No entanto, se tem algo que foge à compreensão são algumas contradições. Sim, eu sei. Ninguém é totalmente linear. Às vezes acreditamos em algo, vestimos a camisa e, com o passar do tempo, mudamos de opinião. Ninguém é obrigado a ser escravo de convicções para o resto da vida. Tudo é mutante. Mas não é dessa capacidade de mudança que eu falo. Não é de transformação. Eu falo de um tipo específico de fragilidade de caráter.
Pode ser impressão minha ou até ingenuidade, mas acredito que esse tipo está cada vez mais comum por aí. E existem milhares de situações que descrevem a essência dessa turma. É o cara que se diz humanista e faz bullying no colega. Amigas que usam termos feministas e maltratam outras mulheres na primeira situação na qual se sentem ameaçadas. Ou aquele que acha legal o legado do Nelson Mandela e maltrata pessoas com discurso bélico. Competidores desleais. Gente que enche a boca para falar de ética e falsifica, passa a perna, humilha. Pessoa que se diz contra o assédio mas louva quem o faz. Quem destrata os mais fracos. Quem abusa da culpa alheia. Quem identifica o ponto fraco e faz uso da clássica 'colocar o dedo na ferida'. Quem faz grupinho e exclui os outros. Quem fala em plantar 800 árvores para ter um ar limpo e não responde a um simples 'bom dia'. Quem é contra as guerras (todas) e 'rosna' para os outros gratuitamente. Quem é legal e simpático por interesse.
Essas pessoas, sinto muito, não podem falar de valores universais. Ninguém que joga com o mais fraco, que chuta cachorro morto, que não olha de igual para igual - quem quer que seja -deve usar em vão palavras como empatia, sororidade, humanismo. Essas palavras são para quem as honra de verdade. Não precisa ser perfeito, é claro. Existem situações conflituosas e ninguém só distribui por aí amor, solidariedade, amizade.Mas é preciso pensar e tratar as nossas incoerências. Não adianta assistir um Ted Talk cheio de palavras bonitas e achar que é uma pessoa melhor.
E talvez o maior dos grandes desafios seja perceber esses buracos nos nossos próprios discursos. E não apenas no do outro.A palavra que cai bem aqui é honestidade. É preciso ser honesto com aquilo que acredita e colocar isso em prática com verdade. Não apenas vociferar nas redes sociais. A vida de verdade é aqui, agora e lá fora.
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