro sempre escolher o Chico-adorado-Buarque, melhor entendedor da alma feminina. Na maravilhosa Atrás da Porta, descreveu a dor de uma mulher rejeitada: "Dei pra maldizer o nosso lar/ Pra sujar teu nome, te humilhar/ E me vingar a qualquer preço/ Te adorando pelo avesso/ só pra mostrar qu'inda sou tua/ Até provar qu'inda sou tua". Ou na música Palavra de Mulher, que narra a ameaça de uma inconformada: "Vou chegar/ A qualquer hora ao meu lugar/ E se uma outra pretendia um dia te roubar/ Dispensa essa vadia/ vou voltar".
Faço uma pausa para uma provocação. Seria toda vingança feminina um "adorar pelo avesso", como disse Chico? Porque chama a atenção o número de pessoas que incentivam e apoiam a manifestação desse sentimento. Até na internet ele tem um ibope alto. Uma página do Facebook intitulada "Vingança Feminina" tem mais de 53 mil fãs. E, afinal de contas, o que elas postam? Nada mais do que charges, frases e montagens de fotos, algumas bem-humoradas, que incitam a prática da agressividade de mulheres machucadas contra os homens.
Veja alguns exemplos:
Existe um velho proverbio chinês que diz: "Antes de se vingar, prepare duas covas, pois a vingança maltrata muito os dois lados". É só olhar o que aconteceu com Mia Farrow e Woody Allen.
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