É verdade que esse lugar de caçula é confortável e sempre argumentei algo - a meu favor - que acredito piamente até hoje: quem recebe muito amor aprende a dar amor. Essa é a minha religião. Somos mimados, mas sabemos como mimar os outros.
Isso vale também para o lugar de filha. Ser filha é uma das melhores coisas da vida. Lemos textos todos os dias diversos blogs de maternidade discorrendo sobre as dores e as delícias de ser mãe, de tornar-se mãe. Mas, ser filha também pode ser uma condição doce. Poder estar perto dos pais, conviver com eles, dar e receber afagos. Aprender com a experiência, com os erros, com os olhares. Aqueles olhares de mãe e pai. E com infinitas conversas. Conversas sobre medos, expectativas, frustrações. Ser filha é um grande exercício de afeto.
Tenho um enorme sentimento de gratidão, não apenas por tudo que eles me proporcionaram como pais, mas também por terem me criado uma pessoa inteira. Que bate de frente com seus defeitos todos os dias. Que fica mal-humorada quando sente frio, fome e sono. Mas que acorda feliz e sabe que o dia de amanhã está aí para curar qualquer incômodo. Ainda bem. Todas as conversas surtem efeitos até hoje.
E por quê falar sobre tudo isso agora? Porque há alguns dias tenho sentido uma pessoa mexer dentro da minha barriga. E eu - essa pessoa criada pelos meus pais - e meu marido vamos enfrentar o desafio de ajudar outro serzinho a se constituir como pessoa.
E, se eu tivermos um décimo da sabedoria e da sensibilidade que eles tiveram, acho que seremos razoavelmente bem sucedidos. Conversando tudo de novo. Só que agora do outro lado.
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