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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Um domingo qualquer

O domingo não tem preconceito: aceita a preguiça de braços abertos. É o dia do sono, da leitura do jornal, do ócio. Do bacalhau da avó, de suco de tangerina, de siesta. É dia de aproveitar os sobrinhos. E é, acima de tudo, o dia do sofá. Convenhamos, o sofá é o melhor amigo do domingo. Ele abraça, acolhe, agrega. Começa na hora do almoço e só termina com o cair da noitinha.

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Por Marilia Neustein
Atualização:

Quando eu era adolescente, detestava os domingos. Em especial, os fins de tarde dos domingos. A razão não era porque a segunda-feira se aproximava e eu teria de me preparar para a escola. O que não gostava era de lidar com a desaceleração. Diminuir a marcha, entrar em casa e ter de ir me preparando para "o fim do final de semana". Porque, se pararmos para pensar, o domingo é um pequeno divórcio na semana. Apesar de ser oficialmente o começo, em nosso inconsciente coletivo é um fim. Além do que, depois de curtir a folga, a balada e o descanso... os programas de televisão me deprimiam, dando espaço para uma melancolia gratuita que só ia embora no decorrer da semana.

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Com a idade, isso mudou. Parece até que o domingo é um dia feito só para os grandes. Aquela melancolia da adolescência se dissolveu completamente com a idade adulta. As ruas vazias e aquele ventinho de silêncio deram espaço para uma grande música gostosa. A música de domingo. Cheia de graça, essa tal domingueira. As manhãs, com suas bicicletas e seus cachorros. Almoços de família. Caipirinha com os amigos nos bares. Jogos de futebol. E "o fim", de repente, tira essa tristeza estranha e inexplicável do caminho, dando espaço para um maravilhoso sentimento chamado calma. O fim do domingo é, para muitos, o momento de se preparar para a semana que começa. Devagarinho, mexer na geladeira, ver o que falta. Pensar na roupa de segunda-feira. Pegar um cineminha no final do dia, navegar sem objetivo na internet. Ler mais do que um capítulo de um livro. São coisas que, com muita sorte, acalmam. E calma é um sentimento bom,redondo, lunar. Domingo é isso. Não é o dia de decidir, de resolver, mas de desfrutar. O domingo não tem preconceito: aceita a preguiça de braços abertos. É o dia do sono, da leitura do jornal, do ócio. Do bacalhau da avó, de suco de tangerina, de siesta. É dia de aproveitar os sobrinhos. E é, acima de tudo, o dia do sofá. Convenhamos, o sofá é o melhor amigo do domingo. Ele abraça, acolhe, agrega. Começa na hora do almoço e só termina com o cair da noitinha.

Okay, sabemos que nem tudo é uma musiquinha suave. Lógico que, no fim do dia, muita gente tem de planejar coisas chatas, olhar a agenda, fazer cara feia para os compromissos, mas também - fazendo a pessoa que está de bem com a vida - é a chance de começar uma semana com o pé direito. E, no meio de tudo isso, ver, sem culpa, um pouco de bobagem na televisão.

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